Uma tragédia está em curso no Oriente Médio.

Mais do que artigos, declarações ou manifestos, jornais e televisões têm exibido fotos e cenas chocantes que falam por si próprias.

Diante delas, ninguém pode ficar indiferente.

O presidente Lula não ficou. O chanceler Celso Amorim tampouco.

Nos últimos dias, a diplomacia brasileira -junto com outros governos- tem desenvolvido intensa atividade para pôr fim ao massacre.

Uma tragédia está em curso no Oriente Médio.

Mais do que artigos, declarações ou manifestos, jornais e televisões têm exibido fotos e cenas chocantes que falam por si próprias.

Diante delas, ninguém pode ficar indiferente.

O presidente Lula não ficou. O chanceler Celso Amorim tampouco.

Nos últimos dias, a diplomacia brasileira -junto com outros governos- tem desenvolvido intensa atividade para pôr fim ao massacre.

O governo brasileiro se sente com autoridade para desenvolver iniciativas em busca da paz, ainda que saiba o quão difícil é alcançar esse objetivo.

Nossa simpatia pela causa palestina -a criação de um Estado independente e viável- nunca se fez em oposição a Israel. Ao contrário, o presidente Lula tem reafirmado aquilo que historicamente seu partido -o PT- e a diplomacia brasileira sempre tiveram como questão de princípio: a defesa do Estado de Israel.

Não há tempo e espaço nem é oportuno, agora, rememorar o que foram as últimas décadas no Oriente Médio e como a irresolução da questão palestina transformou-se na principal ameaça à segurança coletiva e à paz mundial.

A tragédia de Gaza não se resume a perdas humanas, por si só graves. Ela tem uma dimensão que não pode ser ocultada. Mostra a tentativa insana de resolver um complexo problema, de profundas raízes históricas, pela violência. Mais grave, ela antecipa impasses maiores que alimentarão uma escalada de violência sem fim.

O massacre em curso, em vez de debilitar os radicais do Hamas, tenderá a fortalecê-los aos olhos da população palestina. O uso desproporcional e cruel da força por Israel, longe de carrear apoios, estimulará seu isolamento, comprometendo sua imagem aos olhos do mundo. A militarização maior da sociedade israelense será consequência inevitável.

As reações fortes que os acontecimentos de Gaza têm provocado no mundo e no Brasil podem se explicar pelo radicalismo de uns ou pelos partis pris de outros.

Mas a explicação última está no sentimento de indignação que as imagens de crianças mortas provocam em todos nós e no sentimento de impotência de que somos possuídos diante da insana intransigência dos que acreditam poder tudo resolver pelas armas.

Os historiadores muito escreveram e muito escreverão sobre o drama da Palestina. Na hora atual, essas questões, ainda que importantes, passam a um lugar secundário. Trata-se agora de parar com a violência, logrando um imediato cessar-fogo para, logo depois, abrir negociações capazes de conduzir a uma solução definitiva do problema.

A ativa participação do Brasil na busca de solução da crise expressa a consciência que temos de nossas responsabilidades para com os problemas da segurança coletiva e da paz mundial. É consequência do peso dos direitos humanos em nossa agenda externa. Corresponde à nossa visão dos problemas mundiais, como país inserido em uma região de paz, onde os contenciosos são resolvidos pela via diplomática. Decorre, finalmente, da percepção de uma sociedade em que centenas de milhares de judeus e milhões de árabes convivem pacífica e harmoniosamente.

Como o Brasil deve muito a eles, não podemos ficar omissos.

Em seu excelente texto publicado há poucos dias no "Guardian", Daniel Barenboin diz ser este "um conflito intrincado e sensível entre dois povos profundamente convencidos de seu direito de viver no mesmo pedaço de terra". Ele pensa que "não poderá ser resolvido nem pela diplomacia nem pelas armas".

Esse paradoxo é apenas aparente.

Há momentos na história da humanidade em que a gravidade e a complexidade das questões em jogo exigem a persistente e metódica busca de soluções que associem política e ética.

A capacidade de indignação é inerente ao ser humano e, portanto, à ação diplomática. Afinal, são esses sentimentos que permitiram no passado e permitirão no futuro a construção da paz duradoura.

*Marco Aurélio Garcia, 67, é assessor especial de Política Externa do presidente da República e professor licenciado do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi secretário de Cultura do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy).