Um olhar sobre o Mundo
Os processos eleitorais na Argentina, Guatemala, França, Irlanda são abordados na edição de junho. O boletim traz também notícias sobre os cem primeiros dias do governo Correa no Equador, a liberdade de imprensa na Venezuela, a disputa geopolítica entre EUA e Rússia, a reunião do G8 na Alemanha, e outros.
Iniciado o processo eleitoral argentino
Uribe tenta mudar a agenda política na Colômbia
Os cem primeiros dias do governo Correa no Equador
Eleições gerais na Guatemala
Liberdade de imprensa na Venezuela
EUA – Bush “rides again”
As eleições parlamentares na França
Eleições parlamentares na Irlanda
A disputa geopolítica entre EUA e Rússia
Prossegue a conflagração no Oriente Médio
O Banco Mundial e a nova escolha de Bush
China e o Programa Nacional de Mudança Climática
A Reunião do G8 na Alemanha
A 96ª Conferência da OIT
A 37ª Sessão da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos
Iniciado o processo eleitoral argentino
A definição do quadro político argentino começou a ser desenhado no dia 3 de junho com a realização do primeiro turno das eleições municipais de Buenos Aires. O candidato da direita, Mauricio Macri chegou em primeiro lugar com 46,5% dos votos e o peronista, Daniel Filmus, apoiado pelo presidente Nestor Kirchner chegou em segundo com aproximadamente 25% dos votos. O atual prefeito Jorge Telerman, candidato à reeleição, ficou em terceiro lugar e, portanto, está fora do segundo turno.
Macri, empresário e também presidente do popular clube de futebol Boca Juniors, havia disputado a última eleição para prefeito da capital com Aníbal Ibarra da Frepaso em 2003 quando também chegou à frente no primeiro turno. Acabou perdendo, embora por pequena diferença. Posteriormente Ibarra foi destituído do cargo por decisão da Câmara Municipal ao ser responsabilizado politicamente pelo incêndio da Boate Cro-Magnon, aonde morreram dezenas de pessoas. Seu substituto foi Telerman que também é do Partido Justicialista – PJ (Peronista), embora de uma corrente política diferente da de Filmus. Macri foi partidário do ex-presidente Carlos Menem, que também é do PJ.
O segundo turno em Buenos Aires ocorrerá em 24 de junho e derrotar a direita desta vez não será fácil. Todavia, as últimas pesquisas apontam uma diferença a favor de Macri de 8%, pois ele teria 48% da preferência dos eleitores contra 40% para Filmus a aproximadamente duas semanas da eleição, o que ainda permite considerar a possibilidade de uma virada.
A popularidade de Kirchner continua alta e sua reeleição para cumprir um segundo mandato sempre foi considerado como provável. Porém, a eventual vitória de Macri, devido ao peso eleitoral da capital, animará a direita para a disputa da eleição presidencial em novembro, embora independentemente deste resultado ainda seja cedo para prognósticos, pois a continuidade do bom desempenho da economia e das políticas progressistas continua favorecendo a reeleição de Kirchner.
Seu principal oponente deverá ser o ex-ministro da economia Roberto Lavagna com o apoio de uma parte da Unión Cívica Radical (UCR), pois a outra parte apóia Kirchner. Elisa Carrió deverá se apresentar mais uma vez, embora com poucas chances.
Uma outra eleição argentina que vale a pena acompanhar de perto é a do governo da província de Santa Fé, em setembro, aonde o atual deputado pelo Partido Socialista e ex-prefeito de Rosário, Hermes Binner, está em primeiro lugar nas pesquisas e enfrentará o PJ dividido entre dois candidatos, o que amplia suas chances.
Uribe tenta mudar a agenda política na Colômbia
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe vem enfrentando forte desgaste a alguns meses devido a contínuas denúncias sobre o envolvimento de membros de seu governo, bem como de governadores e parlamentares aliados com os grupos paramilitares de extrema direita. (Ver Periscópios 12, 13 e 14).
O acordo que negociou com os comandantes das Autodefensas Unidas de Colômbia (AUC) para se entregarem e obter penas de prisão mais brandas em troca da confissão de seus crimes acabou produzindo vasto material comprobatório para os tribunais. A Suprema Corte levou estas informações a sério e decretou a prisão de 12 parlamentares e de dois governadores, além de provocar a renúncia da Ministra de Relações Exteriores cujo irmão era ligado às AUC.
Além deste escândalo que já se tornou conhecido como “Paragate”, os parlamentares americanos do partido democrata que hoje têm maioria no congresso americano, têm relutado em levar adiante a aprovação do Tratado de Livre Comércio (TLC) entre Colômbia e EUA, além de tentar reduzir as contribuições americanas para o Plan Colômbia, particularmente, o percentual previsto para ajuda militar.
O desgaste político de Uribe só não é maior porque a imprensa colombiana o defende com grande empenho e manipula as pesquisas de opinião.
Para tentar remover o “Paragate” da agenda política, ele agora vem gerando uma série de fatos para tentar conseguir a libertação de reféns sob controle das FARC, entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Bitencourt, seqüestrada a cinco anos. Como ela possui duas nacionalidades, colombiana e francesa, o governo do recém eleito Sarkozy também tem apoiado as iniciativas de Uribe, a ponto de incluir uma menção ao fato na recente declaração do G-8 na reunião realizada na Alemanha. Um objetivo colateral disto era fortalecer a imagem de Sarkozy na França.
As FARC exigem a desmilitarização de dois municípios, Pradera e Florida, que representam uma área de aproximadamente 800 km2 para servir como eventual local de troca de prisioneiros e também como condição para iniciar eventuais conversações de paz.
Entretanto, Uribe desdenhou desta reivindicação e anunciou que libertaria, unilateralmente, 120 membros das FARC e que esperava que estas, em troca, libertassem as 56 pessoas que estariam sob sua custódia.
Como primeiro passo, o governo colombiano libertou Rodrigo Granda que agora se encontra sob a proteção da nunciatura do Vaticano em Bogotá. Anteriormente ele era um dos representantes do grupo no exterior, mas foi preso em 2005 na Venezuela, sob circunstâncias que abalaram a relação entre os dois países. Gerou-se a versão que Granda foi libertado para servir de intermediário nas negociações, o que ele negou.
O grupo guerrilheiro, por sua vez, agradeceu pelo fato de ser reconhecido como parte do conflito na declaração do G-8, mas declarou que não aceita imposições unilaterais. Tem lógica, pois além de Uribe não querer estabelecer um diálogo formal, pois isto contrariaria o discurso duro que garantiu suas duas eleições para presidente, tampouco há qualquer garantia que ele leve adiante as libertações dos prisioneiros.
