Dizer forte da morte para mais falar dos direitos à vida, secar os adjetivos para dar mais substância, controlar a emoção para desregrar a palavra, a estratégia personalíssima poética de João Cabral de Melo Neto. Aqui, o cemitério pernambucano, levado à imagem insólita de “cementeira das cinzas para o tempo de semear”, é absorvido na paisagem da seca, “ossário mais geral”.

Cemitério Pernambucano

(Toritama)

Para que todo este muro?
Por que isolar estas tumbas
do outro ossário mais geral
que é a paisagem defunta?

A morte nesta região
gera dos mesmos cadáveres?
Já não os gera de caliça?
Terão alguma umidade?

Para que a alta defesa,
alta quase para os pássaros,
e as grades de tanto ferro,
tanto ferro nos cadeados?

-Deve ser a sementeira
o defendido hectare,
onde se guardam as cinzas
para o tempo de semear.

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