Esta edição especial do Periscópio tem a intenção de oferecer aos nossos leitores do Brasil e de outros países, uma visão panorâmica sobre o III Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, suas principais resoluções, algumas atividades especiais e, particularmente, a opinião de alguns dos convidados internacionais.

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Editorial
Agenda internacional do Congresso do PT
Um olhar sobre o mundo desde o Congresso do PT
Argentina
Paraguai
Chile
Bolívia
Colômbia
México
República Dominicana
Cuba
El Salvador
Panamá
Estados Unidos
Alemanha
Itália
Esquerda européia pensa em renovação inspirada pelo PT
Suécia
China
Japão
Frente Polisário e a independência do Saara Ocidental
Porto Rico

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Editorial

Esta edição especial do Periscópio tem a intenção de oferecer aos nossos leitores do Brasil e de outros países, uma visão panorâmica sobre o III Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, suas principais resoluções, algumas atividades especiais e, particularmente, a opinião de alguns dos convidados internacionais.

Este congresso terminou sendo um marco no bom nível do debate partidário, no fortalecimento da unidade e na reação aos constantes ataques feitos ao partido pelas forças da direita e pela grande imprensa.

Esta, inclusive, pelo jeito não aprendeu nada com a última eleição presidencial e tentou pautar diariamente o congresso sobre o que poderia e não poderia ser discutido e realizado, sobre o que Lula acharia e não acharia e sobre as resoluções que deveriam ou não ser aprovadas.

Porém, nem os delegados e as delegadas e nem os convidados ao Congresso, particularmente, o presidente Lula, se deixaram influenciar por este movimento.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, fez uma avaliação muito positiva do Congresso e de que era perceptível que havia um acúmulo político muito elevado entre os participantes que facilitou e deu muita qualidade ao debate das resoluções. Ao mesmo tempo, existia também um forte sentimento de unidade ajudando a compor resoluções de consenso e a manter a tranqüilidade, mesmo nas polêmicas.

Ele avaliou ainda que a resolução sobre o socialismo representou uma reafirmação do compromisso do PT com a transformação social e que as resoluções sobre o Brasil e a caracterização do governo apresentaram importantes projeções para o futuro do PT. Por fim, momentos muito importantes foram a intervenção do presidente Lula e a aprovação das resoluções sobre a reforma política e a democratização dos meios de comunicação.

O Congresso contou ainda com a presença de uma representativa delegação internacional composta por 115 convidados de partidos políticos amigos de 32 países de quatro continentes. Praticamente a metade da delegação internacional era de representantes de 28 partidos e organizações da América Latina e do Caribe. O único país governado pela esquerda na região e que não pode mandar representantes, foi o Equador em função da campanha eleitoral para a Assembléia Constituinte que ocorrerá em menos de um mês.

De acordo com o Secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, esta presença foi muito significativa e motivo de satisfação demonstrando as boas relações que o PT possui com diferentes partidos pelo mundo afora e que as nossas iniciativas despertam um grande interesse político internacionalmente.

Esta percepção do secretário foi integralmente confirmada nas entrevistas que a equipe deste Periscópio Especial realizou com representantes da maioria dos países que estiveram presentes.

Em relação ao Congresso, Valter Pomar avaliou que este superou as expectativas iniciais ao gerar debates interessantes, acordos avançados e decisões firmes e acertadas num clima de unidade diferente do anunciado pela mídia. O Congresso aconteceu e foi extremamente positivo para o partido.

Um momento alto foi o discurso que Lula dirigiu ao plenário do Congresso e que emocionou a todos. Valorizou o partido, o papel crucial que este tem exercido historicamente e, em particular, nos momentos de crise como o de 2005 e o seu protagonismo em relação às transformações que vêm sendo promovidas no Brasil.

Ele não se furtou de tocar no tema das acusações que tramitam no poder judiciário contra integrantes do partido dizendo que a lei vale para 180 milhões de brasileiros e que até o momento ninguém foi inocentado e também ninguém foi considerado culpado. Uma luta da magnitude da luta do PT não se faz sem dor e ninguém deve ter vergonha de defender um companheiro.

Segundo Lula, somos mais atacados pelos nossos méritos que por nossos erros e não temos do que nos envergonhar. “Não tenham medo de ser petistas, de andar com a estrela no peito. O PT é um dos grandes responsáveis pelos passos largos do Brasil rumo à dignidade. E isto também é percebido pelo mundo”. (Ouça a íntegra do discurso em www.pt.org.br).

Enfim, o III Congresso foi mais um marco na história do PT que além de animar a militância também apontou rumos para o próximo período.

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Agenda internacional do Congresso do PT

Havia uma ampla programação de atividades do Congresso com a intenção de aproveitar a presença dos convidados internacionais e oferecer a oportunidade para os militantes do PT participarem de diferentes discussões e se atualizarem sobre as diferentes situações existentes em outros países.

No dia 30 de agosto ocorreu o Seminário Internacional “Desafios dos governos de esquerda e progressistas na América Latina”, organizado pela SRI do PT com cerca de 100 participantes do Brasil e de outros países.

O seminário discutiu as perspectivas para a esquerda na América Latina, dentro e fora dos governos, com a participação de:

Renato Simões, da Executiva do partido e membro da coordenação de movimentos sociais; Niko Schvarz, representante da Frente Amplio do Uruguai; Carlos Moya Ureta, membro do partido Socialista chileno e coordenador do ILAES (Instituto de Altos Estudios Sociales); Sergio Cervantes, Partido Comunista de Cuba; Senador Santos Ramires Valverde, do Movimento Al Socialismo – MAS da Bolívia e José Reinaldo de Carvalho, Secretário de Relações Internacionais do PC do B.

Em um segundo painel:

João Felício, Secretário de Relações Internacionais da CUT e Secretário de Política Sindical do PT; Saul Escobar, PRD México; Nils Castro, PRD Panamá; Isaac Rudnik, Movimiento Libres del Sur, Argentina e o Senador River Franklyn Legro do Pólo Democrático Alternativo (PDA) da Colômbia.

A terceira mesa foi composta por:

Sonia Cepeda vice – presidente do Movimento Independentista Nacionalista Hostosiano de Porto Rico; Senadora Edmonde Beauzille, FUSION Haiti; Deputada Federal Maria do Rosário, Vice Presidente Nacional do PT e Fernando Lugo, Movimento Tekojoja do Paraguai.

