No início deste 2º semestre tivemos a aprovação na comissão especial que trata da crise na indústria, do meu relatório, enquanto relator da comissão. O documento (www.pedroeugenio.org.br) traz 23 recomendações concretas e permite levantarmos aqui algumas questões da maior importância. Entendo que a crise internacional longe está de recuar. Durante este e o próximo ano ainda veremos uma economia global bastante debilitada, o que se refletirá em menos espaço para nossas exportações.

Por outro lado, a economia brasileira demonstrou que tem mercado interno muito mais forte do que muitos imaginavam. Apesar da retração imediata e inconsequente das montadoras estrangeiras e da histeria derrotista de alguns oposicionistas que confundiram uma questão nacional com uma questão eleitoral, o Brasil seguiu forte, retraindo-se sim, mas muito menos que a maioria dos países mundo afora.

Esta história, porém, tem outro lado. Quem imaginava que a crise não chegaria aqui, errou. Perderam-se empregos sim e alguns setores, como os exportadores e os produtores de máquinas e equipamentos ainda estão sofrendo. As pequenas e médias empresas também foram muito penalizadas pela paralisação dos financiamentos feitos pelos bancos pequenos e médios com os quais operavam.

Após a queda violenta da produção e do emprego ocorrida no último trimestre de 2008 e no primeiro deste ano, pela força do mercado interno e das medidas que o governo Lula rapidamente tomou que estimularam a oferta de crédito e a demanda das pessoas por bens de consumo, passamos a assistir a uma recuperação com a volta do crescimento e do emprego. Mas ainda estamos com produção total abaixo da do ano passado.

Este é o quadro atual, do qual poderemos se formos astutos, no bom sentido, tirar proveito. Nossa posição de retomada do crescimento dá-nos uma vantagem extraordinária. Em um quadro de acirramento violento da concorrência internacional, temos que mudar rapidamente para melhor. A superação da crise precisa ser consolidada com medidas que apontem na direção que já temos seguido, de um país moderno, diversificado, com uma distribuição de renda, de oportunidades e de conhecimento muito melhor do que a que temos hoje.

Precisamos dar um salto de qualidade na capacidade de investimento público e privado da nação. Isto significa salto de qualidade na educação, no desenvolvimento científico e tecnológico e na modernização dos mecanismos de participação do estado brasileiro no investimento. Temos de consolidar uma política macroeconômica focada no binômio juros baixos – ampliação do crédito responsável.

Precisamos resolver definitivamente a questão do desenvolvimento rural, integrando democraticamente a agricultura familiar no espaço econômico e social que lhe é historicamente devido. Estabelecer uma política de desenvolvimento regional que consista em uma Política de Convergência nos moldes da União Europeia, olhando para a América Latina e não para nosso umbigo. Modernizar nossa indústria e torná-la competitiva a partir da modernização de nossa indústria de base. Para nós a crise há de ser não o fim dos tempos, mas um grande e bom começo.

Pedro Eugênio é deputado federal pelo PT/PE e integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo

Artigo publicado originalmente no Diário de Pernambuco e
reproduzido a partir do site do deputado em 2/9/2009