Lula e a luta por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU
Editorial – 11/5/2010
O cientista político norte-americano Joseph Nye saiu pela tangente quando foi perguntado, no programa Roda Viva, da TV Cultura, dia 10, sobre os obstáculos contra a pretensão brasileira de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. O problema, disse ele, é o ciúme dos países vizinhos, como a Argentina, que ele citou nominalmente.
Editorial – 11/5/2010
O cientista político norte-americano Joseph Nye saiu pela tangente quando foi perguntado, no programa Roda Viva, da TV Cultura, dia 10, sobre os obstáculos contra a pretensão brasileira de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. O problema, disse ele, é o ciúme dos países vizinhos, como a Argentina, que ele citou nominalmente.
Nye podia ter sido mais franco e citado outros problemas, como a posição do governo dos EUA – que é decisiva numa escolha como esta. Ou ter se referido à resistência que aquela pretensão enfrenta, principalmente por parte do conservadorismo tucano, no próprio Brasil.
A viagem internacional que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia dia 13, para cinco países, em três continentes (Rússia, Senegal, Irã, Portugal e Espanha – na Europa, África e Ásia) representa, contra o espírito retrógrado da oposição tucana e neoliberal, a reafirmação não só daquela pretensão mas principalmente da qualificação do Brasil para ocupar aquele posto.
A pauta será extensa e inclui questões que vão desde o programa nuclear do Irã (que Lula vai abordar com o presidente Mahmoud Ahmadinejad), conversas entre o Mercosul e a União Europeia, a questão hondurenha – e também a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aumentando o número de membros permanentes de cinco para 10, entre eles o Brasil (tema que Lula vai tratar com o presidente russo, Dmitri Medvedev, cujo apoio vai solicitar).
No Irã, Lula vai defender o direito soberano à pesquisa nuclear para fins pacíficos e colocar-se como um mediador entre as pretensões do governo de Teerã a seu programa nuclear pacífico e a pressão das grandes potências, lideradas pelos EUA, para enquadrar aquele programa e submetê-lo à bisbilhotagem imperialista.
É um cenário onde o Itamaraty tem se movimentado com desenvoltura desde que se apresentou de forma mais ampla como um negociador viável para o conflito no Oriente Médio, na última visita de Lula à região, em março. Na Espanha, o presidente brasileiro será uma das estrelas da 6ª Cúpula América Latina, Caribe e União Européia, que vai reunir 60 chefes de Estado destas regiões.
O novo protagonismo alcançado pelo Brasil corresponde, em primeiro lugar, à retomada – desde 2003 – da soberania nacional na política externa, ligada apenas aos interesses de nosso país e nosso povo e que, assim, afastou-se do costumeiro e automático alinhamento submisso às imposições do governo de Washington. Daí a oposição que ela enfrenta entre os setores neoliberais da política, da imprensa e mesmo da diplomacia brasileira.
Corresponde ainda à importância econômica que o país alcançou nos últimos oito anos, também derivada da recuperação da autonomia sobre decisões cruciais para uma política econômica soberana. Protagonismo que levou o país a outro estrelato, o econômico, sendo peça fundamental do grupo apelidado de BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) que, hoje, representa 16% do PIB mundial, abrange 42% da população do planeta, do qual detém 26% do território.
Este crescente reconhecimento da importância internacional do Brasil é o fundamento da reivindicação de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Não se trata de uma ambição deste governo: ela é da nação e esteve presente mesmo sob Fernando Henrique Cardoso, embora sem o brilho que adquiriu sob Lula. A diferença é fundamental – com FHC a pretensão brasileira podia ser vista como uma espécie de capricho do presidente da República. Não era. Mas a submissão às grandes potências e aos EUA empanava aquele brilho. Foi sob FHC, e isto tem um simbolismo crucial, que o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Lafer, humilhou-se, e ao povo brasileiro, submetendo-se a uma revista policial na qual aceitou tirar os sapatos no aeroporto de Washington embora tenha ido para lá em missão oficial.
Sob Lula, o Brasil retomou sua soberania e autonomia e sua qualificação para a presença permanente no CSN ficou mais visível, reconhecida e fortalecida, apesar da oposição de diplomatas, jornalistas e políticos brasileiros, conservadores e neoliberais, à política externa liderada pelo chanceler Celso Amorim. Eles reiteram velhos, vazios e vãos argumentos contra a atual política externa e querem a volta do alinhamento automático com as potências imperialistas. O périplo de Lula na semana entre os dias 13 e 20 contraria estas alegações acanhadas e recoloca o país em posição de igualdade perante seus parceiros estrangeiros – e isto é decisivo para conquistar a pretendida vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.