Esta segunda preocupação é uma forte possibilidade, pois no mesmo momento que poderia ser crucial para algum tipo de acordo entre governo e FARC, Uribe viajou para os EUA pela segunda vez em um mês.
O objetivo da viagem era mais uma vez fazer lobby junto aos democratas em favor do TLC, mas desta vez contou com o apoio de um escritório especializado em lobby junto aos democratas e de Shakira, uma cantora colombiana radicada nos EUA. O grande momento foi a realização de um jantar em homenagem ao ex-presidente Bill Clinton por ele ter iniciado o Plan Colômbia e declarar que havia “avanços na erradicação da produção de coca na Colômbia”, pois este marketing interessava ao governo colombiano.
Na prática foi um novo factóide. As lideranças democratas sugeriram que ele somente voltasse no ano que vem para que então se pudesse verificar se houve algum progresso no Colômbia quanto ao respeito aos direitos humanos e sindicais, condição que eles impõem para aprovar o tratado comercial.
Sem entrar no mérito desta exigência, realmente, os números são dramáticos. Somente em relação aos atentados contra a liberdade sindical, contabilizam-se 2.475 assassinatos de dirigentes e ativistas sindicais desde 1986. No ano passado foram 72 e este ano foram 10, até o momento de acordo com o monitoramento feito pela Escuela Sindical Nacional de Medellin.
De qualquer maneira, a pauta da imprensa colombiana mudou. Resta ver se o tema do “Paragate” retorna. (Leia mais em: http://www.sfgate.com e http://www.latimes.com).
Os cem primeiros dias do governo Correa no Equador
O presidente Rafael Correa do Equador acaba de ultrapassar o período de 100 dias de governo e a avaliação é positiva. Ele obteve sucesso na primeira parte de sua principal estratégia que foi a de aprovar a eleição de uma Assembléia Constituinte para reformar a Constituição do país.
O Supremo Tribunal Eleitoral acaba de anunciar a realização da eleição dos deputados constituintes para setembro e sua posse e início dos trabalhos para outubro. O prazo que terão para elaborar a nova Constituição é de seis meses, prorrogáveis por mais três quando o resultado será submetido a um referendo.
No entanto, como em todos os países onde as forças progressistas estão no governo, Correa vem sendo duramente pressionado pelos grandes meios de comunicação, pois estes não querem que ele se envolva na campanha eleitoral. A preocupação dos empresários, donos destes meios, é que a mesma visão e apoio popular que sustentam o governo de Correa se tornem hegemônicos na composição da Constituinte.
Ele já declarou que vai fazer campanha a favor dos candidatos progressistas e também entrou com um processo judicial contra o dono de um dos maiores jornais do país devido a publicação de um artigo calunioso que este assinou. Claro que o acusado se escora na liberdade de imprensa para se defender e considera a ação judicial um ato ditatorial.
Além destas questões, Rafael Correa também tem adotado uma série de outras medidas que o diferem dos governantes anteriores como a pressão sobre os bancos para que reduzam as taxas de juros, instalação de uma Comissão da Verdade para investigar os abusos e violações de direitos humanos cometidos nos anos 1980 e 90, limitou o turismo pra o arquipélago dos Galápagos devido ao atual precário equilíbrio ecológico nas ilhas e apóia a ação judicial que reivindica o pagamento de US$ 6,0 bilhões da Chevron pela poluição causada na Amazônia Equatoriana.
Ele também tem conseguido levar adiante uma política externa independente e cultivado boas relações com os países sul americanos. Uma de suas negociações mais recentes é com a Petrobrás e a possibilidade dela investir em exploração de petróleo equatoriano. (Leia mais).
Eleições gerais na Guatemala
No início de maio, o Supremo Tribunal Eleitoral da Guatemala emitiu a convocatória para que fossem iniciados os procedimentos gerais para a eleição que se realizará no dia 9 de setembro próximo. A campanha guatemalteca será acompanhada por 20 observadores internacionais e outros 150 delegados representando a Organização dos Estados Americanos (OEA) chegarão ao país uma semana antes da votação.
Atualmente a Guatemala conta com 5 milhões e 600 mil eleitores que escolherão o presidente e vice-presidente, os deputados do Congresso unicameral e os representantes locais (prefeitos e os equivalentes a vereadores). No total, serão eleitos cerca de 3000 representantes.
Na última pesquisa de opinião divulgada na Guatemala, o candidato à presidência pela União Nacional pela Esperança, Álvaro Colom, encontra-se a frente na disputa com apenas 20,6% das intenções de voto. Seguido de Otto Perez Molina do Partido Patriota com 11,1%, Alejandro Giammattei, ex-diretor dos presídios guatemaltecos, da Grande Aliança Nacional, com 7,1% dos votos e em quarto lugar Rigoberta Menchu, pelo Encontro pela Guatemala, com 2,9% das intenções de voto. Há em torno de 42% de indecisos.
Entretanto, as informações das pesquisas não são confiáveis e a Guatemala, um dos países com maior número de partidos políticos inscritos na América Latina – 47, já conta com 15 candidatos a presidência e ainda pode receber inscrições para novas candidaturas até o dia 10 de julho.
A questão mais controversa do processo eleitoral até aqui foi a inscrição como candidato a deputado do ex-ditador Efrain Rios Montt. Seu governo durou de 1982 a 1983, quando foi derrubado por novo golpe militar. Ele comandou uma pesada repressão contra a guerrilha da Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca (URNG) e foi responsável pelo assassinato de aproximadamente 15.000 camponeses, em sua maioria indígenas e pelo exílio em países vizinhos de outros 70.000 pessoas, bem como pela expulsão de quase meio milhão de guatemaltecos para as montanhas.
Porém, a participação dele no pleito lhe garantirá imunidade e assim, impediria que viesse a ser extraditado para a Espanha – onde corre um processo semelhante ao que correu contra o ex-ditador chileno Augusto Pinochet – ou que seja julgado na Guatemala pelos crimes ocorridos durante seu governo.
Apesar de grande protesto das organizações sociais e de tentativas de bloquear o registro de sua candidatura, o Supremo tribunal Eleitoral aceitou a inscrição, dizendo apenas que poderia vir a ser revogada em outro momento.
Desde a deposição do governo reformista de Jacobo Arbenz em 1954, por um exército mercenário organizado pela CIA e pela empresa United Fruit, até 1985 a Guatemala foi governada por militares ou por seus prepostos. Entre o início da resistência armada contra eles em 1962 até a assinatura dos acordos definitivos de paz entre o governo e a URNG em 1996 morreram mais de 100.000 pessoas e até hoje, a Guatemala só perde em níveis de violência política na América Latina para a Colômbia.