Durante o Seminário Internacional, representantes dos principais partidos de esquerda da América Latina e do Caribe destacaram as dificuldades políticas enfrentadas pelos governos de esquerda eleitos recentemente e a necessidade de reformas destes Estados para a aplicação de políticas públicas de inclusão social.

O boliviano Santos Ramirez Valverde, do Movimiento al Socialismo, sublinhou a necessidade de recuperar a credibilidade dos partidos políticos junto às camadas mais carentes da população boliviana, de criar estímulos para a participação de lideranças populares e de integrar os processos sociais e os políticos, o que só se dará através de reformas das estruturas políticas do país.

Assim como os demais participantes latino-americanos do Seminário, os representantes brasileiros reforçaram a necessidade de reformas do Estado, que se contraponham às reformas liberais dos governos anteriores para alcançar um modelo de Estado mais includente, democrático e plural.

O responsável pelas Relações Internacionais do PC do B, José Reinaldo de Carvalho, afirmou que as mudanças do governo Lula são passos importantes para atender às demandas populares e romper o domínio imperialista nos países latino-americanos.

João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT, também apontou para a necessidade das reformas para estabelecer definitivamente uma agenda de esquerda no governo com um perfil que atenda às demandas populares.

Neste contexto, as propostas do PT para as reformas política, tributária e trabalhista ganham maior ressonância entre os governos progressistas da América Latina. Isaac Rudnik, argentino representante dos Movimientos Libres Del Sur, afirmou que é necessário continuar o aprofundamento do processo de resistência dos governos de esquerda, com reformas que contemplem os interesses populares.

River Franklyn, representante do Pólo Democrático Alternativo da Colômbia também seguiu no mesmo sentido, rechaçando a luta armada como método de promover as mudanças sociais de seu país e apontando as grandes reformas do Estado, a democracia e a erradicação das grandes desigualdades como saídas para uma verdadeira transformação latino-americana.

A senadora Edmonde Beauzile que faz parte da coligação de partidos de esquerda chamada FUSION e que é também vice-presidente do Senado haitiano apontou os principais problemas do Haiti: a dependência internacional, a inexistência de programas sociais e serviços básicos para a população, a incapacidade dos partidos de esquerda de mobilizar a população mais carente e a presença militar da ONU.

Por isso, para ela, o Congresso do PT é um aprendizado para a FUSION (que atualmente tem 6 senadores e 19 deputados na Assembléia haitiana), pela estrutura democrática e pela organização partidária e principalmente pela voz que dá às minorias.

As próximas eleições presidenciais e legislativas haitianas acontecerão em 2011, quando seu partido espera reagrupar as forças de esquerda para a reconstrução nacional. (Leia mais sobre as atividades da FUSION e da senadora Beauzile)

Niko Schwarz, jornalista e representante uruguaio da Frente Amplia no 3º Congresso do PT, viu as discussões do Congresso do PT como fundamentais para o Brasil, para a América Latina e para o mundo.

Segundo ele, o impacto da eleição de Lula e das ações de seu governo tiveram reflexos nas eleições posteriores em outros países latino-americanos, como Uruguai, Argentina e Bolívia e formaram uma conjuntura sem precedentes no continente, sendo um exemplo para as esquerdas do mundo

Niko também valorizou a diversidade dos governos progressistas na região e a particularidade de cada país em direção ao aprofundamento da democracia e redução das desigualdades. Segundo ele, o 3º congresso também foi importante neste processo, pois confirmou a importância de incorporação dos excluídos ao mercado, às oportunidades e ao mundo.

Por fim, ele viu a necessidade do fortalecimento dos laços entre os governos de esquerda latino-americanos, assim como na unidade interna nas esquerdas em países como a Colômbia e o México.
(Leia mais sobre o seminário internacional)

Outras atividades internacionais

A partir do início do congresso, no dia 31 de agosto, além da programação normal, a delegação internacional pode contribuir com uma série de debates especiais organizados pela Secretaria de Relações Internacionais do partido.

Uma primeira reunião possibilitou a discussão entre parlamentares brasileiros e estrangeiros a respeito do fortalecimento do Fórum Mundial de Parlamentares, criado no âmbito do I Fórum Social Mundial em 2001.

Participaram deste encontro os parlamentares do PT, Tarcisio Zimermmann (RS), Janete Pietá (SP), Pepe Vargas (RS) e Nilson Mourão (AC). Dos convidados internacionais participaram representantes da Alemanha, Angola, China, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Haiti, Itália, Palestina, Portugal, Republica Dominicana, Suécia e Uruguai.

Ao final do encontro ficou acordado que existe o compromisso em fortalecer este tipo de evento e foi aprovada uma proposta para se realizar uma Cúpula de Parlamentares em agosto de 2008 a fim de preparar as atividades para o VII Fórum Social Mundial de 2009 que será realizado em Belém do Pará..

O deputado federal Tarcisio Zimermmann ficou responsável por circular uma memória da reunião e demais informações a respeito das iniciativas.

(Leia mais sobre a criação do Fórum Parlamentar Mundial)

Em seguida, houve uma reunião de autoridades locais e responsáveis por Relações Internacionais de algumas prefeituras e os debates deste dia foram finalizados com uma apresentação sobre a Frente Polisário e a luta pela independência do Saara Ocidental.

Na abertura solene do III Congresso do PT, os oradores que saudaram os participantes do congresso em nome da delegação internacional foram os companheiros Fernando Ramirez do partido Comunista de Cuba e Eduardo “Lalo” Fernandez do partido Socialista do Uruguai.

No sábado, dia 1° de setembro, as atividades foram abertas com um discurso do presidente Luis Inácio Lula da Silva para o Congresso e que se encontrou em seguida com a delegação internacional.

Na parte da tarde foram realizados debates específicos sobre a situação de Cuba, de Nicarágua e Haiti.

No domingo, dia 2 de setembro, os convidados internacionais participaram do último dia do Congresso, assistindo as plenárias e realizando reuniões bilaterais com os representantes de outros países e lideranças petistas para discussão de possibilidades de cooperação, bem como trocas de experiência em temas como formação, meio ambiente, experiências de governo local, entre outras.

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Um olhar sobre o mundo desde o Congresso do PT

Aproveitando a presença de uma significativa delegação internacional que prestigiou o III Congresso do PT, a equipe do Periscópio Internacional aproveitou para conversar com vários deles sobre a situação nos seus países de origem e suas opiniões sobre a situação mundial e sobre o próprio Congresso do PT.

