Brasil enfrenta a crise e mantém redução da desigualdade
A trajetória de queda da desigualdade social nas regiões metropolitanas se manteve, mesmo no período de auge do impacto da crise financeira, segundo estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Em junho deste ano, o índice de Gini, que mede a desigualdade, chegou ao menor patamar nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras: 0,493 – 4,1% menor do que o registrado em janeiro (0,514). Essa foi a maior queda registrada em um período de seis meses desde 2002. O Gini vai de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 0, menor a desigualdade. O presidente do Instituto, Marcio Pochmann, avalia que, ao contrário do que ocorreu em outras crises internacionais, a pobreza continuou a cair no Brasil, mesmo após a quebra dos bancos nos Estados Unidos.
As regiões metropolitanas que diminuíram mais rapidamente a taxa de pobreza foram Belo Horizonte (35,5%), Porto Alegre (33,6%) e Rio de Janeiro (31,2%). Quedas menos intensas do que as da média nacional no período (26,8%) foram registradas em São Paulo (25,2%), Salvador (23,9%) e Recife (14,1%).
Pobreza – Depois de ter aumentado entre agosto de 2002 e abril de 2003, a taxa de pobreza nas metrópoles pesquisadas passou a ter tendência de queda. Em março de 2002, 18,5 milhões de brasileiros estavam em situação de pobreza. Em junho de 2009, esse número havia baixado para 14,4 milhões. A diferença de 4 milhões de pessoas representa uma queda de 26,8% da taxa de pobreza, que passou de 42,5% para 31,1% no período. Entre março de 2002 e junho de 2009, a região metropolitana que registrou maior queda no número de pobres (1,4 milhão) foi a do Rio de Janeiro, seguida por São Paulo (1,3 milhão) e Belo Horizonte (600 mil pessoas). Recife e Salvador, que detêm as maiores taxas, retiraram da condição de pobreza 100 mil e 200 mil pessoas, respectivamente.
No conjunto das regiões analisadas, a taxa de pobreza caiu 2,8%, passando de 31,9% para 31%, na comparação entre outubro de 2007 a junho de 2008 e outubro de 2008 a junho de 2009. A maior queda ocorreu na região metropolitana de São Paulo (-3,9%), e a menor, na do Rio de Janeiro (-1,3%).Recife teve queda de 1,9%; Salvador e Porto Alegre, de 3,3%; e Belo Horizonte, de 3,5%.
Políticas sociais – Para o ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, os dados comprovam que o Brasil está conseguindo enfrentar a crise. “Logo no início, o presidente Lula havia anunciado que os pobres não pagariam a conta e penso que esses números mostram que ele conseguiu manter a palavra, com políticas que protegeram a população mais pobre”. O ministro avalia que as políticas sociais vêm conseguindo um impacto positivo na redução da pobreza. “A crise encontrou um país mais preparado, em processo de crescimento econômico e também de desenvolvimento social”, diz o ministro.
Consumo popular ajudou a manter atividade econômica – Ao comentar o estudo do Ipea, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, avalia que a manutenção do poder de compra dos mais pobres foi importante para que o mercado interno superasse a crise financeira internacional. Veja os principais trechos da entrevista do ministro, que abre nesta quarta-feira (5), em Brasília , às 17h, o Simpósio Internacional sobre Desenvolvimento Social.
Em Questão – A manutenção do poder de compra dos mais pobres favoreceu a permanência da redução da pobreza durante a crise?
Patrus Ananias – Estudos anteriores mostraram que as políticas de transferência de renda do governo federal são responsáveis por 29% na redução das desigualdades no Brasil. Junto com outras medidas fundamentais, como a valorização do salário mínimo, isso tem um impacto anticrise importante. As políticas sociais, além da dimensão ética de garantir o direito à alimentação e proteger a vida, têm também um efeito prático de dinamizar as economias locais. Isso porque, além de cidadão, estamos criando também consumidores. Os pobres, já disse o presidente Lula, não guardam o dinheiro, eles gastam – e as pesquisas demonstram que eles gastam bem, usando o dinheiro com alimentação, material escolar e compra de bens duráveis, como fogão e geladeira, principalmente. Essa demanda estimula a produção, gera emprego e produz mais renda. Isso tem consequência principalmente para os mais pobres.
Recife, São Paulo e Salvador estão abaixo da média nacional de redução da pobreza. O que é possível fazer para melhorar a média nessas regiões metropolitanas?
No que diz respeito às políticas sociais, é importante observar que o seu foco, em um primeiro momento, foi atingir, sobretudo, pessoas, famílias e comunidades mais marginalizadas. Isso reforçou a nossa presença em cidades menores, mais afastadas, com baixos indicadores de desenvolvimento humano para atacar a situação de desigualdade. Não estivemos ausentes dos grandes centros, onde localizamos nossos investimentos justamente nos lugares mais pobres e mais periféricos das grandes cidades. A questão das regiões metropolitanas é um desafio para nós. Tanto é que o próprio presidente Lula, ao me convidar para assumir o ministério, me pediu que mantivesse uma atenção especial com essas regiões. Temos de não só intensificar nossas políticas, mas também investir em maneiras de potencializar os efeitos, principalmente por meio de ações coordenadas nas regiões dos grandes centros e envolvendo vários setores das políticas públicas. O que temos feito, e acredito que deva ser reforçado, é fortalecer a agenda do Plano Setorial de Qualificação nesses grandes centros e efetivar a expansão do Bolsa Família, que tem grande peso nas regiões metropolitanaso que se dará neste ano sobretudo nesses municípios. Essa expansão tem de contemplar a busca ativa da população mais difícil de ser encontrada, que constitui o que podemos chamar de pobreza oculta.