É apenas o início do processo eleitoral, mas existe uma expectativa internacional que Rigoberta Menchú, apesar de estar em quarto lugar nas pesquisas, por ser uma personalidade conhecida e respeitada na defesa dos direitos humanos, possa obter um bom desempenho. Seus oponentes melhor colocados nas pesquisas são de direita e não expressam perspectivas de mudanças.
Porém, sua candidatura não é de esquerda, embora haja muita torcida para que ela consiga ampliar seu arco de alianças políticas até o dia 10 de julho de forma que esta eleição possa proporcionar algum avanço para este país, um dos mais pobres da América Latina. Porém, para isto é necessário, também, reduzir o índice de abstenção que normalmente é superior a 50% dos eleitores. (Leia mais em: http://noticias.aol.com, http://www.rigobertapresidenta.org, http://mi-guatemala.tripod.com e http://www.agenciapulsar.org).
Liberdade de imprensa na Venezuela
O assunto do momento que envolve o governo Chávez na Venezuela é o fim da concessão a uma das redes privadas de televisão, a RCTV que tem recebido críticas de várias origens, inclusive de pessoas bem intencionadas. Internamente, a oposição tem se manifestado contra a medida por intermédio de uma parte do movimento estudantil venezuelano, particularmente, oriundo de universidades privadas de Caracas.
Esta foi a forma dos políticos de direita se manifestarem sem aparecer diretamente, o que vincularia o movimento com as forças golpistas de 2004. No entanto, quem acompanha o que ocorre na Venezuela mais de perto, percebe os interesse em jogo e que a parcela dos estudantes que está mobilizada é a classe média e alta tradicionalmente oposicionista. (Leia mais).
O que está em debate não é a liberdade de imprensa e sim a “liberdade de empresa”, pois os canais de rádio e televisão funcionam na Venezuela por concessão, como em qualquer lugar do mundo.
Acabou de ser apresentado um estudo feito pelo presidente do Colégio de Jornalistas do Chile, Ernesto Carmona, onde ele comenta a revogação de 141 concessões de TV e rádio no período de 1934 a 1987 somente nos EUA, além de mostrar exemplos de outros países. Em cerca de 40 casos, o governo americano sequer aguardou o término das concessões, o que não foi o caso da RCTV.
Por exemplo, Margareth Thacher cancelou a concessão de um dos maiores canais de TV na Inglaterra e argumentou simplesmente: “Só porque tiveram a estação por 30 anos, eles deveriam ter o monopólio“? A RCTV manteve a concessão por 53 anos e, obviamente, renovar sua concessão não era um direito adquirido. Mas como tudo que ocorre na vida política venezuelana, polariza opiniões, este é mais um fato e que passará. (Leia mais em: http://www.congresobolivariano.org, http://alainet.org e http://alainet.org).
EUA – Bush “rides again”
Após quarto anos desde a ocupação do Iraque e com todas as terríveis conseqüências do plano arquitetado por George W. Bush, Dick Chenney, Wolfowitz e outros altos oficiais do governo norte-americano; começa a tomar corpo a idéia de que a invasão do país tinha um outro propósito claro, além do acesso ao petróleo, o de permitir a instalação de bases militares no país do Oriente Médio.
No que vem sido chamado de “Modelo Coréia”, a estratégia seria aplicar no Iraque o mesmo modelo de ocupação usado na Coréia do Sul, onde os EUA mantêm tropas há seis décadas. O plano seria manter um contingente militar limitado fora das áreas urbanas, prontos para atacar a qualquer momento, um governo iraquiano alinhado com os Estados Unidos e talvez mais meio século de guarnecimento de forças militares.
Além de declarações do porta-voz da presidência norte-americana Tony Snow e do Secretário de Defesa Robert Gates que defendem a idéia ao declarar que os EUA não retirarão as tropas com toda sua munição, como foi feito no Vietnã, o segundo homem do exército americano em Bagdá. General Ray Odierno (comandante-adjunto do General Devid Petraeus) já declarou em entrevistas que crê que a ocupação, da forma como foi feita na Coréia do Sul, seria uma ótima solução para o Iraque. (Leia mais em: Washington Post e http://www.gulfnews.com).
Existe uma recomendação para que, por enquanto, os oficiais do governo e envolvidos com o tema dentro da administração de Bush não façam declarações abertas. Mas quando perguntados a respeito, demonstram a existência de um elaborado plano para que este tipo de iniciativa seja levada adiante. Dizem que seriam necessárias 3 ou 4 bases militares de grande porte, todas fora de áreas urbanas, onde o número de ocorrências e mortes tem aumentado muito. Seriam incluídas neste pacote as bases em Al Asad, Base Aérea de Balad, localizada a 80 km de Bagdá, e a Base Aérea de Tallil no sul do Iraque.
Críticos da ocupação argumentam que não existe paralelo histórico entre as Guerras no Iraque e na Coréia e tampouco qualquer semelhança entre eles, a não ser o absurdo da ocupação. A analogia, uma simplificação extrema da situação, serve somente para mostrar aos cidadãos americanos que a administração Bush tem um plano para o desfecho da ocupação e para o Iraque.
Além da queda de popularidade devido à guerra no Iraque, o campo de atuação da administração Bush nos assuntos internos conta com apenas 32% de aprovação e ele tenta salvar seu legado com a aprovação de uma nova lei de Imigração.
A medida está sendo vista pelos assessores do presidente como a única chance de garantir que Bush seja inscrito na história norte-americana por algo além da Guerra promovida no Iraque.
A reforma na legislação de imigração promete legalizar milhões de trabalhadores sem documentação nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que fortalece as fronteiras e organiza a oferta de trabalhadores temporários aos empregadores no país. A proposta de lei, redigida pela Casa Branca e por um grupo de 12 senadores democratas e republicanos, estabelece um sistema de mérito para avaliar as pessoas que procuram obter o visto de residência permanente (green card). Este sistema de pontos, um dos itens mais significativos da lei, estará no centro do debate para sua aprovação.
Funcionaria assim: um postulante ao green card poderá receber no máximo 100 pontos, sendo que 75 deles são preenchidos por meio de suas aptidões profissionais e educação formal, 15 pontos destinados a medir a proficiência na língua inglesa e os 10 restantes para comprovar laços familiares com os Estados Unidos.