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América Latina

Argentina

Enquanto o Congresso do PT finalizava as suas atividades em São Paulo, estava também quase terminando a coleta de votos nas províncias argentinas de Córdoba e Santa Fé. Na primeira venceu o atual vice-governador da província Juan Schiaretti do Partido Justicialista (PJ – Peronista) e na segunda venceu o ex-prefeito de Rosário, capital da província, Hermes Binner, do Partido Socialista Argentino.

Principalmente, o resultado de Santa Fé é muito importante porque é a primeira vez que um partido de esquerda, externo ao peronismo, governará uma província e ainda mais a segunda maior do país depois da província de Buenos Aires. A terceira é Córdoba.

Estes resultados para a eleição presidencial de outubro foram importantes para a candidata Cristina Kirchner do PJ, pois os dois candidatos que disputavam o governo de Córdoba a apóiam e em Santa Fé, embora o candidato derrotado tenha sido Rafael Bielsa do PJ e ex-ministro das relações exteriores do governo de Nestor Kirchner, o novo governador Hermes Binner, não será hostil à candidatura de Cristina.

De acordo com Hugo Yasky, Secretário Geral da Central dos Trabalhadores da Argentina – CTA a senadora Cristina Kirchner deverá vencer as eleições já no primeiro turno, pois a maioria da população está satisfeita com o governo. Apesar dos ataques duríssimos da imprensa ao atual presidente e da vitória da direita na eleição da prefeitura de Buenos Aires, no geral esta se encontra dividida, sem discurso e sem propostas.

Do ponto de vista ideológico e de programa de governo, Hugo Yasky também prevê um avanço à esquerda no país com uma divisão ideológica mais clara no próprio PJ que é praticamente uma frente que vai da direita à esquerda e que desde o fim da ditadura militar até a eleição de Nestor Kirchner em 2003 teve hegemonia da direita.

Segundo ele, Eduardo Duhalde que lidera os setores mais conservadores do partido já teria declarado que, embora estejam todos unidos nesse momento em apoio à candidatura de Cristina Kirchner, após a eleição haverá uma separação entre seu grupo e os grupos mais próximos dela e do atual presidente Nestor Kirchner formando um bloco de centro-direita e outro de centro-esquerda.

Hugo avalia ainda que a CTA finalmente obterá sua “Personeria Gremial” com o novo governo – a “Personeria” é uma espécie de legalização jurídica da Central – o que será importante para enfrentar o monopólio sindical exercida pela CGT cujos dirigentes, apesar de “peronistas” se dividem entre estes dois blocos.

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Paraguai

Este país também esteve representado por uma ampla delegação que incluiu Fernando Lugo do Movimento Tekojoja. Lugo deverá ser o candidato à presidência da República do Paraguai nas eleições de 2008 com o apoio de uma frente de cinco partidos de oposição chamada “Concertación Nacional” e de uma rede de organizações sociais chamada “Bloque Social e Popular”. Além disto, foram coletadas mais de cem mil assinaturas de populares pedindo sua candidatura.

Hoje há sondagens de opinião pública que lhe atribuem a preferência de 50 a 60% dos eleitores, mas a interferência da imprensa, o terrorismo eleitoral que o classifica de esquerdista, a tentativa de impugnar sua candidatura devido ao fato de ter sido bispo até recentemente, são os primeiros acontecimentos de uma campanha eleitoral que tende a ser muito suja, inclusive, com risco de vida do próprio candidato.

Lugo, no entanto, está otimista sobre a possibilidade de mudar o Paraguai depois de mais de 60 anos de hegemonia política do Partido Colorado e 35 anos de ditadura de Stroessner.

Ele afirmou que quer manter uma relação especial com o Brasil e demais vizinhos e que os temas que despertam polêmica no Paraguai, como as usinas hidrelétricas de Itaipu e Yaciretá, presença de “brasiguaios” e o comércio de Ciudad del Leste deverão ser tratados diplomaticamente.

Fernando Lugo também concedeu uma entrevista mais longa para o próximo número da Revista Teoria & Debate.

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Chile

Carolina Cucumides, membro da direção nacional do Partido Por La Democracia de Chile, falou um pouco a respeito do governo de Michelle Bachelet, um governo com preocupações e sensibilidades diferenciadas e que enfrenta inúmeros desafios. Dentre os principais estão a reforma do sistema educacional, a melhoria da qualidade de vida da população, redução da pobreza no país, formulação de um plano de transporte público para as grandes cidades, além de um plano de proteção social que já está sendo gerado.

Já Carolina Cabrera, dirigente da juventude do mesmo partido, nos falou um pouco sobre o principal desafio político enfrentado pela juventude do Chile, que é a maior inclusão dos jovens na política, o que poderia se dar com a criação de um sistema de inscrição eleitoral automático que incluísse a todos ou que motivasse os jovens a se inscreverem, uma vez que votar não é obrigatório no Chile.

Quanto ao fato de mais de 50% da delegação chilena ser formado por mulheres, Carolina Cucumides explica que no momento da convocação para esta atividade foi solicitado pelo presidente do partido que participassem tanto homens quanto mulheres, o que sinaliza a preocupação do partido em relação à eqüidade de gênero na participação em atividades políticas.

Por sua vez, Carlos Moya Ureta que participou do Seminário do dia 30 se apresentou como membro de uma tendência interna do Partido Socialista do Chile que se reivindica herdeiro das posições defendidas pelo ex-presidente Salvador Allende, derrubado e assassinado durante o golpe militar de Augusto Pinochet em 1973. Ele foi mais crítica em relação ao atual governo de Bachelet.

Segundo ele, embora ela carregue o símbolo da mudança, não tem tocado nas questões econômicas e políticas de fundo e a maioria das medidas adotadas pelo governo são compensatórias.

Disse também, que devido às negociações realizadas no final dos anos 1980 para assegurar a transição para a democracia, a direita foi favorecida em alto grau. É praticamente impossível alterar a própria Constituição sob as regras atuais e assim o Chile estaria ainda vivendo sob uma transição inconclusa.

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Bolívia

Erwin Salcedo, dirigente do Movimento Bolívia Livre e membro de sua Comissão de Relações Internacionais, declarou que o III Congresso do PT superou suas expectativas, especialmente se levarmos em conta a difícil situação pelas quais o partido passou e afirmou que a liderança de Lula é inegável e que certamente continuará sendo um parâmetro de comparação para toda a América Latina.

