A atual crise mundial não é somente financeira, mas também uma crise econômica, energética e alimentar que afeta todo o planeta, assim como também a indústria bélica norte-americana. Essa é uma crise de superprodução que não reproduz nenhum padrão e nem as soluções clássicas de crises anteriores. Trata-se de um fenômeno de multiplicação de crises que teve origem nos anos 60 que a propaganda neoliberal não deixou o mundo enxergar. A opinião é de Jorge Beinstein, economista, professor na Universidade de Buenos Aires e membro do Partido Comunista Argentino.

Ele participou neste sábado (20) do Seminário Internacional sobre a Crise Mundial, realizado em São Paulo pelo PT, PCdoB e fundações, cuja mesa de debates teve como tema o Diagnóstico da crise internacional: natureza, profundidade e extensão. A mesa foi coordenada por José Reinaldo, secretário de Relações Internacionais do PCdoB.

Para Beinstein, essa crise se explicita através da desaceleração das taxas de crescimento em todos os países e provoca a injeção de um volume altíssimo de dinheiro, que sai da economia real e vai para a especulação financeira.

“Essa não é uma crise da civilização,como dizem alguns analistas, mas sim uma crise civilizatória da burguesia”, enfatiza ele.

Com relação às questões energética e alimentar, ele alega que as crises de superprodução que ocorreram nos séculos XIX e XX até chegar à crise dos anos 70 foram gerando doses crescentes dos processos de exploração massiva dos recursos naturais que levaram a uma depredação dos recursos naturais.

“É uma crise geral que destrói as forças produtivas e é predominantemente depredatória, sendo a maior do sistema capitalista, com uma qualidade que a deixa diferente de todas as outras. Estamos diante de uma crise do capitalismo, mas isso não quer dizer que o sistema vai acabar, porém não se pode afirmar que ela vai durar muito ou pouco pois não existem padrões na história do capitalismo para diagnosticar isso. Apesar disso, os Estados Unidos e a Inglaterra vão preservar a sua hegemonia no mundo e devem recompor seu sistema”, previu ele.

Beinstein falou também sobre as mudanças políticas ocorridas nos últimos anos na América Latina com a chegada ao poder das forças progressistas em vários países do continente. Para ele, esses movimentos não surgiram do nada, mas são resultados das revoluções ocorridas na Bolívia, Argentina, México, Cuba, entre outras, que foram acumuladas pela região para depois se reproduzirem nos processos eleitorais.
“As revoluções permanecem na memória e na cultura dos nossos povos e foram concretizadas na realidade do nosso continente. Elas fazem parte do nosso patrimônio cultural”, afirmou.
A crise e o marxismo

O segundo participante do debate foi o indiano Avtar Sadiq, secretário dos Indianos Comunistas na Grã-Bretanha e membro do Partido Comunista da Índia, que abordou o tema A crise e as interpretações marxistas do capitalismo.

De acordo com o dirigente político indiano, a crise atual reivindica novamente a profunda análise que Marx fazia do capitalismo, mas que os marxistas não têm nenhuma satisfação alguma nessa reivindicação de sua visão de mundo e da sua análise revolucionária à custa da miséria de milhões de vítimas dessa crise.
Sadiq lembrou em sua conferência que, devido à crise global, o capitalismo tem realizado tantas estatizações que teriam “surpreendido até mesmo antiga URSS socialista”. Exemplo disso, segundo ele, é que os EUA estão lançando mão de cerca de US$ 2,5 trilhões provenientes de impostos para prestar socorro ao sistema financeiro do país.
Segundo ele, a globalização obrigou todos os países independentes a adotarem a liberalização financeira e isso provocou níveis de especulação jamais vistos, o que demonstra que esse sistema é simplesmente insustentável e teve como conseqüência a bancarrota do neoliberalismo.

“Se os lucros fossem empregados no aumento das capacidades produtivas, com o aumento na geração de empregos, o poder de compra do povo cresceria lebando auma maior demanda agregada, que, por sua vez, proporcionaria um novo ímpeto à industrialização e ao crescimento real da economia. A gigantesca acumulação de capital financeiro internacional, entretanto, suplanta este processo com a procura de lucros predatórios através da especulação”, afirmou.

Na análise de Sadiq, a ausência de uma alternativa política socialista poderosa faz com que o capitalismo reemerja de todas as crises do capitalismo, através de novos expropriadores que destroem uma parte das forças de produção para manter intactos os seus caminhos e também para criar novos meios de lucratividade, em vez de utilizar esses recursos para o bem-estar das pessoas. “Este é o verdadeiro caráter desumano do capitalismo. É preciso avançar na emancipação social no mundo e isso requer a intensificação das lutas de classe para fortalecer o movimento popular revolucionário”, enfatiza.

por Geraldo Magela, para os portais PT e FPA, 20/6/2009