Os critérios apresentados favorecem profissionais com nível universitário e formação nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, mas já foi anunciado que haverá também espaço para pessoas que trabalham em ocupações de alta demanda, que segundo o governo são: enfermeiras, babás, e trabalhadores do ramo alimentício. Cônjuges e filhos também terão a imigração permitida, mas irmãos e filhos adultos serão submetidos à avaliação pelo sistema de pontos.
Bush e o grupo de senadores que participou da redação desta proposta claramente estavam preocupados em garantir que houvesse uma seleção de imigrantes que pudessem contribuir, a longo prazo, para o avanço da economia norte-americana.
Contudo, principalmente dentro do partido Democrata, surgem vozes de oposição apontando para o caráter de engenharia social e preconceito de classe inserido neste plano de imigração.
O debate certamente tem implicações na economia norte-americana. Cerca de 23 milhões de trabalhadores (dos cerca de 145 milhões) é imigrante e segundo o Departamento de Trabalho do governo, o país ainda necessita de mão de obra externa para crescer e suprir a carência de profissionais em certas áreas.
A proposta de lei tem colocado pressão sobre os pré-candidatos às eleições presidenciais de 2008 para que se posicionem sobre o tema, o que deverá provocar inflamados debates internos nos dois partidos.
Após o anúncio do plano bipartidário para imigração, no início de junho, a Senadora Hillary Clinton, considerada uma das favoritas à indicação do partido Democrata para concorrer à presidência dos EUA, e Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, um dos principais candidatos do partido Republicano, preferiram não se posicionar a respeito. Após uma semana, ambos declararam que estavam abertos a apoiar a iniciativa desde que sofresse alguns ajustes.
Nenhum pré-candidato apoiou a lei, a não o Senador John McCain (partido Republicano-Arizona). O posicionamento de McCain o coloca em embate direto com Mitt Romney, governador de Massachussets, que já declarou ser fortemente contra a proposta a fim de intensificar seu esforço para ganhar o apoio da ala conservadora do partido.
No partido Democrata, há um intrincado jogo de interesses. Não há consenso na posição dos sindicatos, mas existe a preocupação de que a lei criaria um sistema de regulamentação do trabalho temporário, sem garantir qualquer chance de cidadania a estes trabalhadores. Tanto John Edwards quanto Barack Obama demonstraram posições semelhantes, com cautela em relação ao programa de trabalhadores temporários.
Apesar da campanha eleitoral nos EUA ser iniciada oficialmente apenas em janeiro de 2008 – com a realização de eleições primárias estaduais dentro de cada um dos partidos, a movimentação dos pré-candidatos à nomeação de seus partidos continua a todo vapor.
No partido Republicano já foram realizados 3 debates entre seus pré-candidatos, e no partido Democrata 2 debates. Os últimos debates – com os candidatos democratas, realizado no dia 3 de junho, e com os republicanos dois dias após – foram mediados por Wolf Blitzer, âncora da rede de televisão norte-americana CNN.
Para maiores informações sobre os últimos debates, organizados pela CNN, veja: CNN Democratic Debate – June 3rd, 2007 e CNN Republican debate – June 5th, 2007.
Um dos candidatos que tem recebido muita atenção, apesar do pouco tempo que recebe em debates e dos poucos recursos arrecadados por sua campanha é o ex-Senador Mike Gravel (partido Democrata -Alasca), cujo último mandato terminou em 1981.
Ele tem sido o único a tomar posições radicais com relação à Guerra do Iraque, pedindo pela retirada imediata das tropas, e contra o possível embate com o Irã. Além de outros temas como a proposta para que o imposto de renda seja proporcional, e o estabelecimento de plebiscitos e outros mecanismos de democracia direta nos EUA.
Nos dois debates ocorridos, Gravel confrontou os 3 principais candidatos do partido democrata com relação aos seus posicionamentos diante de um possível ataque nuclear ao Irã. Todos os outros candidatos afirmam que “todas as opções estão sobre a mesa” quando tratam das sanções ao Irã e seu programa nuclear.
Gravel certamente não será eleito para representar seu partido nas eleições presidenciais de 2008, mas sua participação tem importância vital para melhorar o processo eleitoral dentro do partido. (Leia mais).
As eleições parlamentares na França
Sarkozy iniciou seu mandato como presidente “com a corda toda”. Teve muita presença midiática e moderou o discurso, com o intuito de inflar o desempenho eleitoral de seu partido, UMP, de direita, nas eleições parlamentares que tiveram seu segundo turno no dia 17 de junho.
A França possui 577 distritos eleitorais e cada um elege um parlamentar. Aqueles que obtiverem mais de 50% dos votos, desde que o comparecimento do eleitorado tenha alcançado 40%, no primeiro turno, estão eleitos. Quando, no mínimo, uma destas condições não é atingida, há um segundo turno e que é disputado por aqueles candidatos que tiveram pelo menos 12,5% dos votos. Normalmente isto possibilita várias negociações entre partidos com maior afinidade, quando um abandona a candidatura num dos distritos em troca do apoio ao seu candidato em outro.
O resultado do primeiro turno aparentava uma vitória arrasadora para a direita e a possibilidade da esquerda reduzir sua presença no Congresso. O segundo turno, não foi tudo isto, embora a UMP tenha elegido 324 deputados (56,2%). Porém, a melhor notícia foi para o PS que elegeu 209 parlamentares (36,2%), 60 a mais do que na eleição passada. Os verdes elegeram quatro contra nenhum na legislatura anterior, os comunistas 15 contra os 21 de antes. O centro caiu de 29 para 25, divididos em duas legendas: o novo centro com 22 cadeiras e o Movimento Democrático de Bayrou que somente elegeu ele mesmo e dois outros candidatos.
O Partido Nacional de Le Pen e os dois outros partidos de extrema direita ficaram sem representação. O impopular ex-Primeiro Ministro Allain Juppé e agora Ministro do Meio Ambiente não se elegeu e renunciou ao cargo de ministro.
Portanto, Sarkozy tem maioria no Congresso Nacional para aprovar suas políticas, mas ainda é cedo para avaliar se sua popularidade se manterá quando começar a propor as leis que sustentarão os ajustes neoliberais, que, a deduzir de seu programa e declarações, ele tentará implantar. Leia mais em: http://english.aljazeera.net e http://www.counterpunch.org.
Eleições parlamentares na Irlanda
A Irlanda é uma república desde 1949, após muitos anos de luta contra o domínio britânico. A independência havia sido conquistada em 1922, porém apenas para os 26 condados de população majoritariamente situados no sul do país. Os seis condados restantes que conformam a Irlanda do Norte, onde os protestantes são maioria, se mantiveram ligados à Inglaterra até hoje.
