O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), inaugurou nesta sexta-feira (18), em Osasco (SP), memorial em homenagem a três militantes mortos durante a ditadura militar no Brasil. São eles: José Campos Barreto, João Domingues da Silva e Dorival Ferreira. Os trabalhadores foram operários e militantes de organizações de esquerda. José e João Domingues, do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Dorival, do Sindicato da Construção Civil de Osasco. A homenagem faz parte do projeto “Direito à Memória e à Verdade” da SEDH/PR que tem por objetivo recuperar a história recente do país para que os brasileiros conheçam acontecimentos da vida nacional e suas conseqüências nos dias de hoje.

A obra foi feita em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos e a prefeitura de Osasco, e integra a extensa programação da semana “1968 – Memórias de uma História de Luta”, que celebra os 40 anos da greve que mobilizou 12 mil trabalhadores de algumas das principais fábricas da cidade, em 1968. Entrou para a história como “Greve de Osasco”. O movimento tinha como objetivo afrontar a ditadura no país e melhorar as condições de vida dos trabalhadores. A história dessa luta será revivida em uma semana de debates e comemorações.

Na edição especial da revista Teoria e Debate sobre 1968, publicada pela Editora Perseu Abramo, há dois textos com fotos sobre a greve de Oscaso: um (“Movimento Deixou Raízes Profundas”) assinado pelo jornalista Marco Aurélio Weissheimer, e outro (“Os Mesmos Ideais”), de autoria de Roque Aparecido da Silva, um dos participantes do movimento grevista.

Este é o terceiro memorial feito pela SEDH. O primeiro foi feito na Faculdade de Medicina da USP, um no centro do Rio de Janeiro. Até agora foram homenageados: Edson Luiz, Chael Charles Schreier, Hiroaqui Torigoi, Antonio Carlos Nogueira Cabral e Gelson Reicher.

Conheça a história dos 3 homenageados

José Campos Barreto foi morto em 17 de setembro de 1971, em Brotas de Macaúbas, na Bahia, junto com Carlos Lamarca – o capitão do Exército que se engajou na luta armada contra o regime militar. Mais velho dos sete filhos de José de Araújo Barreto e Adelaide Campos Barreto, ainda muito jovem foi enviado a um seminário, em Garanhuns, Pernambuco, onde ficou por quatro anos. Aos 13 anos, já discutia política. Em 1963, decidiu não voltar ao seminário. Em 1964, mudou-se para São Paulo e serviu o Exército no ano seguinte, no quartel de Quitaúna. Estudou em Osasco, no Colégio Estadual e Escola Normal Antonio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo Estudantil Osasquense. Trabalhou como operário e destacou-se como importante liderança no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, em 1968.

Na Cobrasma protagonizou um de seus mais conhecidos feitos, quando a fábrica foi cercada, durante a greve de 1968. De cima de um vagão, discursou aos soldados, explicando as razões do movimento: chegou a paralisar a tropa por um momento. De posse de uma tocha acesa, ameaçou explodir o tanque de combustível da fábrica. A tropa hesitou e muitos operários conseguiram escapar da polícia. Cerca de 400 foram detidos. Barreto sofreu espancamentos já no ato da prisão. Permaneceu 98 dias entre os cárceres do DEIC e do DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus. Em 1969, militando na VPR voltou ao sertão baiano. Depois deslocou-se para o Rio de Janeiro e voltou à Bahia, onde passou a militar no MR-8. Com a chegada de Lamarca ao Estado, foi designado para acompanhá-lo e com ele ficou até a morte. Lamarca e Barreto foram mortos por agentes do DOI-CODI da 6ª Região Militar, chefiados por Nilton de Albuquerque Cerqueira.

Seus corpos foram levados para Brotas de Macaúbas e jogados no campo de futebol. Os agentes comemoraram, dando rajadas para o alto, gritando vitória e chutando os corpos. Depois, os cadáveres foram colocados em um helicóptero e transportados para Salvador. A família ainda tentou localizar o corpo de José Campos Barreto, mas ficou sem qualquer informação sobre o local onde poderia estar enterrado, jamais conseguiu seu atestado de óbito.

Os militantes da VAR-Palmares, João Domingues da Silva e Fernando Borges de Paula Ferreira foram interceptados por policiais civis por volta da meia noite do dia 29 de julho de 1969, na avenida Pacaembu, em São Paulo. Na versão oficial, os policiais suspeitaram do veículo utilizado por ambos. Fernando teria morrido imediatamente e João Domingues, apesar de gravemente ferido, conseguiu escapar, refugiando-se na casa de sua irmã, em Osasco, onde foi preso no mesmo dia. Filho de Eliza Joaquina Maria da Silva e Antônio José da Silva, o operário João Domingues tinha sido, ao lado de seu irmão Roque Aparecido da Silva, um dos líderes da greve realizada em Osasco (SP) pelos trabalhadores metalúrgicos, em julho de 1968, passando a ser constantemente ameaçado de prisão e morte. Nascido em Sertanópolis (PR), desde os 10 anos, ajudava o pai no trabalho com o gado, onde viviam, em Jataizinho (PR). Aos 12 anos, trabalhava no matadouro de Ibiporã (PR) e, aos 13, em Osasco, num açougue. Militou nas organizações de esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e VAR-Palmares.

Ao ser preso na casa da irmã, foi levado para o Hospital das Clínicas, onde os médicos submeteram-no a uma delicada cirurgia. Mesmo correndo risco de vida, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) transportaram-no para o Hospital Geral do Exército, onde iniciaram um processo de interrogatório e torturas que culminou com sua morte, no dia 23 de setembro.

Filho de Alvina Ferreira e Domingos Antonio Ferreira, nascido em Osasco (SP), Dorival Ferreira era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Operário, era filiado ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Osasco e Região – do qual foi candidato à presidência em 1965. Casado, pai de seis filhos, Dorival morreu aos 38 anos, após ser preso pelos agentes do DOI-CODI/SP. Na noite de 2 de abril de 1970, agentes de segurança invadiram a tiros sua casa, em Osasco. A versão oficial alegou que ele morreu em tiroteio.

As provas que contrariam a versão oficial vieram do Instituto Médico Legal (IML), da perícia técnica e do DOPS. Nas declarações do pai de Dorival, prestadas ao delegado do Deops Edsel Magnotti, no dia 2 de junho, consta que ao chegar na casa do filho só encontrou policiais que lhe disseram que Dorival tinha sido preso, sem informar para onde fora levado. Também veio do DOPS uma ficha de Dorival, com data de 30 de abril de 1970, informando que ele morreu em 3 de abril do mesmo ano, isto é, no dia seguinte à sua prisão.

Mais informações:
Assessoria de Comunicação Social
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Telefones: (61) 3429-3498 / 3429-9205 / 3429-3732
www.sedh.gov.br