Sobre o governo de Evo Morales na Bolívia, ele afirmou que este é produto de 25 anos de luta pela democracia participativa, o que significou a morte do sistema corrupto dos partidos tradicionais.

Em relação à Constituinte e a tensão entre as províncias bolivianas ele disse que o governo não pode voltar ao passado. Desde a mobilização popular de 1994, a Bolívia vem avançando na descentralização administrativa e agora com o projeto de autonomia deve avançar também no campo da descentralização política. A solução para que as tensões entre as províncias diminuam está na garantia do aprofundamento da descentralização e do reconhecimento das autonomias.

Erwin também ressaltou que o fato de a Bolívia ter a maior reserva de gás natural do Cone Sul deveria ser visto como uma complementaridade ao desenvolvimento do Brasil e no que tange a Petrobrás, ele afirmou que a nacionalização significou que ela pagará um pouco mais de imposto, mas que isto também trará segurança jurídica para que possa continuar investindo na prospecção e na exportação.

Para o Mercosul ele acredita que resta o desafio de criar espaços alternativos para que este mundo unipolar não seja hegemônico. Parece ser este o desafio da democracia neste início de terceiro milênio.

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Colômbia

O Pólo Democrático Alternativo (PDA) foi o segundo colocado nas eleições presidenciais realizadas em maio de 2006, com mais de dois milhões de votos para o candidato Carlos Gaviria. O partido é resultado da união do Pólo Democrático Independiente e da Alternativa Democrática e foi composto por uma rede de movimentos sociais e organizações democráticas e de esquerda. Foi fundado em 2005 e conta hoje com 18 parlamentares entre os 166 representantes no congresso, um número expressivo, além de alguns prefeitos e participação em governos provinciais.

De acordo com o congressista River Franklyn Legro, presente no III Congresso do PT, as perspectivas para o PDA nas próximas eleições regionais de 28 de outubro próximo são boas e as pesquisas mostram que o partido conseguirá avançar e ganhar espaços políticos. Na ocasião serão escolhidos alguns prefeitos e governadores, inclusive em Bogotá, já governada pelo Pólo.

A análise de Legro é feita em função de que o grande trunfo do PDA vem de sua base política, próxima aos cidadãos, e que segundo ele, já reconhece que pode haver uma força política alternativa à elite política e aos partidos tradicionais da Colômbia.

Diante dos sérios problemas enfrentados pelos colombianos como a taxa de pobreza ao redor de 40%, desemprego em 13% e um grande número de refugiados produzidos pelos fatores de violência como o paramilitarismo, narcotráfico e guerrilha, que não permitem que a paz seja uma opção. A questão do processo de paz entre o governo Uribe e os paramilitares não ser finalizado, permite que os paramilitares se reorganizem, o que é visto por Legro como muito séria.

O congressista chama a atenção para o fato de que cerca de 30% dos membros no congresso colombiano estarem atualmente presos, processados ou acusados por ligação com grupos paramilitares. Esta situação afeta profundamente a institucionalidade do país. Legro declara que o futuro está repleto de inseguranças, mas uma das certezas é de que um terceiro mandato para Uribe como presidente da Colômbia, através de mudanças na constituição, é impensável. (Leia mais em: documento del PDA de análisis sobre el paramilitarismo y la parapolítica en Colombia, página Oficial do Pólo Democrático Alternativo e especial sobre as eleições de 28 de outubro de 2007)

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México

Houve a presença de uma importante delegação do PRD do México e que comentou sobre a atual conjuntura no país após a posse e o início do governo neoliberal de Calderón. Apesar da fraude e do não reconhecimento pelo PRD do resultado eleitoral, o novo presidente vem ocupando espaços e se consolidando, o que é natural.

O PRD realizou um congresso nacional recentemente, mas de acordo com um de seus representantes entrevistados, Saul Escobar, as resoluções não deram conta de estabelecer uma estratégia frente a atual conjuntura.

O partido é hoje a segunda força política no México, mas a maior dificuldade é coordenar a ação do PRD enquanto partido de oposição, suas ações no parlamento e seus governos estaduais.

Por outro lado, seu candidato presidencial, Andrés Manoel Lopes Obrador, pretende continuar viajando pelo país e debatendo política como a população, como Lula fez no seu tempo por meio das “Caravanas da Cidadania”.

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República Dominicana

Jochi Pichardo, deputado do Parlamento Centro-Americano (Parlacen) pelo Partido de La Liberación Dominicana, atualmente no governo, elogiou o governo Lula como sendo um governo democrático, de esquerda e que está fazendo um excelente trabalho em relação à estabilidade da economia e geração de empregos.
Ele afirma que o trabalho que está sendo executado é essencial para diminuir a distância entre ricos e pobres e que os partidos progressistas devem ter um compromisso em construir essa realidade.

Jorchi também fez referência ao intenso debate de idéias presente em todas as atividades do congresso e acredita que o partido sairá fortalecido como organização política.

Sobre o desafio de acolher a enorme onda migratória que já levou mais de 1.500.000 de haitianos a procurarem refúgio no país irmão, Jochi afirma que esta é uma situação muito delicada para a República Dominicana, uma vez que a mesma é um país também pobre e com inúmeros problemas a serem tratados.

Esta situação faz com que a maior parte dos recursos públicos da República Dominicana seja gasta com despesas médicas para cidadãos haitianos, o que acaba criando uma situação muito delicada para a República Dominicana, por mais que esta deseje continuar ajudando.

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Cuba

A opinião de Sergio Cervantes, membro do departamento de relações internacionais do comitê central do partido comunista de Cuba sobre o 3o congresso do PT é que este servirá para fortalecer ainda mais o partido e aproveitou para falar um pouco sobre os principais desafios enfrentados por Cuba neste momento.

O primeiro deles continua sendo a premente necessidade de se encontrar formas para superar o cerrado bloqueio norte-americano. O país é o quarto maior produtor mundial de níquel, mas tem grande dificuldade de exportar, pois caso haja um miligrama de níquel cubano em material a ser comercializado nos EUA, estes não o compram e podem impor sanções ao país que tentou vendê-lo. O mesmo acontece com outros produtos e também com instituições que são penalizadas por manterem relações, mesmo que comerciais, com o governo cubano.

Outro desafio a ser enfrentado é a questão do precário transporte púbico em Cuba, que deve ser abrandado com a importação de ônibus da China.

