O princípio esperança

Judeu alemão e marxista, vivendo nos tempos mais sombrios, Ernst Bloch construiu toda uma obra voltada para a felicidade e para a utopia. Humanista e socialista, foi desde a revolução húngara de 1956 perseguido pelo estalinismo. A sua obra magna O princípio esperança, em três volumes, foi editada recentemente no Brasil pela Editora Contraponto.

A seguir, um pequeno trecho da prosa expressiva e barroca de Bloch, povoada de símbolos e imagens de beleza, no qual toma partido pelo “Eros dialeticamente aberto” para o novo e o futuro:

“ Somente ao se abandonar o conceito imóvel e fechado do ser surge a real dimensão da esperança. O mundo está, antes,repleto de disposição para algo, latência de algo,e o algo assim intencionado significa plenificação do que é intencionado. Significa um mundo mais adequado a nós, sem dores indignas, angústia, auto-alienação, nada. Esta tendência, porém, está em curso para aquele que justamente tem o novum diante de si. É somente no novum que o para-onde do real mostra a determinação mais fundamental do seu objeto, e esta convoca o ser humano, em quem o novum tem os seus braços. O saber marxista significa que os difíceis processos de ascensão se desenvolvem tanto no conceito quanto na práxis. Na problemática do novum reside a abundância de campos do saber ainda inabitados. Nela, a sabedoria do mundo torna-se novamente jovem e originária. Se o ser se compreende a partir do seu de-onde, então ele se compreende, a partir daí, apenas como um para-onde igualmente tendencial, ainda inconcluso. O ser que condiciona a consciência, assim como a consciência que trabalha o ser, compreendem-se em última instância somente a partir de onde e para onde tendem. A essência não é o que foi, ao contrário: a essência mesma do mundo situa-se na linha de frente.”