O conflito que se estabeleceu na Irlanda do Norte tem raízes históricas anteriores à independência da Irlanda, mas também se origina da tentativa dos católicos nos seis condados de conquistarem direitos civis e políticos a partir dos anos 1960.
A Irlanda foi durante muito tempo, um dos países mais atrasados economicamente na Europa e também extremamente conservador devido à influência da Igreja Católica. No entanto, a partir dos anos 1990, com apoio dos Fundos para Desenvolvimento Regional da União Européia, investiu pesadamente na produção de informática e alcançou rapidamente um expressivo crescimento anual do PIB a ponto de ser chamado de “Tigre Celta”.
Os partidos políticos mais importantes da Irlanda são o Fianna Fáil, (Nacionalista Conservador de Centro-direita), Fine Gael (Democrata Cristão vinculado aos proprietários de terra), Partido Trabalhista (Centro-esquerda), Verdes, Sinn-Féin (“Nós Sozinhos” socialista e ligado ao IRA), Partido Democrata Progressista, partido Socialista, Partido Comunista e outros menos representativos.
Na votação ocorrida em 24 de maio, 3 milhões de irlandeses foram às urnas para escolher o próximo governo. Foram selecionados os 166 membros que comporão o 30º Dáil Éireann, como é chamado o Congresso irlandês, que iniciaram o mandato em 14 de junho quando se reuniram para eleger o Taoiseach, o primeiro-ministro, e apresentá-lo para a aprovação da presidente Mary McAleese.
Mesmo com os ganhos obtidos pelo principal partido de oposição, o Fianna Gael, com 20 novos assentos somando 51 ao todo, o partido de centro-direita Fianna Fáil preservou a maior representação com 78 assentos no parlamento apesar das previsões anteriores à votação, de que poderia perder até 20 deles.
Os partidos menores mantiveram o mesmo nível de representação anterior: 20 assentos para o Partido Trabalhista, seis assentos para o Partido Verde, o Sinn Féin confirmou apenas quatro de seus cinco assentos anteriores, os Democratas Progressistas caíram de oito para dois assentos e o Partido Socialista perdeu seu único representante.
Houve redução de 14 para cinco do número de candidatos independentes eleitos, em comparação com as eleições gerais de 2002.
Com os resultados obtidos, em parte graças ao discurso de que mudanças no governo poderiam afetar o bom andamento da economia do país, o mais provável é que o atual primeiro-ministro, Bertie Ahern inicie seu terceiro mandato consecutivo. Contudo, pela primeira vez desde 1977, não obteve a maioria requerida para governar sozinho. A expectativa é que ele faça alianças com os independentes e com os Democratas Progressistas para formar sua coalizão de governo. (Leia mais nos sites oficiais dos partidos: http://www.fiannafail.ie, http://www.finegael.ie e http://sinnfein.ie).
A disputa geopolítica entre EUA e Rússia
A insistência do presidente americano Bush em levar adiante seu projeto de instalar uma bateria de mísseis na Polônia e um radar para dirigi-los na República Tcheca foi provocando uma série de reações da Rússia. As últimas foram: o teste de um novo míssel intercontinental mais poderoso que os já existentes em seu arsenal e também apontar alguns em direção à Europa.
O argumento de Bush é que os mísseis na Polônia serviriam para interceptar eventuais ataques de mísseis do Irã e Coréia do Norte. É uma justificativa descabida, pois o Irã, apesar de toda a polêmica recente, não possui, pelo menos por ora, a tecnologia nuclear para fabricar armas deste porte e dificilmente tomaria uma atitude agressiva como esta e o caminho para a Coréia do Norte atacar os EUA não seria por cima da Europa.
A intenção é alguns de seus países vizinhos da esfera de influência russa, o que o governo Putin não tem como aceitar, pois busca manter e se possível ampliar sua hegemonia geopolítica, pois ainda mantém uma série de vantagens comparativas apesar do desmantelamento da ex-URSS e que são um poderoso arsenal atômico, 20% das reservas mundiais de gás natural, acelerado crescimento econômico e um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU com direito a veto.
Além disto, haverá eleições parlamentares e presidenciais em breve na Rússia e o discurso nacionalista é essencial para assegurar a continuidade do status quo, embora Putin, em princípio, não possa se candidatar novamente.
Durante a reunião do G-8 em Heiligendamm, o tema não estava na agenda, mas perpassava várias das reuniões paralelas. Putin fez uma proposta que colocou os americanos na defensiva: ofereceu uma base de radar russa instalada no Azerbaijão como forma inclusive de colaborar com as preocupações referentes à segurança e sugeriu que os mísseis poderiam ser instalados em qualquer outro país aliado dos EUA como Turquia ou Iraque, mais próximo das rotas do suposto ataque.
Bush foi obrigado a dizer que estudaria o assunto, mas voltou à carga com novas provocações contra a Rússia ao propor a independência de Kosovo, antiga província da Sérvia e agora administrada pela ONU desde o fim da intervenção armada da OTAN neste país. Este é outro tema delicado, pois a Rússia já não havia concordado com o bombardeio realizado sobre seu aliado, a Sérvia e continua apoiando suas pretensões de manter Kosovo, onde a população albanesa é maioria, como seu território.
Prossegue a conflagração no Oriente Médio
Além dos impasses tradicionais no Oriente Médio, sobre os quais temos escrito mensalmente no Periscópio, neste período mais recente há três novos fatos que agravam a situação: o risco de uma guerra civil entre a população palestina, principalmente, na Faixa de Gaza, o conflito armado no Líbano entre o exército e um novo grupo armado, o “Fatah al Islam” (Fatah Islâmico) que surgiu em campos de refugiados palestinos neste país e a pressão da Turquia sobre os curdos no norte do Iraque.
Apesar da composição de um governo de coalizão entre o “Al Fatah” do presidente Mahmoud Abbas e o “Hamas” do primeiro ministro Ismail Hanieh no mês de março, houve dezenas de choques entre milícias dos dois grupos que culminaram em luta aberta na qual a milícia do Hamas conseguiu assumir o controle da Faixa de Gaza e expulsar as milícias do Al Fatah que, no entanto, mantém a hegemonia política na Cisjordânia. Porém, esta região, ao contrário de Gaza, ainda conta com presença israelense.
Abbas, além de retirar o Fatah do governo de coalizão, dissolveu o governo palestino e nomeou um novo ministério, situação que o Hamas, obviamente, não reconhecerá.
