O centenário doss militantes Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta e o 75º aniversário da Batalha da Praça da Sé serão homenageados no ato programado para dia 19/10, no Auditório Vladimir Herzog, do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Participam do debate o escritor e crítico literário Antonio Candido e o historiador Dainis Karepovs (coordenador do Centro Sérgio Buarque de Holanda da FPA). O evento é organizados por Marcelo e Paula Abramo, Vladimir e Paula Sacchetta, e pela corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional, com apoio do gabinete do vereador Antônio Donato – PT/SP e do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Sobre as homenagens (fornecido pelos organizadores):

FÚLVIO ABRAMO (1909-1993) foi jornalista, agrônomo e militante trotskista. Interessou-se pela luta social a partir da relação com o avô Bôrtolo Scarmagnan, que permitiu-lhe o primeiro contato com o pensamento anarquista. Antes de cumprir vinte anos (1928) conformou, com a irmã, Lélia, e o Azis Simão, um grupo marxista independente do PCB. Pouco tempo depois, fundou, junto com Mário Pedrosa, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Hilcar Leite, Rodoldo Coutinho, Rudolf Josip Lauff e João da Costa Pimenta, a Liga Comunista Internacionalista, seção brasileira da Oposição de Esquerda trotskista, chegando a formar parte da sua Comissão Executiva. Fúlvio haveria de permanecer fiel ao trotskismo até o momento da sua morte. Em 1933-34, quando a LCI empenhou-se na luta antifascista, foi diretor do jornal O Homem Livre, porta-voz do antintegralismo, e, depois, foi eleito diretor da Coligação das Organizações Operárias que conformavam a base da Frente Única Antifascista, que conseguiu dispersar os integralistas na histórica “Batalha da Praça da Sé,” contra-manifestação armada na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 7 de outubro de 1934. Preso em duas ocasiões (1934 e 1935) pelo Estado Novo, viu-se obrigado a fugir para a Bolívia junto com mais três camaradas. Permaneceu na Bolívia até 1946, trabalhando como motorista, cobrador de impostos e professor de Botânica Aplicada. A militância não se deteve no exílio. Com o nome de Marcelo de Abiamo, participou na fundação do Partido Obrero Revolucionario na Bolívia. Em 1961 liderou a greve do Sindicato dos Jornalistas, que conseguiu histórica vitória. Após o golpe, trabalhou provisóriamente como agrônomo numa fazenda de Barretos, SP. Em 1965 conseguiu finalmente voltar à imprensa, com um emprego de redator e repórter na revista Realidade, da Editora Abril; anos depois, trabalhou como redator no Diário do Commércio e na Gazeta de Pinheiros. Nos anos 1980 esteve junto ao movimento de construção do PT e retoma sua militância trotskista participando da Direção Nacional da Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional. Dedica seus últimos anos de trabalho e militância na preservação da memória do classe operária como impulsionador do do Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (CEMAP), hoje sob guarda do CEDEM-Unesp.

HERMÍNIO SACCHETTA (1909 – 1982) foi jornalista e militante trotskysta. Iniciou sua carreria profissional em 1928, como revisor do Correio Paulistano, passando depois por importantes jornais daquela época como a Folha da Manhã, a Folha da Noite, os Diários Associados e O Tempo. Para a militância política entrou em 1932, no Partido Comunista onde se tornou editor do Jornal A Classe Operária, secretário do Comitê Regional São Paulo e membro do Bureau Político. Foi um dos articuladores da greve dos Correios e Telégrafos em dezembro de 1934, caindo a partir daí na clandestinidade. Nesse mesmo ano sob pressão da juventude comunista, entra conflito com a linha do PCB, que não participa da Frente Única Antifascista, e orienta os militantes a participarem da “Batalha da Praça da Sé”. Em novembro de 1937, Hermínio, codinome Paulo, em meio a uma luta interna no partido, é acusado de fracionismo trotskista e expulso do PCB. Constitui com o Comitê Regional de São Paulo a Dissidência Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária. É delatado pelo stalinismo ao vivo pela rádio Moscou e preso e quase dois anos depois, quando sai da cadeia torna-se dirigente do recém-fundado Partido Socialista Revolucionário (PSR), então seção brasileira da 4ª Internacional junto com inúmeros camaradas como Febus Gikovate, Alberto da Rocha Barros, Vítor Azevedo, Patricia Galvão (Pagu), Florestan Fernandes, Maurício Tragtenberg entre outros. Ao longo de toda sua vida dedicou-se à militância e ao jornalismo.
Cláudio Abramo, seu companheiro de redação no Jornal de São Paulo, recordaria: “Sacchetta foi durante muitos e muitos anos um dos melhores e mais importantes chefes de redação que o jornalismo de São Paulo produziu. Homem de princípios rígidos, (…) travou sempre com a profissão de jornalista uma batalha árdua e difícil, enfrentando ao mesmo tempo os empregadores e a redação, que ele tentou incansavelmente moldar e domar”

A BATALHA DA PRAÇA DA SÉ – FRENTE ÙNICA ANTIFASCISTA (7 DE OUTUBRO DE 1934) – Também conhecida como “Revoada dos galinhas-verdes” foi o confronto que teve lugar na Praça da Sé, em São Paulo, em 7 de Outubro de 1934. Nesse confronto trotskistas, anarquistas, socialistas, comunistas, sindicalistas organizados na Frente Única Antifascista, se posicionaram contra a realização de uma marcha organizada pela Ação Integralista, organização que congregava correntes reacionárias e fascistas, dirigida por Plínio Salgado. Nesse confronto armado morreu o militante da juventude comunista, Décio Pinto de Oliveira, estudante da Faculdade de Direito de São Paulo, Largo de São Francisco. Décio foi alvejado na cabeça enquanto discursava. Ele passou a ser o símbolo do movimento antifascista brasileiro daqueles anos. Também ferido foi o militante trotskista Mário Pedrosa, enquanto tentava socorrer o jovem militante comunista atingido. Como narrou Lélia Abramo “Enfrentamos, com armas nas mãos ou sem elas, a organização fascista integralista, comandada por Plínio Salgado. Os integralistas estavam todos fardados, bem armados, enquadrados e prontos para uma demonstração de força, protegidos pelas instituições político-militares getulistas e dispostos a tomar o poder. Nós, espalhados ao longo da praça e nas ruas adjacentes, esperamos pacientemente que desfilassem primeiro as crianças, também fardadas, e as mulheres integralistas. Depois disso, quando os asseclas de Plínio iniciaram seu desfile, nós todos avançamos e começou a luta aberta.”