E por fim, segundo ele, a grande prioridade do governo no momento é a situação das mulheres, que já são 65% da força de trabalho e 62% dos inscritos nas universidades e mesmo assim têm uma carga de trabalho excessivamente pesada devido à segunda jornada trabalhada em suas próprias casas. Isso porque a tradição cultural do homem cubano não permite uma justa divisão das tarefas domésticas, relegadas ao universo feminino.

Em relação à cooperação internacional Cuba clama o potencial humano como sendo seu maior atrativo, apesar de a área de tecnologia estar cada vez mais em evidência. Neste sentido afirma que mais de 270.000 cubanos já cooperaram internacionalmente de alguma forma.

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El Salvador

Como parte integrante da delegação internacional presente no III Congresso do PT, o jornalista Mauricio Funes de El Salvador conversou com a equipe do Periscópio sobre o processo eleitoral em seu país. Auto-definido como um jornalista de esquerda, Mauricio vem sendo apontado nas pesquisas de opinião como alguém que teria grandes chances de obter sucesso nas eleições presidenciais que se realizarão em março de 2009

Apesar da antecedência, o processo eleitoral salvadorenho já ocupa a agenda publica e dos partidos políticos com a seleção de candidatos para este pleito que além de presidente e vice-presidente, escolherá em janeiro de 2009, 84 deputados para o Congresso, 20 deputados para o Parlamento Centro-Americano e 262 prefeitos.

A candidatura para a presidência de El Salvador da Frente Farabundo Marti para la Liberación Nacional (FMLN) será definida na convenção do partido em novembro próximo. Mas a direção do partido já afirmou que está aberta a alianças e que o candidato não necessariamente necessita ser alguém filiado atualmente conforme anunciou o representante da Frente, Sigfrido Reyes, no Seminário Internacional. Isso abre portas para que inclusive Funes possa ser escolhido para concorrer nas eleições de 2009, embora não seja filiado a FMLN.

O presidente de El Salvador, Elias Antonio Saca, tem pressionado o jornalista a deixar seu programa de televisão diante dos altos índices de intenção de voto que recebe.

Em resposta, Funes dedicou uma edição inteira de seu programa diário para rebater as críticas e engrossar o coro de advogados, juristas e representantes da sociedade propondo que o próprio presidente, que acumula o cargo de presidente de seu partido, renuncie à direção da ARENA (Alianza Republicana Nacionalista) para dedicar 100% de seu tempo aos salvadorenhos de todos os partidos e tendências. (Leia mais sobre a pesquisa de intenções de voto realizada pelo jornal salvadorenho La Prensa Gráfica, publicada em 29 de agosto de 2007 e na página oficial da FMLN).

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Panamá

No Panamá há um partido progressista no governo (Partido Revolucionário Democrático – PRD) que desempenha um papel internacional importante na região centro-americana ao apoiar a independência de Porto Rico e o fim do embargo a Cuba. O presidente Martin Torrijos, filho do general Omar Torrijos, foi eleito em 2004 para um período de cinco anos, na primeira votação do país depois da entrega do controle do canal aos panamenhos pelos EUA.

O general havia sido um apoio importante para uma série de movimentos de libertação na região durante os anos 1970 e 1980 e foi quem negociou a devolução do canal, administrado pelos EUA, ao Panamá a partir do ano 2000. Ele morreu num acidente de aviação nunca devidamente esclarecido.

O atual governo vem tomando iniciativas, inclusive polêmicas, como a ampliação do canal, e enfrenta dificuldades como o recente conflito trabalhista ocorrido numa construção administrada pela empresa brasileira Odebrecht aonde um trabalhador foi baleado e faleceu.

Para vencer as últimas eleições, o PRD fez uma série de alianças ao centro que têm levado as políticas locais também nesta direção. Este debate foi suscitado pelo seu representante no Congresso, um amigo do PT a muitos anos, Nils Castro.

De acordo com sua intervenção no Seminário Internacional, nas democracias recentes na América Latina, os candidatos progressistas muitas vezes se aliam ao centro e à forças que não são de esquerda para ter maior apoio econômico e político para ganhar as eleições.

Depois, quando vencem, muitas vezes não detém o poder no país, mesmo comandando o governo e daí surge o dilema sobre fazer revolução ou reforma. Como resposta a ele, o principal desafio das esquerdas é trabalhar para a mudança da Cultura Política estabelecida, mobilizando e dando acesso à camada de pobres para participar da vida política dos países. (Leia mais na página oficial do Partido Revolucionário Democrático (PRD) do Panamá e página oficial da Presidência do Panamá).

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Estados Unidos

diante da complexa situação em que se encontra o presidente dos EUA, George W. Bush, com o pedido de demissão de seu principal assessor Karl Rove, chamado ironicamente pela oposição de o “Cérebro de Bush”, com a queda do procurador-geral de Justiça Alberto Gonzalez, indicado ao cargo por Bush, e com a publicação do relatório sobre a situação no Iraque mencionado em edições anteriores do Periscópio Internacional, parece evidente que nas próximas eleições presidenciais, o Partido Democrata tem grandes chances de voltar à Casa Branca.

Coincidente com este cenário favorável aos Democratas, participou pela primeira vez de um Congresso do PT um representante da Direção do Partido Democrata, Leo Perez Minaya. Ele também é responsável nas Américas pela organização dos democratas que vivem fora dos Estados Unidos por meio de uma seção do partido chamada Democrats Abroad (Democratas no Exterior). Na organização interna do partido e nas votações, este grupo funciona como se fosse um Estado extra.

Aproveitando a realização do Congresso e sua vinda ao Brasil, Perez afirmou que tem a expectativa de organizar, até o final de 2007, um núcleo Democrata no Brasil para registrar os cidadãos norte-americanos que têm direito a voto e que vivem no país, aumentando assim a participação nas próximas eleições presidenciais que serão realizadas em novembro de 2008.

Perez participou ativamente das discussões realizadas pela delegação internacional sempre enfatizando o papel dos latinos na vida política norte-americana. Segundo ele, dos 44 milhões de latinos que vivem nos EUA hoje, apenas cerca de 8 milhões participam das eleições e votam, fazendo com que o número de congressistas e senadores de origem latina seja muito menor do que os 14% da população que este grupo compõe.

Contudo, como o Partido Democrata recebe os votos de 70% dos latinos, 85% dos negros e 90% dos homossexuais, Perez acredita que a política de imigração do próximo governo deve mudar, inclusive sendo um dos grandes eixos da campanha eleitoral. Para ele, com o quadro atual, provavelmente a candidata do partido será Hillary Clinton, mas Barack Obama ainda tem chances de ganhar mais apoio e competir pela indicação do partido.

