No próximo dia 7 de dezembro, em Montevidéu, será realizada a Cúpula Sindical do Cone Sul com a presença de 300 dirigentes de 13 centrais da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Organizado pela Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) o evento acontecerá na mesma data em que os presidentes dos países que integram o Mercosul se encontrarão na capital uruguaia. A expectativa é que já a partir do próximo encontro se incorporem os venezuelanos, cuja entrada no bloco está sendo aprovada nestes dias pelo Congresso brasileiro.

Na agenda dos sindicalistas, o fortalecimento do processo de integração solidário e soberano, com a afirmação de um modelo de desenvolvimento inclusivo que gere empregos decentes, distribua renda, garanta direitos e amplie conquistas. Este projeto, evidentemente, não tem como se consolidar sem a presença de um Estado indutor, sem priorizar a atuação de empresas nacionais fortes, particularmente as pequenas e médias, sabidamente as que mais geram postos de trabalho.

Para a materialização destas bandeiras de luta, é preciso elevar o protagonismo da classe trabalhadora, ampliando as mobilizações conjuntas e elevando a pressão desde a base, ao lado dos movimentos sociais, em cada um dos países. Está claro que nossa força reside na união, que é ela quem potencializa a nossa capacidade para remover obstáculos e seguir em frente, rompendo a lógica de uma integração quase que exclusivamente aduaneira, ainda muito grudada aos departamentos de comércio exterior das transnacionais.

Embora tenhamos hoje no Continente governos progressistas que buscam se desvencilhar das armadilhas deixadas por neoliberais e privatistas, a cadência da integração continua muito sujeita aos humores do capital transnacional, onde as grandes empresas globais acabam impondo o seu ritmo.

O desmonte do Estado nacional nos anos de FHC, Menem e outros entreguistas, que não só teorizaram como praticaram as relações carnais com os Estados Unidos, deixou mais do que seqüelas, cavou verdadeiros abismos sociais a serem superados. Desta forma, a maior parcela dos lucros advindos do comércio intrarregional acaba não sendo apropriado por nossos países e povos, mais indo para o cofre das matrizes das multinacionais. O montante registrado nas próprias remessas de lucros oficiais destas empresas fala por si, assim como as cotas de publicidade destinadas a propagandear esta irracionalidade como algo natural, a ser reproduzido para todo e sempre.

De que forma mantém este perverso controle econômico, se foram em parte deslocados do poder político? Pela forte oposição de setores elitistas, vinculados ao sistema financeiro internacional, aos barões da mídia e latifundiários, que conformam invariavelmente o tripé da reação aos processos de mudança que sacodem a nossa América. Some-se a isso instrumentos de regressão, como o Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que ainda respondem por parte significativa dos financiamentos do Continente, sempre com o propósito de alavancar a renda dos seus "investidores". Gente que elege em última instância o que deve ou não ser construído para facilitar a reprodução do capital – multinacional. Como camuflagem ou justificativa, se utilizam agora do discurso de "regionalismo aberto", de países pretensamente unificados, mas escancarados para o mundo, isto é para as economias dos países centrais. Os seus países. O que equivale a dizer que os projetos de infraestrutura, comércio e serviços da região deveriam seguir sendo implementados por garras alheias, obedientes a uma predatória visão externa, estranha à realidade dos nossos povos, alheia às nossas necessidades e, muitas vezes, abertamente contra elas. Em suma, investimentos voltados à desintegração.

Temos condições de reverter este quadro, de colocar os nossos Estados nacionais e mobilizar os nossos Tesouros para inverter esta lógica, somar esforços para defender as pequenas e médias empresas nacionais da região frente à voracidade de multinacionais cuja fome de lucro devora salários, empregos e direitos? Ou estaríamos condenados a manter indefinidamente abertas as veias da América Latina?

Se a força dos nossos mercados internos é evidente, somada é ainda mais surpreendente. Contra a crise da especulação internacional, temos sublinhado, a melhor resposta é a produção nacional e reunimos todas as condições necessárias para não nos deixarmos aniquilar. É hora de investir e acelerar nossos processos de industrialização, de conexão das cadeias produtivas e de conformação de uma dinâmica interna capaz de gerar um novo patamar de desenvolvimento.

Neste contexto, a criação e fortalecimento do Banco do Sul, com capital inicial de US$ 20 bilhões, assim como uma orientação do BNDES mais voltada à integração latino-americana, reforça uma alternativa de financiamento da região sem a necessidade de nos submetermos à adoção de traiçoeiras políticas liberalizantes, como se verificou ao longo dos anos 90. Para se ter uma ideia, o BNDES aumentou o crédito para infraestrutura na região de US$ 120 milhões em 2003 para cerca de US$ 1 bilhão em 2008. Entre as prioridades, rodovias na Bolívia, linhas de metrô na Venezuela e no Chile, redes de transmissão de gás na Argentina e no Uruguai… Vale destacar ainda a estratégica constituição do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (FOCEM), que tem por objetivo reduzir as assimetrias regionais e necessita ser vitaminado.

No ano passado, conforme a CEPAL, o PIB da América do Sul chegou próximo aos US$ 3 trilhões, com o Brasil sendo responsável por mais de US$ 1,5 trilhão ou 55% do total. O PIB argentino é o segundo maior, cerca de 20% do brasileiro, com US$ 330 bilhões. Em 2008, a Argentina tinha 40 milhões de habitantes, enquanto o Brasil alcançava os 192 milhões, quase 50% do total da América do Sul, de 390 milhões. Tais números carregam consigo, além do imenso potencial, uma grande responsabilidade com a classe trabalhadora e a sociedade destes dois países.

Assim, devemos atuar com elevada consciência e redobrado compromisso, somando esforços com as centrais sindicais da região na consolidação de um projeto comum, onde os sonhos de gerações se materializem com independência, soberania e complementaridade. Façamos nossas as palavras do artista uruguaio Joaquim Torres Garcia: "Nosso Norte é o Sul!".

João Antonio Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT

Publicado no portal CUT em 24/11/2009