Acadêmicos, gestores públicos, cientistas políticos e representantes de movimentos sociais apontaram os principais entraves e alternativas para o desenvolvimento da região com respeito aos povos e ao meio ambiente

O seminário Internacional “A integração sul-americana e os desafios políticos e sócio-ambientais da Pan-Amazônia”, organizado pelas Fundações Perseu Abramo e Fundação Friedrich Ebert e pelo Partido dos Trabalhadores, foi montado em quatro importantes eixos temáticos: desenvolvimento e meio ambiente; conflitos fundiários e a questão do trabalho, a integração infraestrutural na América Latina e com os demais continentes; Institucionalidade, geopolítica e segurança na Pan-Amazônia. A rodada de debates foi realizada em Belém do Pará, entre os dias 14 e 15 de abril. 

Seminário Pan-Amazônia: Desenvolvimento e meio ambiente 1

Javier Diez Canseco (Peru), Cassio França (FES), João Capiberibe, ex-governador do Amapá  e Andrea Urioste  (Bolívia)

O primeiro debate – Desenvolvimento e meio ambiente – teve como expositores João Capiberibe, ex -governador do Amapá, Javier Diez Canseco, analista político do Peru e Andrea Urioste, professora e pesquisadora independente em Política e Gestão Ambiental, da Bolívia. Como comentaristas participaram Miguel Angel Núñez, professor-pesquisador da Universidad Simon Rodriguez, da Venezuela, Maria Consuelo Ahumada, cientista política, da Colômbia, e Manuel Salgado Tamayo, professor da Universidad Central del Ecuador, Equador.

O ex-governador do Amapá, João Capiberibe, destacou que durante sua gestão governamental se baseou nas diretrizes da Agenda 21, levando em consideração a necessidade de se romper com a atual estrutura econômica e implantar um novo modelo de conhecimento. Nesse sentido, ele lembrou de alguns ensaios de novas linhas econômicas para um adequado aproveitamento da biodiversidade, uma vez que “nós destruímos a floresta sem conhecer as suas possibilidades”. Capiberibe ressaltou que o açaí é um produto amazônico do qual antes se tinha pouco conhecimento científico e atualmente tem reconhecimento e valor internacional. “Mas para isso foram necessários investimentos como, por exemplo, no controle sanitário, até porque vinha de uma produção essencialmente marginal”, disse o ex-governador. Na opinião dele, para as atuais áreas degradadas devem ser apresentadas alternativas de políticas de desenvolvimento sustentável. Comentou ainda que ainda existe um “apartheid” entre a ciência e a política e é urgente a necessidade de mudança para que as decisões políticas sejam acertadas.

O analista político peruano Javier Canseco fez críticas ao projeto de desenvolvimento do presidente Alan Garcia chamado de “Síndrome do Cachorro Louco”, pois não foi objeto de debates com as comunidades, com a sociedade organizada daquele país. Segundo ele, esse projeto apresenta inúmeros equívocos, porque “obedece ao grande capitalismo, ao projeto neoliberal de Alan Garcia e Alberto Fujimori”. Com as proposições desse projeto, na opinião do cientista político, ocorrerão repercussões sociais e ambientais negativas para o Peru e também a toda Amazônia. “O impacto afetaria, destruiria uma grande parte do território da Amazônia”. No citado projeto prevê-se a construção de hidrelétricas, exploração petrolífera, de ferrovias e hidrovias e isso, para Canseco, se traduziria em “um problema crítico”, tais como a disseminação de doenças entre as populações indígenas, entre outros povos nativos, o aumento do trabalho escravo, além da insegurança, a deliquencia. “É preciso o reconhecimento do Peru como um país plurinacional, pluriétnico cultural. É preciso reconhecer a diversidade”. Ele fez questão de destacar que é recente o estreitamento das relações entre Peru e Brasil e que é preciso aprofundá-las.

Andrea Urioste, pesquisadora independente em Política e Gestão ambiental da Bolívia defendeu a necessidade de uma agenda climática para as próximas décadas, levando em consideração o fracasso das políticas apresentadas durante a reunião da cúpula de Copenhague. A título de comparação, relatou que os valores que foram repassados para salvar grandes bancos deveriam ser encaminhados para o meio ambiente: “A era da compensação pode ser uma demanda histórica de compensação da dívida climática”. Para a pesquisadora, ao analisar a economia boliviana, conclui-se que é preciso ampliar o setor agrícola valorizando água, terra e trabalho, além de, no âmbito trabalhista, reconhecer as formas tradicionais e também a revalorização da floresta. “Temos que fazer uma reflexão pan-americana sobre as maiores taxas de desmatamento e nos obrigar a proteger o futuro e mudar isso”, concluiu.

O professor venezuelano Miguel Núñes teceu comentário sobre a inserção dos povos da floresta nos modelos de desenvolvimento. Segundo ele, “não podemos tratar de um modelo se não incorporarmos o tema da complexidade, das novas relações sociais. Não podemos aceitar mais os modelos alienantes que as ditaduras nos impuseram”. Na opinião da cientista política Maria Consuelo Ahumada, da Colômbia, deve-se aproveitar os governos progressistas para se colocar a serviço de um novo desenvolvimento e de uma alternativa econômica para a humanidade, tendo como referência o fato de toda a Amazônia ter um enorme território dentro da América do Sul.

O professor equatoriano Manuel Tamayo defendeu, por exemplo, a importância da diversidade da flora e fauna amazônica. “Temos que combater a destruição da Amazônia para a preservação do planeta para gerações, a partir dos conhecimentos tecnológicos, científicos, de um outro modelo energético. Esse ideal de integração é muito antigo”, constatou Tamayo.

 

Por Maristela Lopes