Resultados comprovam que há, ainda, um longo caminho a percorrer no combate à discriminação a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil.

Realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA) em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung, a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil, Intolerância e respeito às diferenças sexuais” revela elevado grau de intolerância com a diversidade sexual no Brasil. Com acuidade inédita, o estudo, feito com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de políticas de bem-estar e contra o preconceito, contou em sua primeira etapa com 2.014 entrevistados/as adultos/as, em 150 cidades espalhadas pelas cinco regiões do país.

A realização da pesquisa, segundo o presidente da FPA Nilmário Miranda, vem do interesse da instituição em prover dados nacionais confiáveis sobre a discriminação à população LGBT, bem como sobre suas necessidades nas áreas de educação, saúde, emprego, justiça, cultura e direitos humanos. “A idéia é que essas informações subsidiem os gestores nos níveis federal, estadual e municipal na criação e adoção de políticas públicas para o segmento, como já ocorreu com outros estudos que realizamos sobre o perfil e as necessidades de diversos grupos sociais no Brasil (1), auxiliando o poder público na criação de iniciativas de inclusão e desenvolvimento”, ressaltou Miranda.

Para Gustavo Venturi, cientista político e coordenador da pesquisa, destaca-se o fato de, por um lado, quase todas as pessoas entrevistadas responderem acreditar que há preconceito contra homossexuais: para 93%, há preconceito contra travestis (para 73% muito, para 16% um pouco); contra transexuais, 91% (respectivamente 71% e 17%); contra gays, 92% (70% e 18%); contra lésbicas, 92% (69% e 20%); e, em escala um pouco menos intensa, 90% acreditam em preconceito contra bissexuais (para 64% muito, para 22% um pouco). De outro, comparativamente também é alta a taxa dos que admitem tal postura.

Ainda que o preconceito em si seja constatado pela ampla maioria, não é tão alto o índice dos que admitem tal postura. Quando perguntados/as se são preconceituosos/as, apenas 29% admitiram ter preconceito contra travestis (e só 12% muito), 28% contra transexuais (11% muito), 27% contra lésbicas e bissexuais (10% muito para ambos) e 26% contra gays (9% muito).

Venturi traça paralelo sobre o assunto lembrando que em pesquisa sobre a terceira idade realizada em 2006(2), apenas 4% dos não idosos admitiam ser preconceituosos em relação aos mais velhos. Do mesmo modo, em 2003, em estudo relativo ao preconceito contra a população negra(3), somente 4% dos de cor não preta assumiam ser preconceituosos em relação aos negros (taxa que era de 10% em pesquisa do Datafolha, em 1995). No que diz respeito à comunidade LGBTT, porém, cerca de 27% dos entrevistados admitem o preconceito (sendo de 23% o preconceito contra os cinco grupos simultaneamente, e de 32% contra pelo menos um dos cinco).

A pesquisa tem, ainda, uma segunda etapa, na qual foram realizadas 400 entrevistas com gays e lésbicas, residentes em nove regiões metropolitanas do país, com dados inéditos de percepção e vivências de discriminação. Tais resultados e análises têm divulgação prevista para o final de março/2009.

Mais: Conheça a metodologia utilizada na pesquisa e seus resultados.

Notas:

(1) Sobre tais pesquisas, a FPA realizou: “Idosos no Brasil, desafios e expectativas na 3ª idade”, em 2006; “Perfil da juventude brasileira”, em 2003; ‘Discriminação racial e preconceito de cor no Brasil”, em 2003; e “A mulher brasileira nos espaços público e privado”, em 2001.

(2) Idosos no Brasil, Desafios e Expectativas na Terceira Idade

(3) Discriminação Racial e Preconceito de Cor no Brasil

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