Desiguais, salários não acompanham maior participação das mulheres no mercado
Apesar da presença das mulheres no mercado de trabalho ter crescido 56,4% em 2008, os salários das trabalhadoras não seguem o preceito estabelecido pela Constituição Federal que reza a igualdade salarial.
Na região metropolitana de São Paulo, o rendimento médio por hora das mulheres caiu 0,9% no ano passado, enquanto o dos homens aumentou 1%, conforme divulgou nesta quarta-feira (4) a pesquisa Mulher e Trabalho, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioecnômicos (Dieese) e Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo (Seade).
Segundo o estudo, a média da hora das mulheres era de R$ 5,76 em 2008. “O aumento do salário mínimo não foi suficiente para aumentar a média salarial porque, em alguns setores, os salários caíram”, explica a socióloga Marcia Guerra, da Seade.
Os setores da indústria, comércio e serviços em geral tiveram redução de salário. As trabalhadoras de serviços domésticos foram as únicas que tiveram aumento: em 2007, a hora média passou de R$ 3,15 e, em 2008, subiu para R$ 3,26.
“As diferenças salariais entre homens e mulheres existem, as que sofrem menos com isso são as funcionárias públicas, cujos salários normalmente são iguais”, diz a coordenadora de pesquisa e emprego e desemprego do Dieese, Patrícia Lino Costa. O estudo apontou ainda que mulheres que têm filhos pequenos representam a taxa de desemprego mais elevada: 23,1%.
A estudante de direito Adriana Mazagão conta que seu filho teve que morar com sua mãe no interior para que ela pudesse trabalhar. “Quando falava a idade do meu filho, já era descartada na entrevista de emprego”. A solução para voltar ao mercado foi mandar o pequeno Tiago, então com um ano, para casa de sua mãe no interior. “Eu ia visitá-lo aos finais de semana. Só consegui trazê-lo de volta para minha casa quando arrumei um emprego que tinha uma creche.”
Marcia Guerra, da Seade, alerta para criação de políticas públicas para que as mulheres consigam trabalhar. “É preciso criar mais vagas em creches e escolas para que as mães consigam ir para o emprego”, diz.
Para Adriana Mazagão, a estrutura para a mulher precisa ser repensada: “Não tem escola em período integral e é raro achar um trabalho que seja meio período. Se a criança estuda de manhã, com quem fica no restante do dia?”. Além do horário, Adriana aponta outra dificuldade: a localização das creches. “A mulher não trabalha onde mora, por isso acredito que as creches e escolas não devem ficar só nos bairros, e sim nos centros”.
Quando os filhos têm mais de 5 anos, a taxa de desemprego cai para 12,3%. Para conseguir trabalhar, a funcionária pública Aurelina de Carvalho procurava empregos perto da escola da filha. “Assim eu conseguia levar e buscar na escola”, afirma. Segundo ela, além da construção de creches e escolas, é importante garantir o transporte das crianças para casa. “Enquanto a escola dela não era integral, eu tinha que entrar mais tarde para poder acompanhá-la na saída”.
Segundo Marcia Guerra, a crise financeira internacional afetará ainda mais as mulheres este ano. “Como são elas que ficam mais desempregadas que os homens, são as que tendem a sofrer mais com a crise”, diz. Segundo a pesquisa, 16,5% das mulheres da região metropolitana de São Paulo ficaram desempregadas contra 10.7% dos homens.