Perez ficou muito impressionado com o Congresso do PT e com o presidente Lula, declarando que as prioridades mencionadas pelo presidente em seu discurso são algo extraordinário como obra de governo. (Leia mais na página oficial – Democrats Abroad).

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Europa

Alemanha

Niels Annen, deputado alemão, membro do Comitê de Relações Internacionais e da Direção Executiva do Partido Social Democrata Alemão (SPD) afirmou que o Brasil desempenha um papel fundamental na América Latina. Ao exercer um papel de liderança natural na região, ajuda a impulsionar os demais países na busca por soluções viáveis e progressistas para seus próprios problemas.

Em relação ao governo alemão que é uma coalizão entre o SPD e a Democracia Cristã, ele ponderou que, como partido socialista num governo de coalizão é muito difícil corresponder a todas às expectativas e por isso é muito importante para a Alemanha ver como o Brasil está lidando com a atual situação. Ainda assim acredita que o governo está indo melhor do que a opinião publica o está pintando, pois não há mudança possível da noite para o dia e é preciso estar no governo para incidir sobre as políticas.

Já Helmut Markov, membro do Die Linke e deputado do Parlamento Europeu, bem como presidente da comissão para o comércio internacional afirmou que, apesar de vários países europeus terem recusado o projeto neoliberal quando da formulação e discussão da Constituição Européia, as ações dos governos da maioria dos países têm seguido uma direção neoliberal.

Ele também elogiou a atmosfera do congresso, que permite que as pessoas dêem sua opinião ao mesmo tempo em que procuram atingir o consenso na hora de formular as propostas.

Quanto à opinião de seu partido sobre os desafios apresentados pela forte onda de imigração que a Alemanha vem recebendo ele nos respondeu que um partido não é de esquerda se ele não é internacionalista. No entanto, as opiniões sobre esta questão se dividem e seu comentário reflete uma opinião pessoal.

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Itália

Francesca D’Ulisse, encarregada das relações internacionais com a América Latina e Caribe do Democratas de Esquerda (DS) surpreendeu-se com o Congresso do PT, por não ter havido o enfrentamento político que ela esperava. Ela afirma que as diferentes tendências parecem estar procurando um consenso para que o PT possa continuar a ser o eixo estratégico do governo, além de elogiar o grande desenvolvimento econômico e redistribuição de renda que tiveram lugar nestes últimos anos de governo.

Em relação ao governo Prodi, ela afirma que este vem tendo bons resultados, mas ainda não teve capacidade para comunicar o sucesso já obtido por conta da imprensa manipulada na Itália e também pelas dificuldades apresentadas para se governar com uma coalizão tão plural como a atual composta por 13 partidos políticos, onde apenas 3 deles tem mais de 5% dos votos.

Francesca também afirmou que esta é a primeira vez em décadas que um governo italiano tem uma verdadeira política em relação à América Latina, buscando cooperações em diversas áreas.

Quanto ao debate entre as esquerdas na Europa, Francesca afirma que o mundo mudou muito nos últimos anos e por isso a esquerda tem como desafio enfrentar novas demandas e dar novas respostas, para que seus partidos possam continuar desempenhando seu papel.

Também da delegação italiana, Fabio Amato, Secretário de Relações internacionais do Partido da Refundação Comunista, declarou ter se impressionado com o teor verdadeiramente socialista dos debates e com a reafirmação do caráter socialista do PT.

Ele afirmou que a esquerda do século 21, que enfrenta os novos desafios do seu tempo e tem que ser uma esquerda que luta pelo socialismo, pacifismo, ecologia e pela justiça social.

Em relação às ações da esquerda na Europa ele diz que é de suma importância coordenar esta força para que seja capaz de transformar o mundo e não somente administrá-lo. Para tanto foi criado na Europa o Partido de Esquerda Européia, nos moldes do Foro de São Paulo.

No entanto, segundo Amato, primeiramente, seria preciso superar a grave crise democrática que vem aumentando ainda mais a distância entre o povo e as instituições. Uma das possibilidades seria a formação de uma assembléia constituinte para reescrever a Constituição Européia sob novos moldes, não porque não concordamos com a integração, mas por conta de seu conteúdo neoliberal, anti-democratico e militarista.

Quanto ao governo Prodi, ele acredita que o governo não esteja ainda dando resposta adequada aos problemas sociais e econômicos, embora certamente o governo está melhor hoje do que na época de Berlusconi. Porém, ainda há uma crise social muito forte afetando a maioria do povo. Se esta situação persistir, ele teme que a direita acabe ganhando as próximas eleições.

Em relação ao governo Lula, Amato diz que se trata de uma experiência interessante, histórica, um impulso positivo para toda a América Latina, mas que neste segundo mandato é chegado o momento de fazer.

Há um fato novo por acontecer na política italiana que é a proposta da atual DS que se origina no ex-PC italiano, PCI, que agora pretende se unir com alguns dos partidos mais ao centro, originários da antiga democracia cristã e formar um novo partido chamado Democrata.

No dia 14 de outubro, espera-se o comparecimento de até dois milhões de pessoas às urnas para eleger o Comitê Político do novo partido e que, por sua vez, deverá escolher o atual prefeito de Roma, Valter Veltroni como Secretário Geral.

Esta decisão foi aprovada por aproximadamente 70% da direção do partido, sendo inclusive apoiada por lideranças como Massimo D’Alema e Piero Fassino sob os argumentos de reduzir a fragmentação partidária no país e na base de apoio do governo, de apresentar um partido mais aberto, com menos simbolismos e mais afinado com os consumidores.

A minoria que votou contra dificilmente aderirá a este novo partido, inclusive um bloco de parlamentares da atual DS e que buscarão se aliar à agrupamentos já existentes mais à esquerda como o Refundazione Comunista ou o Partido Verde.

O Grupo Social Democrata Europeu também sentirá esta mudança, pois o Partido Democrata não fará mais parte do bloco tendo em vista sua composição com os democratas cristãos.

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Esquerda européia pensa em renovação inspirada pelo PT

Representantes de importantes partidos e movimentos de esquerda da Europa compareceram ao Congresso do PT e usarão o resultado do Congresso como inspiração para a reformulação de suas posições políticas e projetos sociais.

