No plenário do 22º Fórum da Liberdade, realizado em Porto Alegre, no início de abril, os teóricos e ícones do liberalismo presentes foram contumazes e não deixaram de desfilar críticas e registrar posições de que as reais razões da crise mundial se devem fundamentalmente ao “não seguimento das regras estabelecidas pelo capitalismo” e que seria necessário “mais livre mercado e menos Estado”.

No entanto, no mundo real, 10 em cada 10 economistas são unânimes em reconhecer que as motivações da crise se encontram na desregulamentação desenfreada, na especulação financeira e na máxima de buscar objetivos imediatos sem se importar com suas consequências. Parece continuar existindo nos adeptos do neoliberalismo mais uma profissão de fé do que propriamente uma real e necessária interpretação da realidade. Isto os está levando, portanto, a uma contradição insanável.

Ou bem o Estado é chamado a socorrer o setor privado com recursos públicos, como condição para superar a crise e isto é compreendido de forma sincera, levando-os a uma autocrítica, ou os liberais devem assumir de vez o darwinismo social, deixando que a “mão invisível” resolva tudo, com as consequências e selvagerias daí decorrentes, que são os enxugamentos, as quebradeiras, as demissões e as entregas de patrimônio, como apregoa “a velha cartilha”.

À semelhança do que ocorreu com alguns setores da esquerda, que em 1989 não souberam tirar as necessárias lições da queda do Muro de Berlim, alguns visitantes do Fórum parecem alheios ao colapso do muro nova-iorquino que se espalha em escala mundial. Desresponsabilizando-se de fazer necessárias e fundamentais reflexões que o momento atual exige.

Deveriam compreender a natureza da crise e buscar saídas inovadoras para seu enfrentamento. No entanto preferem o atalho ou caminho mais curto, pedindo apoio ao Estado e ao mesmo tempo esquizofrenicamente chamando isto de intervencionismo e dirigismo. E suas soluções seguem sendo as surradas práticas de enxugamentos, subsídios públicos e flexibilizações dentre outras.

Agir com base em “verdades” que cegam e simplificações que paralisam é a pior resposta que se pode dar diante de uma conjuntura de crise aguda e complexa, que seguramente agravará nossa situação econômica e social, prestando um desserviço ainda maior à sociedade.

*Adão Villaverde é professor universitário e deputado estadual do PT/RS
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Publicado em 5/5/2009 no portal PT