Seminário Discriminação, Integração: Identidade e pertencimento étnico racial
O relacionamento entre identidade e pertencimento foi o eixo da última mesa do seminário "Discriminação, Integração: Brasil-França experiências cruzadas", realizado em São Paulo, numa iniciativa das fundações Perseu Abramo-FPA (Brasil) e Jean Jaurès (França). O debate foi iniciado pela pedagoga Sílvia Helena Seixas, diretora do Instituto Plural de Educação e Cidadania, em fala sobre a inclusão das crianças e o despertar do sentimento de pertencer.
Silvia Helena tratou da construção, nas crianças, dos estímulo relativos ao pertencimento, processo que começa quando o bebê tem por volta de dois anos. E lembrou que, quando ingressam em creches, e as crianças brancas tem seus cabelos penteados, enquanto as negras não.
Citando os meios de comunicação, a pedagoga enfatizou que o negro não aparece na tela do canal de televisão de maior audiência no Brasil. Não há, portanto, um processo no qual o negro se espelhe, se veja incluído na chamada sociedade brasileira. Para exemplificar, ela listou os programas transmitidos pela Rede Globo desde 7:00h da manhã até 7:00h da noite — enfatizando que, nos telejornais, só é percebida a presença de apresentadores brancos. Apenas momentos específicos – Semana da Consciência Negra ou na eleição de Obama, por exemplo – um apresentador negro é escalado. Os programas infantis também foram alvo de crítica de Sílvia Helena: “a apresentadora Xuxa está há mais de 20 anos no ar e no período em que contava com assistentes de palco, as paquitas, somente uma delas era negra – Adriana Bombom – sobre a qual faziam apologia do corpo”.
A pedagoga prosseguiu citando também o programa Malhação, no qual adolescentes de 11, 12 anos fazem suas descobertas, e ao apresentar como se dão as relações, só aparecem meninas brancas, que se relacionam com outras brancas. “A adolescente negra que está na favela, não se identifica. Pensa: ‘Sou feia’. Ela precisaria olhar e se reconhecer, se identificar”, afirma Silvia.
Uma das saídas para essa situação, aponta a pedagoga, é a sociedade intervir no processo educacional, estando à frente das instâncias existentes na escola (como o Conselho de Escola, por exemplo), para discutir o projeto pedagógico e “resgatar a cidadania dos adolescentes”. Ao que lança uma pergunta: “Alguém já viu uma rainha da primavera negra?”
A mesa continuou vom o geógrafo Roberto Guido, que é também diretor da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Guido enfatizou que é preciso discutir o papel das escolas de ensino básico no país. Para o geógrafo, o país está vivendo alguns avanços, mas nacionalmente eles ainda são insuficientes em relação a uma escola de nível. Nas universidades, lembra, embora tenha existido expansão, esta prevalece no ensino privado, que vê a educação como mercadoria.
Outro problema apontado por Guido são os baixos investimentos na Educação. “No governo Fernando Henrique Cardoso, os gastos com Educação eram de 3,5% do PIB. No governo Lula, esse percentual subiu para 5%, além do comprometimento dos investimentos do pré-sal no setor. O estado de São Paulo mantém o patamar de 3,5, ou seja, é menor que o nacional”, constatou.
Para mudar esse quadro e gerar uma verdadeira democratização na escola, Guido acredita que o estímulo à formação continuada dos professores pelo Estado deveria ser uma prioridade, assim como a participação da sociedade nas instâncias da área educacional. A começar pelo Conselho Nacional de Escolas, entidade que, segundo Guido, “é o grande cartório das escolas privadas”.
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