Seminário internacional: Leste Europeu agrega potencial revolucionário
Seminário Internacional sobre a Crise Mundial realizado nos dias 20 e 21 de junho, em São Paulo, promovido pelas fundações Perseu Abramo e Maurício Grabois e pelo PT e PCdoB.
Seminário Internacional sobre a Crise Mundial realizado nos dias 20 e 21 de junho, em São Paulo, promovido pelas fundações Perseu Abramo e Maurício Grabois e pelo PT e PCdoB.
O cientista político Gyula Thürmer, diretor da Fundação Hungria Neutra de Budapeste, acredita que o “nascimento de uma situação revolucionária” é uma das possíveis consequências da crise do capitalismo na Rússia e na Europa Oriental. Thürmer apresentou o painel “A Rússia frente à Crise”, parte da mesa Reações frente à crise: Rússia, Índia, China e África do Sul.
Para o cientista político, o Leste Europeu inteiro — e não somente a Rússia — é um rico objeto de estudo para a esquerda. “A América Latina é mais relevante hoje, mas o Leste Europeu também é uma parte importante do mundo. São dez países, 295 milhões de habitantes, os maiores partidos comunistas da Europa e grandes lutas. É também a região do mundo onde o socialismo não foi apenas um sonho — mas uma realidade, em termos políticos, sociais e econômicos.”
À experiência socialista se sucedeu uma transformação que fragilizou o lado oriental da Europa. Com a crise, o Leste Europeu se tornou, segundo Thürmer, um dos “pontos mais fracos da cadeia atual do capitalismo, passível de revoltas sociais e até revoluções”. Para piorar, no rastro da crise, “as eleições para o Parlamento Europeu demonstraram uma forte virada para a direita. Em todos os países da região os partidos da direita ganharam as eleições”.
A Rússia se distingue dessa tendência pelo protagonismo na economia mundial, mas, na opinião de Gyula, é equivocada a impressão de que o país “não tem parte no capitalismo contemporâneo. Há pessoas que ainda tratam a Rússia como um ‘país de comunistas e ursos’”. O cientista político frisa o “papel decisivo do capital financeiro e do capital na produção de gás e petróleo” em relação aos elementos econômicos russos. Além disso, sua indústria petrolífera é dependente do comércio internacional e, inevitavelmente, retraiu-se com a crise mundial. “Como o capitalismo depende hoje da Rússia, o país pode se tornar mais participativo na política internacional — só que com uma atuação pró-ocidental e sob dependência das forças imperialistas”, analisa Thürmer. Ele também afirma que a economia nacional vai se fortalecer, com incentivos sobretudo a grandes empresários, porque a estrutura política e financeira da Rússia está estável, apesar das dificuldades internas.
Desigualdade aprofundada
Outro aspecto marcante da crise na Rússia revela-se nos graves impactos sociais, como a elevação do desemprego e da pobreza, além da deterioração do sistema de saúde. As desigualdades se tornam mais agudas — sem contar o arrocho salarial e a inflação em alta, que prejudicam as camadas mais pobres da sociedade.
De acordo com Gyula Thürmer, é justamente essa conjuntura, somada aos protestos crescentes, que pode levar a uma etapa de ascensão das forças de esquerda — tanto na Rússia quanto no Leste Europeu em geral. Mas essa “situação revolucionária”, segundo o cientista político, ainda não está dada nos dias de hoje.
de Evelize Pacheco, da Fundação Perseu Abramo.