A preocupação principal é que este conflito entre os dois partidos e suas milícias, que já custou mais de uma centena de mortos, não se transforme em guerra envolvendo o conjunto da população palestina. Para seus inimigos, seria um prato ainda mais cheio e jogaria a possibilidade de constituir o Estado Palestino para ainda mais longe do que já está.
A manifestação dos EUA e União Européia é no sentido de apoiar Abbas e isolar o Hamas, mas o fato é que eles são também responsáveis pelo que está acontecendo, uma vez que cortaram os recursos de apoio à Palestina quando o Hamas venceu as eleições parlamentares no início de 2006 para pressionar o grupo a reconhecer o Estado de Israel, provocando a sua reação radical. Foi uma das maiores manifestações de hipocrisia dos últimos tempos. Seu comportamento significou que somente aceitam os resultados que lhes convém.
As condições sociais e políticas se deterioraram de maneira significativa desde então. Os 180 mil servidores públicos que não recebem seus salários a quase um ano, significam a penúria para aproximadamente um milhão de pessoas.
Além de ocupar ilegalmente o território palestino, Israel também contribuiu para acirrar a atual situação ao participar do boicote econômico a Gaza por meio da retenção de um grande volume de recursos provenientes de impostos devidos à Autoridade Palestina e ainda por cima bombardear a população civil e assassinar militantes dos grupos armados palestinos.
A justificativa também é o não reconhecimento do seu Estado e os disparos de foguetes a partir de Gaza sobre a cidade de Sderot, vizinha desta.
Não está claro ainda de que maneira o governo israelense lidará com a questão, pois a margem de manobra do impopular Primeiro Ministro Olmert é estreita. Seu principal aliado no parlamento e no governo, o Partido Trabalhista, acabou de substituir seu presidente, Amir Peretz, pelo ex-primeiro ministro Ehud Barak que também o substituirá no cargo de Ministro da Defesa.
Barak havia anunciado que os trabalhistas romperiam com o governo caso Olmert não renunciasse, mas talvez isto não ocorra, pois a maioria governamental acabou de eleger o trabalhista Shimon Peres como Presidente de Israel, apesar deste cargo ser quase simbólico.
O problema é que, se a saída dos trabalhistas implicar em dissolução da atual coalizão governamental e convocação de novas eleições, as pesquisas indicam que o Likud, direita, venceria. Portanto é possível que haja alguma negociação que permita a substituição de Olmert pelo próprio Barak.
Mais ao norte, o exército libanês entrou em choque com um agrupamento armado, até então desconhecido, o “Fatah al Islam”. Os guerrilheiros da Organização pela Libertação da Palestina haviam deixado o Líbano na década de 1980 durante a guerra civil, mas milhares de refugiados palestinos continuaram vivendo em diversos campos de refugiados naquele país.
A vida nestes campos, normalmente é de precariedade e miséria, um campo fértil para o surgimento de organizações como Al Queda e outras. Aparentemente é o caso deste grupo e o governo decidiu destruí-lo pela força, embora depois de duas semanas ainda não tenha conseguido, o que demonstra que é um grupo mais organizado e maior do que parecia.
O Hezbollah, uma das facções políticas mais importantes no Líbano, advertiu que o governo deveria tentar negociar um acordo, pois o simples conflito armado, mesmo com vitória do exército, somente provocaria ressentimentos e atrairia a presença do Al Queda para o Líbano, piorando a situação. (Leia mais).
Por fim, no Iraque que já vive uma situação absolutamente caótica no seu dia a dia, há o risco de ser introduzido um novo elemento perturbador no norte do país, que é a região controlada pelos curdos.
Esta população que atualmente é uma das maiores etnias no mundo que ainda não possui um Estado Nacional autônomo, aliás, uma promessa que foi frustrada devido à forma como as grandes potências dividiram o Império Otomano após a I Guerra Mundial por intermédio do Tratado de Sévres, distribuindo esta população entre Turquia, Iraque, Síria e Irã.
Há um partido curdo que adotou a via armada para lutar pelo Estado Nacional Curdo, o Partido do Trabalho Curdo (PKK) enfrentando, particularmente, a Turquia onde, além do Iraque, se localiza a maior parcela da população curda.
Possivelmente, os únicos beneficiários da invasão americana do Iraque tenham sido os curdos, pois eram extremamente oprimidos pelo governo de Saddam Hussein e agora, além de participar do governo de coalizão exercem controle sobre a região norte do Iraque, embora sem o status de território autônomo.
A Turquia se queixa que os militantes do PKK têm atacado militares turcos a partir de território iraquiano e ameaça retaliar da mesma forma. Esta possibilidade traria um novo ator para o conflito e causaria ainda mais constrangimentos para os EUA, pois tanto a Turquia, que até o momento esteve formalmente neutro, quanto os curdos, têm sido seus aliados indiretos em relação à ocupação do Iraque.
O Banco Mundial e a nova escolha de Bush
Com a renúncia de Paul Wolfowitz da presidência do Banco Mundial, o governo de George W. Bush selecionou um substituto apesar dos crescentes questionamentos sobre a ocupação do cargo por parte de mais um norte-americano, após o fracasso de Wolfowitz devido à sua falta de experiência com os temas relacionados ao trabalho da instituição e o favorecimento dado à namorada.
Nesta ocasião, mais do em que outras, foram reiterados os pedidos para que o processo seletivo do presidente do Bird fosse reformado. Em pesquisa realizada no final de maio, o “think tank” Center for Global Development, informou que quase 85% dos 700 especialistas entrevistados condenavam o atual processo de seleção do Banco, segundo o qual os EUA nomeiam o presidente com consultas informais a outros países. Um porcentual semelhante se manifestou partidário de um processo de seleção baseado em méritos, sem importar a nacionalidade.
Além da falta de experiência com os temas ligados a desenvolvimento, Wolfowitz também carregava o peso de ter sido o arquiteto da Guerra no Iraque, ter trabalhado nos últimos 28 anos em projetos ligados ao governo e ao grupo identificado como neo-conservadores do qual fazem parte Dick Chenney e Donald Rumsfeld. Se isso não bastasse, ele também serviu como embaixador de Reagan na Indonésia e foi um dos maiores apoiadores do general Suharto. Tanto que, quando foi escolhido para presidir o banco em 2005, diversos grupos de defesa dos direitos e da democracia na Indonésia organizaram protestos.
