Lisâneas e Alencar – A liderança jovem cassada
Apesar de ser, dos governos saímos do movimento de 64 o que menos cassou, o general Geisel retirou da vida política alguns dos mais expressivos líderes da nova geração de políticos. Marcelo Gato, Nadir Rosette, Amauri Müller, Lisâneas Maciel, Marcos Tito e Alencar Furtado, além do deputado estadual de SP Nelson Fabiano e dos vereadores de Porto Alegre Glênio Peres e Marcos Klassman, destacaram-se na vida política como novos e combativos parlamentares no período posterior ao AI-5, formando parte da Linha de frente do grupo dos autênticos surgido a partir das eleições de 70.
Lisâneas Maciel foi reeleito pela primeira vez para o mandato de deputado federal, representando o então Estado da Guanabara, com 97.726 votos, estando entre os mais votados de todo o país. Presidente da Comissão de Energia da Câmara e hoje atuando na Comissão Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça), Lisâneas destacou-se pela sua atuação em defesa dos direitos humanos e pelas denúncias de casos de torturas, desaparecimentos e assassinatos de presos políticos.
Alguns dos seus discursos, por isso mesmo, nunca foram publicados. Entre eles o que denunciou a morte do estudante Alexandre Vanucchi Leme, em 1973. No início da presente legislatura, em 1975, foi o principal proponente e articulador da formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o "desaparecimento" de presos políticos, o que resultou numa forte reação por parte do regime, considerando a proposta como uma colocação dos militares no banco dos réus. A direção do MDB findou manobrando, o que resultou na retirada da proposta. A cassação de Lisâneas foi conseqüência do combativo discurso que proferiu em protesto contra a cassação dos companheiros de bancada: os gaúchos Amauri Muller e Nadir Rosetti.
O advogado cearense Alencar Furtado foi encontrado no Paraná, onde estava radicado há vários anos, os 68.413 votos que o reconduziram ao parlamento em 74, do qual já tinha sido vice-presidente. Entre outros cargos de destaque, Furtado foi o presidente da CPI que apurou a participação das multinacionais em nossa economia. Rejeitado o seu voto, fez um relatório em separado.
Mas foi na função de líder do MDB, para o qual foi eleito derrotando o moderado Laerte Vieira (MDB-SC) por pequena margem de votos, que Alencar Furtado atingiu o auge de sua curta carreira política, retomando o estilo combativo de liderança a exemplo de Mário Covas (MDB-SP, cassado) e Pedroso Horta (MDB-SP, falecido). Paradoxalmente a sua cassação foi decorrência da utilização de uma lei que tanto combateu: a Lei Falcão. O discurso que proferiu na cadeia de televisão juntamente com outros parlamentares oposicionistas para 30 milhões de espectadores em todo o Brasil, irritou profundamente o sistema pelos temas que abordou: a solidariedade aos companheiros punidos, a defesa dos direitos humanos, o "desaparecimento" de presos políticos a deixar as esposas do "talvez, quem sabe?"