Essa é a maior crise econômica desde 1929. É uma crise sistêmica que começou no centro do capitalismo e é diferente de outras crises que nossa geração viveu que surgiram na periferia do capitalismo, como a do México, da Rússia, da Coréia.

Essa é a maior crise econômica desde 1929. É uma crise sistêmica que começou no centro do capitalismo e é diferente de outras crises que nossa geração viveu que surgiram na periferia do capitalismo, como a do México, da Rússia, da Coréia.

Os reflexos desta crise não são facilmente previsíveis. Infelizmente a situação é grave e é difícil prever quem vai ganhar ou perder.Foram gastos até agora pelas grandes economias para socorrer as instituições financeiras atingidas e as grandes empresas como a GM e a Chrysler mais de 6 trilhões de dólares, ou um mil dólares por habitante do planeta. A crise mostra a falência do modelo neoliberal e os próprios limites do capitalismo.

A crise começou nos Estados Unidos, país que encabeçou a política neoliberal. Um dos motivos foi o longo período de taxas de juros baixas praticadas pelos bancos norte-americanos. A expansão de sua política monetária recebeu impulso a partir do aumento da produtividade e do baixo custo da mão-de-obra na China. A consequência foi o aumento do crédito e a inflação de vários ativos, em especial os imóveis e as commodities, como o petróleo. Basta citar um dado para ilustrar esse quadro: o barril de petróleo chegou a custar 140 dólares no início do mês de outubro – na semana passada, apenas dois meses depois, estava a 39,74.

Devemos considerar também outros agravantes no processo da crise: os bancos aumentaram o seu próprio risco com a garantia de crédito a todos os seus clientes, uma vez que o quadro regulatório das instituições de investimento permitiu alavancar os empréstimos. Em 2007 esse quadro se reverte e provoca a queda dos preços dos imóveis e um brutal aumento da inadimplência.

Sabemos que a situação do Brasil é a melhor entre os países emergentes. Desde a posse, o presidente Lula tratou com responsabilidade as questões econômicas e sociais. Os seis primeiros anos do governo Lula transformaram o Brasil num país mais forte, mais estruturado e mais preparado para enfrentar o desafio de desenvolver a economia e melhorar a vida da população.

Quando o PT e o presidente Lula assumiram a administração do país, o PIB era de 2,1 trilhões de dólares. Durante o nosso governo ele cresceu 21% e hoje é de 2,55 trilhões de dólares. Em outubro deste ano, nossas reservas estavam em 202 bilhões e 40 milhões de dólares.

Com a eleição de Lula houve uma mudança substancial na política econômica, diferente do que dizem alguns analistas. O que estava marcado para 2005 se tivéssemos perdido as eleições? A ALCA, que representava o completo atrelamento do Brasil aos Estados Unidos. Se tivéssemos dado vazão àquela política, hoje teríamos afundado.

Uma das primeiras iniciativas do presidente foi barrar as negociações da ALCA e abrir novos horizontes para o país em todo o mundo. Naquela época, as exportações brasileiras eram pequenas, 60 bilhões de dólares; as exportações do Brasil em outubro deste ano ficaram em mais de 197 bilhões de dólares, 20% a mais em relação ao mesmo período de 2007.Investimos em novos mercados e obtivemos sucesso. Em 2002, exportávamos 38% para os países em desenvolvimento e 62% para os desenvolvidos. Em 2007 esses percentuais foram repartidos em 50% entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. A América Latina é o destino de quase 40% de nossas exportações, mais do que o dobro do registrado no governo do PSDB e do PFL – hoje chamado DEM – quando a região absorvia apenas 16%.Temos vantagens porque não exportamos apenas commodities. Nós exportamos aviões, commodities, máquinas e, inclusive, tecnologia.