A nova escolha de Bush, não é muito diferente. A indicação de Robert B. Zoellick deve ser confirmada pelo Conselho do Banco no dia 30 de junho. Durante os ataques de 11 de setembro, Zoellick era o representante comercial dos EUA e aproveitou-se daquele momento delicado para fazer avançar sua agenda argumentando ao Congresso que, a aprovação do “fast track” para as negociações comerciais deveria ser incluído no pacote de “Luta contra o terrorismo”.
Zoellick chegou a insinuar que haveria uma ligação entre os terroristas de 11 de setembro e os movimentos anti-globalização. Em um discurso no Institute for International Economics, alguns dias após os ataques, Zoellick declarou: “No despertar do choque de 13 dias atrás, muitos vão lutar para compreender por que os terroristas odeiam as idéias que os Estados Unidos capitanearam ao redor do mundo. Será inevitável que as pessoas se perguntem se existe alguma ligação intelectual com outros grupos que tenham usado de violência para atacar as finanças internacionais, a globalização e os Estados Unidos”.
A tática funcionou e a bandeira de “luta contra o terrorismo via comércio” transformou-se em uma lei aprovada por um único voto de diferença no Congresso, regulamentando o “fast track” batizado de “Trade Promotion Authority”.
Alimentando a paranóia pós-ataques, Zoellick ajudou a assegurar o financiamento para que 2.500 soldados e policiais fossem deslocados a Miami em 2003 durante a 8ª reunião ministerial da ALCA a fim de conter manifestantes.
Na mesma época, fez ataques a países em desenvolvimento que não concordavam em aceitar sua agenda comercial. Isso incluiu Brasil, Índia e outros países de médio porte, que nas palavras dele estavam “empregando uma retórica de resistência e política de protestos” na Organização Mundial do Comércio e os culpou, principalmente o Brasil, pelo colapso das negociações.
Após um ano e meio no papel de negociador-chefe para o comércio, Zoellick não conseguiu reavivar as negociações da OMC e também sem concretizar as negociações da ALCA, deixou o posto na mesma semana da data limite para conclusão do acordo da área de livre comércio hemisférica.
Além das críticas ao movimento anti-globalização e aos países em desenvolvimento, Zoellick foi alvo de preocupações devido à sua agenda comercial capitaneada pelos interesses das empresas.
Com a missão de combater a pobreza em âmbito global, o Banco Mundial terá novamente um presidente indicado pelos Estados Unidos – fazendo uso de seu privilégio como maior contribuinte da instituição – de pouca familiaridade com os temas de desenvolvimento.
Zoellick, hoje alto executivo da Goldman Sachs, ex-subsecretário de Estado e ex-representante de Comércio se comprometeu a trabalhar para restaurar a confiança no Bird. Contudo, tanto os ativistas pela transparência e responsabilidade na gestão do Banco Mundial, como as organizações de fomento ao desenvolvimento estão preocupadas. Além da escolha ter ocorrida a portas fechadas, Zoellick segue mantendo fortes vínculos com os círculos de poder político e empresarial dos Estados Unidos. (Leia mais).
China e o Programa Nacional de Mudança Climática
Às vésperas da reunião do G8 e dos cinco países em desenvolvimento, cujo tema principal eram as discussões sobre mudanças climáticas, a China divulgou um plano ambiental denominado “Programa Nacional de Mudança Climática” com o foco na redução do consumo e ampliação do uso de energias renováveis a fim de diminuir a emissão de gases de efeito estufa até 2010.
O plano não propõe metas para a redução de emissão de gases poluentes e basicamente reafirma a posição chinesa – bastante defendida por sua ativa delegação no debate do último relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), ressaltando que a maior responsabilidade pelo combate do efeito estufa ainda cabe aos países desenvolvidos, que produziram o efeito até recentemente, não devendo assim haver comprometimento do crescimento dos países em desenvolvimento.
Com a maior população do mundo e dono de recordes de crescimento econômico nos últimos 27 anos, no passo atual, até 2009 a China deve alcançar os EUA e superá-lo como o maior emissor de gases de efeito estufa, fato que tem sido cobrado do país asiático na esfera internacional.
O “Programa Nacional de Mudança Climática da China”, detalhado num documento de 62 páginas, estabelece objetivos para 2010, baseado na situação encontrada em 2005. A fim de lograr o objetivo, o governo chinês pretende diminuir o consumo de energia em 20%, aumentar entre 7 e 10% o uso de fontes de energia renovável na matriz energética e reduzir as emissões causadas pelo plantio de arroz em razão da decomposição orgânica causada pelo tipo de cultivo.
Além disso, o programa inclui o tema da natalidade como um dos compromissos com relação ao clima, pois segundo o documento, desde a década de 70 o governo chinês evitou o nascimento de 300 milhões de pessoas e, portanto a geração de 1,3 bilhões de toneladas de CO2.
Se os objetivos do plano chinês forem atingidos, não será emitido na atmosfera aproximadamente 1,5 bilhão de toneladas de CO2, o equivalente a 25% dos 6,1 bilhões de toneladas emitidos pela China em 2004.
Entretanto, a experiência recente mostra que o governo terá dificuldades de manter o crescimento no patamar atual e alcançar as reduções propostas, Em 2006, já havia uma meta oficial de redução de 4% no consumo de energia por unidade do PIB. A queda registrada foi de apenas 1,23%, e em grande parte pela resistência das províncias chinesas em sacrificar a expansão econômica. Atualmente, 70% da energia utilizada na China é proveniente de carvão e a indústria chinesa utiliza sete vezes mais energia do que sua equivalente no Japão. (Leia mais em: http://www.ccchina.gov.cn e http://www.ccchina.gov.cn/en/ ).
A Reunião do G8 na Alemanha
A recente Cúpula do G8 (grupo formado por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia), realizada durante os dias 6 e 8 de junho, num resort na costa do oceano Báltico, terminou em promessas vagas e sem maiores compromissos com o apoio a maior ajuda humanitária para a África e negociações para um acordo internacional pós-protocolo de Kyoto.
Os líderes dos países do G8 deixaram Heiligendamm, o balneário alemão, sem qualquer acordo quanto à conclusão da Rodada de Doha e a eliminação dos subsídios para a agricultura no mundo industrializado.
Também não foi alcançado qualquer acordo para estabelecer novas regras para os altamente especulativos fundos hedge (investimento que teoricamente oferece garantias contra oscilação de preços) ou o status político da província sérvia do Kosovo. Os únicos acordos foram a redução, a médio prazo, da emissão de gases de efeito estufa e a renovação da ajuda à África, ambas consideradas compromissos fracos.