Fazendo parte de governos em todas as esferas em países como Espanha, Itália e Portugal, a esquerda européia percebeu que não obtém grande repercussão no conjunto do continente e, no caso da Itália, encontram dificuldades políticas internas para governar e manter propostas e reformas progressistas.

Nos outros países, como a Alemanha, onde o partido social democrata está coligado com partidos de centro-direita ou em países que recentemente elegeram a direita, como a França de Sarkozy, a esquerda européia encontra dificuldade no diálogo com os movimentos sociais.

Cmo saída para esta atual configuração, diversos partidos da esquerda européia se reformulam e reorganizam, concentrando-se nos intercâmbios e na solidariedade entre suas diversas correntes na Europa e no mundo, para tentar buscar saídas e novas propostas para fazer oposição à onda dos conservadores governos europeus.

Diante desse quadro, foi unânime a opinião dos participantes europeus neste III Congresso que o governo Lula é fonte de inspiração fundamental para a esquerda da Europa, principalmente pelas suas políticas inovadoras de inclusão social, de diálogo com os movimentos sociais e o PT é exemplo positivo pela sua pluralidade e democracia nas suas discussões internas, deliberações e diálogos sólidos construídos ao longo de sua história.

A seguir, são citados os principais pontos do Congresso destacados pelos representantes europeus:

Maite Mola, a responsável da Secretaria Federal da Mulher do Partido Comunista Espanhol e membro do Partido da Esquerda Européia, destacou a Resolução da Secretaria das Mulheres como uma das mais avançadas e corajosas propostas do mundo.

Segundo a representante espanhola, a resolução das mulheres é “estupenda e muito valente”, principalmente por se posicionar pela autodeterminação das mulheres e pela legalização do aborto, em favor principalmente da condição das mulheres pobres, vítimas do aborto clandestino e do tratamento inadequado neste tipo de situação.

Para ela, as discussões abordadas durante o Congresso foram de extrema importância para a reafirmação dos valores de inclusão social e de continuidade das principais bandeiras do PT e do governo Lula.

Maite Mola ainda destaca a realização do II Congresso do Partido da Esquerda Européia, que se realizará em Praga, de 23 a 25 de novembro deste ano, onde serão apresentadas algumas propostas para a reorganização da esquerda no continente europeu. (Leia mais sobre as propostas da Secretaria das Mulheres do PT e sobre as principais propostas para o II Congresso do Partido da Esquerda Européia)

Um dos partidos políticos de esquerda mais influentes no mundo durante o século XX, o Partido Comunista Francês quer se reestruturar e repensar as questões de fundo do partido, tentando reinventar-se com uma nova posição de esquerda na França de Sarkozy. Para isso, o partido se dispõe a grandes debates, até com a possibilidade de trocar o nome do partido.

Obey Ament, do Departamento de Relações Internacionais do PC francês e membro do “Espaces Marx” fórum de discussão sobre marxismo, as atividades do Congresso do PT representam uma forma original da esquerda, completamente diferente da maneira européia.

Para Ament, o Partido Comunista francês e a esquerda européia devem se despir das antigas categorias e posições ortodoxas e se repensar principalmente através do debate horizontal com outros movimentos políticos de esquerda no mundo, restabelecendo o diálogo com os movimentos sociais e abrindo caminho para as novas demandas e problemas do mundo atual.

Para ele, o momento da primeira eleição de Lula, ao mesmo tempo em que Lionel Jospin e os socialistas perdiam na França, resgatou a esperança das esquerdas no mundo e alavancou a vitória de alguns governos progressistas na América Latina. Além disso, ele afirmou que a experiência do governo Lula mostrou que opções políticas à esquerda são possíveis e viáveis como contrapontos fundamentais à dita inevitabilidade da onda liberal na Europa.

Para tentar estabelecer os temas de importância, as novas propostas e as alianças de esquerda na França e na Europa, o Partido Comunista Francês realizará em 8 e 9 de dezembro deste ano, o seu Congresso. (Leia mais sobre o Espaces Marx e sobre o Congresso do PC Francês).

Ilda Figueiredo, Deputada Portuguesa no Parlamento Europeu, Vice-Presidente do Grupo da Esquerda Unitária Européia e Membro do Comitê Central do Partido Comunista Português, vê a evolução do PT durante estes anos como uma experiência exemplar para o Brasil, os países latino-americanos e para a esquerda no mundo.

Segundo ela, o caminho socialista acontece pela construção de alternativas econômicas e sociais dos trabalhadores e do campesinato, com realidades concretas através de políticas públicas, o que o governo Lula vem construindo com propriedade.

A deputada portuguesa participa da Delegação Parlamentar para o Mercosul no Parlamento Europeu (EUROLAT), que estimula as atividades conjuntas com o bloco sul-americano. Além de outros avanços entre os dois continentes, ela destaca a escolha do Brasil como aliado prioritário da União Européia, a primeira ação da atual presidência da UE, comandada por Portugal. (Leia mais sobre o EUROLAT).

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Suécia

Depois da primeira derrota para a coligação de direita formada pelo Moderaterna (Partido Moderado) em 2006, após exercer três mandatos seguidos, o Partido Social-Democrata Sueco (Socialdemokraterna) busca ampliar sua cooperação com outros movimentos de esquerda no mundo e enviou seus representantes para o 3º Congresso do PT.

O deputado Olle Thorell e o assessor de relações internacionais do Partido sueco Martin Sandgren, viram o Congresso como um exemplo de organização partidária e no programa do PT, um exemplo de efetividade das políticas públicas de esquerda, o que segundo eles está sendo comprovado com os números do governo Lula.

Mencionando a origem socialista e democrática do PT os representantes do partido sueco ainda destacaram a importância das relações com o Brasil e principalmente com a cidade de São Paulo, que segundo eles é a segunda maior cidade industrial sueca no exterior. (Leia mais em artigo de Marco Aurélio Garcia sobre as relações da Social-Democracia e do PT, publicado pela Teoria &Debate em 1990).

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China

A delegação chinesa participou do Congresso do PT a fim de aprender com a visão dos petistas, segundo declarou Wang Hua, Diretor Geral do Comitê Central do Partido Comunista da China para a América Latina e Caribe.

De acordo com ele, a participação no Congresso do PT pode auxiliar o Partido Comunista da China em três eixos principais: na exploração teórica na busca de um caminho próprio para a construção de um novo país, na aprendizagem do espírito democrático das amplas discussões sobre o socialismo apresentadas no Congresso e no estado de ânimo, e de participação nas discussões sobre o futuro do partido e da sociedade.

