“… um país dominado, ou anteriormente dominado, que não modifica sua situação na divisão capitalista do trabalho internacional não faz senão reproduzir a sua situação desfavorável: quanto mais cresce a produção dos produtos que o seu “lugar” lhe atribui, mais participa do agravamento da sua situação desfavorável (as manipulações de preço não podem modificar esse fato enquanto subsistir uma economia mundial capitalista).” Bettelheim, Charles, Relações Internacionais e Relações de Classe. In: Bettelheim, Emmanuel et alli. Um Proletariado Explorador? Iniciativas Editoriais, Lisboa, 1971, pág. 27.

A formação econômico-social brasileira vem sofrendo nas duas últimas décadas, desde meados dos anos 1980, transformações em razão do que vem passando o sistema capitalista em busca de retomar níveis mais altos da taxa de lucro. A América Latina tornou-se útil à contínua valorização de capitais voláteis e especulativos da economia mundial.

“Globalização” e “política neoliberal” como centro da necessidade de elevar as taxas de lucro dos capitalistas mediante o rebaixamento do valor da força de trabalho tanto nos países dominados quanto nos países dominantes. Conseqüentemente a internacionalização das cadeias produtiva passou a dividir-se e situar-se em diferentes países, com forte reflexo no setor industrial da economia brasileira. A privatização e a desnacionalização transferem pro capital externo e privado nacional desde empresas estatais a setores de atuação do Estado como previdência, saúde, educação, infra-estrutura e outros. O deslocamento da indústria capitalista pra Ásia meridional e oriental, Índia e, sobretudo, China, gerou uma enorme demanda por produtos básicos especialmente alimentos, petróleo e minerais/metais como ferro, níquel, aço, alumínio, cobre e zinco, a expansão do consumo de minerais/metais na China cresceu, proporcionalmente, mais do que seu PIB, assim como o consumo de borracha natural, algodão, madeira, etc, que norteou a especialização do Brasil na produção e exportação de commodities.

Este fato tem sido determinante pra que o Brasil assuma o seu lugar no sistema que as transformações da economia mundial lhe determinam, traz mudanças significativas pra situação sócio-econômica brasileira e, portanto, mudanças na posição da classe trabalhadora brasileira.

Estas mudanças têm de ser levadas em conta por quem quer fazer a análise concreta da conjuntura da luta de classes e o sonho socialista. No Brasil, a indústria sofreu um processo em que perdeu não só setores industriais relevantes, como também elos de cadeias produtivas de segmentos industriais importantes. Cedeu cada vez mais o papel de setor dinâmico, que a indústria ocupava na economia pros setores do agronegócio, da mineração para exportação, para o setor de fabricação e montagem de bens de consumo ou partes desses bens para exportação em empresas de capital externo ou a ele associado, significando uma mudança na estrutura econômica, social e política sob o peso de forte ofensiva econômica, política, ideológica desta realidade.

Os resultados da economia festejados nos últimos dez anos, apresentados como significativo avanço, maior independência, desenvolvimento econômico e social do Brasil só representa a obediência às determinações do capital globalizado e o aprofundamento da posição do Brasil na nova divisão internacional do trabalho e sua crise e a consolidação de que somos mais explorados e mais dominados.

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*Artigo enviado em 09 de abril de 2007