A próposito” de maio apresenta experiências sobre a circulação de livros no Brasil
O acesso aos livros e a sedução da população pela leitura foram temas do projeto A propósito (organizado pelo Centro de Memória e História Sérgio Buarque de Holanda), realizado no dia 21/05 na Fundação Perseu Abramo.
Na mesa de debate estavam a artista plástica Lúcia Rosa do coletivo Dulcinéia Catadora, que reúne adolescentes filhos de catadores de papel ou em situação de risco, o poeta Sérgio Vaz, representando o Cooperifa – espaço cultural do Jardim Angela e o secretário executivo do Plano Nacional de Leitura e Livro (PNLL) do MinC e MEC, José Castilho Marques.
As capas – portas para os livros
Lúcia relatou o processo de contato dos jovens com o universo do livro, através da produção das capas de papelão pintadas para textos literários, com um resultado personalizado e rico de cores e imagens. Nas oficinas da Dulcinéia Catadora, os jovens pintam as capas, trocam ideias com autores. Assim, começam a se envolver com a leitura, levando os livros para casa e construindo uma nova visão da realidade. Cada jovem recebe R$ 30 por oficina, que dura de 4 a 5 horas – a fonte de renda vem dos livrinhos montados pelo coletivo, que são vendidos em endereços alternativos de São Paulo, como bares, centros culturais e saraus literários.
Da esquerda para a direita: Sérgio Vaz, José Castilho e Lúcia Rosa.
(Foto: Melissa Machado)
Bibliotecas abertas
José Castilho apresentou os quatro eixos de ação do PNLL: a democratização do acesso ao livro e da leitura; a formação de mediadores de leitura; a valorização da leitura e a política de desenvolvimento do livro. Nos três anos do Plano, foram reunidas inúmeras ações de iniciativa pública ou das comunidades que estimulam essa aproximação dos brasileiros com os livros. O principio do Plano é de tirar o livro da prateleira fechada e colocar na mão do leitor para usufruir plenamente da experiência, tornar a biblioteca de acesso público efetivamente o espaço público com vida. Castilho aponta que as bibliotecas comunitárias – criadas em oficinas, bares e afins – são emblemas deste apoderamento dos livros pela população. Com este espírito, o Estado deverá fornecer a infraestrutura – móveis, internet, computadores – para o espaço que deverá ser multiuso: biblioteca/sala de projeção/salão de festas. A formação de mediadores e a valorização da leitura estão fundamentadas na ideia de seduzir a população para a leitura dentro e fora da estrutura de educação formal, a exemplo do projeto Dulcinéia Catadora.
Da palavra ao livro
Sérgio Vaz relatou também a experiência da Cooperifa, que transformou um bar em centro cultural na comunidade do Jardim Angela, onde homens e mulheres de todas as idades se encontram para ouvir/declamar poesias próprias ou de outros. Os saraus são realizados há 7 anos no Bar Zé Batidão e permitiu a muita gente ter acesso aos livros pela palavra, afirma Vaz. Esses encontros já resultaram em 40 livros com textos de pessoas da comunidade – num circuito totalmente fora do meio cultural tradicional. Outras iniciativas da Coperifa são a Chuva de Livros – quando são distribuídos entre os moradores 500 livros e o Cinema na Laje – projeção de documentários e filmes fora do circuito comercial.