Com relação ao governo do presidente Lula, o representante chinês foi categórico ao afirmar que este governo representa a vontade e os interesses dos brasileiros de todos os estratos da sociedade, sobretudo os menos favorecidos. Hua listou como medidas do sucesso do presidente o combate à fome, o investimento em saúde pública, o combate à inflação, a reconstrução da economia, a ampliação da oferta de empregos, a consolidação da infra-estrutura, o incremento da produção, o aumento das exportações e a extraordinária política externa de paz e amizade.

Hua também fez questão de sublinhar a relação especial entre Brasil e China, de natureza estratégica de ambos lados, com o Brasil sendo o maior sócio comercial chinês na América Latina e a China sendo o principal mercado brasileiro na Ásia, e com tendências a aumentar o intercambio econômico.

Com relação às recentes reformas ocorridas na China, com mudanças nas leis anti-monopólio, trabalhista, e de propriedade, Hua declara que o objetivo delas é consolidar e melhorar o sistema socialista de natureza chinesa. Para tanto, o Partido Comunista realizará a partir de 15 de outubro próximo seu 17º Congresso a fim de reafirmar as orientações do partido e da sociedade chinesa da necessidade de atingir um crescimento mais coordenado, harmonioso procurando alcançar um patamar de desenvolvimento econômico sustentável.

No Congresso uma nova equipe dirigente será escolhida e a expectativa é de que seja uma direção jovem, com conhecimentos mais amplos, modernos e que possibilitem que o partido estreite suas relações com as massas populares e trabalhadores para que o país, em um momento no qual pretende acelerar o desenvolvimento econômico, possa fortalecer o investimento social. Leia mais sobre o Congresso do PCC).

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Japão

O representante do Partido Comunista do Japão, Yasuo Ogata, vice-presidente do Comitê Executivo, diretor do Departamento Internacional e ex-senador declarou estar extremamente impressionado com a militância, o entusiasmo e a política bem elaborada de forma coletiva que ele viu no Congresso do PT.

A participação de uma delegação do Partido Comunista japonês é justificada pela grande atenção que geram as mudanças ocorridas na América Latina em direção a uma tendência de esquerda progressista como a vista no Brasil e na Venezuela. A importância do Brasil para a América Latina em função de seu tamanho, recursos naturais e política externa extremamente habilidosa, foram mencionadas por Ogata na análise de sua impressão sobre o Brasil.

Lembrando-se de sua participação no senado japonês, Ogata recordou que o presidente Lula enviou uma mensagem ao congresso de seu país em agosto passado apoiando o movimento anti-atômico, do qual ele participa ativamente.

Já com relação ao Japão, Ogata mostra-se muito otimista com as perspectivas para seu partido e a esquerda em geral em seu país, principalmente diante do fracasso do partido que forma a coalizão de governo (PLD) nas ultimas eleições realizadas em julho e dos escândalos envolvendo o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe. (Leia mais na página oficial do Partido Comunista do Japão).

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A luta anti-colonialista também se fez presente

Frente Polisário e a independência do Saara Ocidental

O representante da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) no Uruguai e integrante da delegação internacional, Emiliano Gómez, apresentou o tema da luta pela independ6encia do Saara Ocidental e solicitou apoio do Brasil para reconhecimento do país.

A República Saaraui foi território colonial da Espanha de 1882 a 1975 e com a morte do General Francisco Franco, foi anexado ao Reino do Marrocos e pela Mauritânia. Após três anos de guerra, em 1979, o Marrocos derrotou a Mauritânia e adquiriu o controle sobre a região. O governo argelino teve um importante papel no conflito dando asilo aos refugiados saarauis e impedindo um massacre da população local.

A ocupação do território pelo Marrocos frustrou um processo de independência em curso e a Frente Polisário, formada na década de 1960, entrou em conflito com o exército marroquino numa luta que durou até 1991 quando foi acertado um cessar-fogo entre o reino de Marrocos e a Frente mediado pela ONU para realização de um plebiscito sobre a independência ou não do país.

Hoje 82 países reconhecem a RASD, sendo 28 deles na América Latina e no Caribe – com exceção de Argentina, Brasil e Chile. O território participa da União Africana onde ocupa uma das vice-presidências desde 1984.

O apoio do PT à causa da Frente Polisário foi expresso no interior do texto da resolução internacional aprovada no III Congresso e a expectativa dos saarauis é que a diplomacia brasileira reconheça o país. Contudo, a posição do governo brasileiro é a de que a área ainda está em litígio e, portanto, a situação não pode ser definida enquanto não for realizado o plebiscito proposto pela ONU. O obstáculo principal que tem impedido o avanço das negociações é quanto a quem votará nesta consulta, uma vez que a ocupação marroquina dispersou as comunidades saarauis tradicionais e estimulou a imigração marroquina para o território. (Leia mais sobre a RADS e a Frente Polisário).

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Porto Rico

Presente no congresso, a vice – presidente do Movimento Independentista Nacional Hostosiano de Porto Rico, Sônia Cepeda declarou considerar o governo Lula uma esperança para a esquerda de Porto Rico e de todo o mundo.

Ela também aproveitou para manifestar sua solidariedade ao PT que, segundo ela, vem desde seu início apoiando o movimento em prol da independência porto-riquenha, que enfrenta grande dificuldade para avançar, mesmo estando respaldado nas 25 resoluções da ONU que pedem providências aos EUA para concederem autonomia a Porto Rico.

Por outro lado, o triunfo do “Vieques”, um movimento de desobediência civil que logrou desocupar esta ilha ao leste de San Juan antes ocupada pela marinha norte-americana, demonstrou ser possível lutar com outras armas contra as tentativas de dominação dos EUA, cujas conseqüências muitas vezes passam despercebidas diante dos olhos do mundo e até mesmo dos países latino-americanos.

Sônia relatou que esta situação de subordinação aos EUA é como uma camisa de força que não permite um real desenvolvimento do país e que, pelo contrário, leva embora cinco dólares de cada seis investidos na ilha.

Ainda segundo ela este é o melhor momento para a luta pela independência de Porto Rico, pois apesar de todas as dificuldades encontradas, finalmente foi possível estabelecer uma unidade entre os setores de esquerda do país, o que impulsiona o movimento para a tomada de novas ações.

Veja as Resoluções aprovadas no III Congresso no portal do PT.