No dia 8, os líderes do G8 concordaram em alocar US$ 60 bilhões, “nos próximos anos” para financiar a luta contra a AIDS, tuberculose e malária, e outros US$ 500 milhões para o programa “Education for All” na África. Contudo, essas medidas foram consideradas por especialistas um passo atrás, se comparadas aos compromissos tomados pelo G8 em 2005 na Cúpula de Gleneagles. Na Escócia, há dois anos, a promessa era dobrar a assistência para o desenvolvimento até 2010, o que significaria um aumento anual na faixa de US$ 50 bilhões a partir de 2006.
De acordo com declarações da Oxfam, o novo montante destinado à África significa que na prática, serão enviados apenas US$ 3 bilhões extras até 2010. Antes da Cúpula de Heiligendamm, a Oxfam já havia divulgado dados que mostram que o G8 não cumprirá a promessa feita em Gleneagles por uma margem de US$ 30 bilhões, agora US$ 27 bilhões com o novo anúncio. (Leia mais).
Além da redução da quantia, também foi criticada a falta de estabelecimento de um cronograma real para a alocação dos novos fundos e de quanto desta soma seria na realidade assistência nova ou apenas reciclagem de outras iniciativas já em curso.
Para piorar, o novo compromisso de concentrar esforços na luta contra AIDS, tuberculose e malária não cumpre sequer a meta estabelecida pela ONU para os países do G8, que prevê um gasto de US$ 15 bilhões ao ano, até 2010, apenas para lidar com a questão de HIV/AIDS. Na Alemanha foram definidos gastos de US$ 12 bilhões para as 3 enfermidades.
O acordo para redução da emissão dos gases de efeito estufa também está sendo recebido como um discurso preparado para lidar com políticas internacionais de meio ambiente. A declaração do grupo considera e expressa sua preocupação diante dos relatórios do IPCC que “concluíram que, as temperaturas globais estão subindo graças às atividades dos seres humanos e que devido ao aumento de temperaturas, estão projetadas mudanças drásticas na estrutura e função dos ecossistemas com conseqüências predominantemente negativas para a biodiversidade e os ecossistemas, como, por exemplo, quanto ao suprimento de água e alimentos”.
Entretanto, o presidente dos EUA, George W. Bush, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concordaram apenas em “considerar seriamente as decisões tomadas pela União Européia, Canadá e Japão, que incluem reduzir pela metade as emissões globais até 2050”, de acordo com a declaração.
O atual acordo abre caminho para que negociações sejam realizadas no âmbito da ONU contando com a participação dos EUA, não signatários do protocolo de Kyoto. Mas a declaração do G8 não propõe marcos reais e as negociações posteriores, que serão iniciadas na “Framework Convention on Climate Change” da ONU, na Conferência que será realizada em Bali, Indonésia em dezembro próximo, serão o primeiro teste do compromisso dos Estados Unidos com o tema, bem como a chance de China e Índia também se envolverem mais profundamente no processo pós-Kyoto.
A novidade do encontro foi o convite para que os mandatários de África do Sul, Brasil, China, Índia e México participassem de discussões com o G8 no chamado Processo de Heiligendamm, nos tópicos liberdade de investimentos, responsabilidade social empresarial, promoção e proteção de inovações, cooperação nos temas ligados a eficiência energética e tecnologia, e políticas para o desenvolvimento.
A idéia é que este grupo de países que vem sendo chamado pela imprensa de G5, acompanhe as atividades do G8 e que os diálogos continuem por um período de dois anos, até a Cúpula de 2009 na Itália, onde os tópicos de cooperação seriam revisados e teriam seus resultados medidos. Porém, parece que os governantes de vários destes países não têm interesse em prosseguir como convidados do G-8 e sim estabelecer sua própria agenda, incluindo mais países em desenvolvimento, mesmo que se reúnam ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
Durante a conferência houve intensa mobilização social em protesto pelas atitudes do G-8 e contra a guerra no Iraque. Apesar do isolamento do local da reunião, mais de 20.000 ativistas se fizeram presentes e por várias vezes houve confrontos com a polícia, que no caso, era a alemã, uma das mais violentas na Europa.
O encontro no próximo ano será sediado pelo Japão em Hokkaido. (Leia mais em: http://www.g-8.de, http://www.economist.com e http://english.aljazeera.net).
A 96ª Conferência da OIT
Realizada entre 30 de maio e 15 de junho, a Conferência Internacional do Trabalho da OIT contou com a participação de mais de 3000 representantes de governos, trabalhadores e empregadores. Durante o encontro várias comissões se reuniram, entre elas a Comissão de Aplicação de Normas, a Comissão do Setor Pesqueiro, a Comissão de Empresas Sustentáveis, a Comissão do Fortalecimento da Capacidade da OIT, entre outras.
Após um impasse sobre a eleição do presidente da Conferência no dia 30 de maio, no dia 1o de junho foi eleito como presidente da 96a Conferência, Kastriot Sulka, do Ministério do Trabalho da Albânia em detrimento do representante do Congo. Também foram eleitos como vice-presidentes Carlos Antonio da Rocha Paranhos (representante dos governos), Michel Barde (representante dos empregadores) e Marc Blondel (representante dos trabalhadores). O embaixador Paranhos é representante permanente da Missão Brasileira em Genebra. Michel Barde é da Suíça e o Marc Blonder é membro do Conselho de Administração da OIT, ex-secretário geral da “Force Ouvriére” e delegado dos trabalhadores franceses.
Na conferência tentou-se aprovar por iniciativa dos trabalhadores, uma menção especial em relação à Colômbia para que a OIT realizasse um acompanhamento mais rigoroso das constantes e inaceitáveis violações da liberdade sindical naquele país. Porém, o grupo de empregadores boicotou o fórum aonde esta decisão poderia ser tomada e os governos não se dispuseram a passar por cima da manifestação patronal e tudo permanece como está. (Leia mais).
A 37ª Sessão da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos
Realizada no Panamá, de 3 a 5 de junho, a 37ª sessão da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) contou com uma agenda de mais de 100 itens a serem discutidos, como o processo de paz na Colômbia, a questão das Ilhas Malvinas, a questão marítima na Bolívia, o Ano Internacional das Mulheres das Américas, apoio ao desenvolvimento do Haiti, entre muitos outros.
Contudo, o mais importante resultado da reunião foi a assinatura de uma declaração conjunta dos países do continente com relação ao desenvolvimento sustentável e o uso de energia proveniente de recursos renováveis. A chamada “Declaración de Panamá sobre Energía Para el Desarrollo Sostenible” pode ser vista na íntegra, em documento de Word, na página da OEA. Leia todas as Declarações e Resoluções aprovadas pela Assembléia Geral na 37ª sessão.