O pânico é o paraíso dos especuladores, principalmente nas crises. Portanto, o cuidado com que o governo Lula vem tratando a presente crise, de modo a evitar qualquer pânico, não é uma questão secundária. Ela é essencial para que as medidas anti-crise tenham condições de efetivação.

O pânico é o paraíso dos especuladores, principalmente nas crises. Portanto, o cuidado com que o governo Lula vem tratando a presente crise, de modo a evitar qualquer pânico, não é uma questão secundária. Ela é essencial para que as medidas anti-crise tenham condições de efetivação.

Por outro lado, as medidas necessárias, para criar um maior grau de proteção do povo brasileiro diante dos estragos da crise atual, estão relacionadas com estímulos creditícios e fiscais, tanto aos micros, pequenos e médios empresários urbanos e pequenos e médios agricultores, quanto às empresas urbanas e rurais de maior porte. É ilusão supor que a quebra, ou a redução produtiva, das empresas capitalistas brasileiras, não causará dano ao povo como um todo.

O ideal seria termos uma mobilização social que permitisse ao Brasil aproveitar a crise para ingressar num projeto de desenvolvimento socialista, incluindo a transformação social da propriedade de uma parte considerável da economia nacional. Mas essa mobilização não existe atualmente, e não passa de sonho de uma noite de verão supor que o governo federal tem força para implantar algo parecido.

Fora de uma perspectiva socialista, qualquer outro projeto nacional de desenvolvimento tem caráter burguês, ou capitalista, mesmo que liberto das políticas neoliberais que vigoraram durante os governos Collor e FHC. Aumentar as reservas internacionais em euros, regulamentar os investimentos de curto prazo e implantar outros programas de investimentos, além daqueles previstos no PAC, são todas medidas de cunho capitalista, por mais que alguns procurem dourar a pílula.

O financiamento dos pequenos agricultores e o assentamento de milhares de trabalhadores sem-terra, na perspectiva de dobrar ou triplicar a produção de alimentos, nos próximos três anos, assim como os investimentos em infra-estrutura urbana e industrial, são parte de um programa de desenvolvimento condizente com a moldura capitalista. A vantagem dessas medidas é que elas podem ter a faculdade de recriar a força social dos trabalhadores assalariados, urbanos e rurais, o que, para o futuro, não é pouco.

Nessas condições, as medidas anti-crise reclamadas do governo Lula precisam centrar-se nos pontos chaves de manutenção do crescimento da economia brasileira. Isto é, controlar os capitais de curto prazo, cuja fuga ameaça liquidar as reservas em moedas estrangeiras; evitar o pânico, mantendo a liquidez do sistema financeiro nacional; ampliar o poder de compra do mercado doméstico, de modo a compensar as perdas do mercado externo; intensificar a produção de alimentos, com o assentamento ágil de centenas de milhares de lavradores sem terra, de modo a evitar a inflação e melhorar o poder de compra de amplas camadas da população; e evitar a quebra das empresas industriais e agrícolas, cujos mercados principais estão no exterior, de modo a impedir o crescimento do desemprego e a contração do mercado interno.

Se o governo brasileiro conseguir realizar as medidas acima com eficácia, ele estará fazendo jus ao papel que o povo brasileiro, e o dos demais países, estão esperando dele na presente crise. Não é por acaso que o protocolo de Bush, na recente reunião do G20, teve que colocar os presidentes do Brasil e da China ladeando o presidente dos EUA.

Wladimir Pomar é analista político e escritor.