Nossa economia é dinâmica e com vantagens comparativas. Temos grande potencial de mercado interno, temos reservas de petróleo e de gás, temos regulamentação financeira. Desenvolvemos uma política industrial consistente no país. O presidente Lula determinou a retomada da indústria naval. Com as compras da Petrobras sendo feitas no Brasil, mudaram os marcos regulatórios da energia e de outros ramos. A Petrobras vai continuar implantando as plataformas, tanto nas camadas de pré-sal como nas do pós-sal, e vai continuar explorando e procurando petróleo, aumentando a tecnologia. Pagamos a dívida com o FMI e nos livramos daquele constrangimento de ter, todo dia, aquelas comissões fiscalizando e dando ordens. No entanto temos que ter claro que, mesmo forte, o país não tem condições de resolver todos os problemas que possam surgir. Nossa economia poderá sofrer novos impactos e as consequências serão sentidas de forma diferente pelas diversas camadas sociais. Não podemos afastar até mesmo o risco de recessão em 2009, conforme previsão de alguns analistas, porque não podemos excluir nenhum cenário.

Os maiores impactos desta crise econômica sobre o Brasil serão a redução significativa do financiamento externo das exportações, a restrição da liquidez para as empresas brasileiras, o encarecimento do crédito doméstico, as perdas patrimoniais no mercado de ações e a redução da expectativa sobre o PIB em 2009.As iniciativas do governo do presidente Lula para enfrentar a crise estão adequadas e temos a certeza de que ele continuará atento para não ter surpresas desagradáveis.

O Banco Central reduziu o compulsório dos bancos. A partir de uma medida provisória que já aprovamos no Congresso Nacional, o BC autorizou os bancos a comprarem ativos e carteiras de bancos menores, o que permitirá liquidez no mercado. A decisão de liberar mais recursos para o BNDES via empréstimo do Tesouro Nacional, garante recursos para os investimentos privados. Para a construção civil, foi criada uma linha de crédito de até 3 bilhões de reais para financiar capital de giro e a consolidação de empresas de capital aberto no ramo de construção de residências.

O governo deu mais segurança no mercado de câmbio com a decisão de realizar os leilões de linha de crédito com o compromisso de recompra. Parte das reservas cambiais, acumulada ao longo do governo Lula, será destinada a financiar empréstimos internacionais das despesas. Foi dada atenção especial para a agropecuária com o aumento do volume de recursos para o plano de safra 2008/2009 tanto para a agricultura empresarial quanto para a familiar.

Os assalariados também tiveram atenção especial do governo que promoveu maior justiça fiscal ao reduzir o imposto de renda desses trabalhadores e criar novas alíquotas na tabela do imposto retido na fonte. As medidas, anunciadas recentemente, foram acompanhadas ainda de isenção de IPI (imposto sobre produtos industrializados) para automóveis 1.0; redução, pela metade, do IPI de automóveis com motores até 2.0; diminuiu o imposto sobre operações financeiras (IOF) e ampliou a oferta de linha de crédito para empresas com dívidas que vencem entre setembro de 2008 e dezembro de 2009. Com essas iniciativas, o governo estimula o consumo e amplia o mercado de crédito doméstico.

Mesmo com a crise, o crescimento brasileiro em 2008 está garantido. De julho a setembro, a economia cresceu 6,8% em comparação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com os três meses anteriores – abril, maio e junho – o crescimento foi de 1,8% segundo dados do IBGE. Na pior das hipóteses, o Brasil já terá crescido 4,8% este ano, caso a economia nada avance no último trimestre em relação ao mesmo período de 2007. O Bolsa Família, programa que abrange hoje 11 milhões de famílias e beneficia mais de 14 milhões de estudantes, é dinheiro em qualquer cidade, seja pequena, grande, rica ou pobre. Isso favorece a economia em todo o país e já contribuiu com 21% da queda da desigualdade social entre 2003 e 2005.Vinte milhões de pessoas ascenderam à condição de classe média, podendo comprar, negociar e, assim, ajudar o desenvolvimento do país. Temos um mercado interno consistente que tem sido fortalecido pela política de aceleração do aumento do salário mínimo. O percentual do PIB para investimento é recorde em décadas. O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – vai continuar com as obras programadas com a previsão de recursos de 504 bilhões até 2010.

Confio que o Brasil vai sair desta crise muito maior do que entramos nela. Temos um governo sério que tem compromisso com o povo, compromisso com políticas de desenvolvimento econômico, geração de empregos e distribuição de renda. O presidente Lula monitora a crise com lupa e acredito que vamos, mesmo com a crise, responder de forma competente a questão.

Cândido Vaccarezza é deputado federal (PT-SP)

Publicado no portal do PT em 15/12/2008