A estratégia de acumulação de forças do PT inclui a dimensão institucional, principalmente governos e parlamentos. Há discordâncias, dentro do PT, sobre como fazer isto; sobre o que fazer uma vez conquistados determinados espaços; sobre a combinação entre o acúmulo institucional e as demais dimensões do acúmulo de forças. Mas ninguém discorda de que devemos disputar eleições e governar.

Se isto é verdade, precisamos perceber que nosso acúmulo de forças está dando sinais de esgotamento. Se não superarmos determinados obstáculos, não seguiremos avançando e podemos inclusive retroceder. Alguns destes obstáculos são políticos, estratégicos, organizativos, ideológicos. Outros obstáculos estão vinculados a necessidade de maior organização e mobilização social. Há, também, obstáculos de natureza institucional, que explicam, por exemplo, por qual motivo ganhamos governos e não conseguimos chegar perto de ter maioria nos legislativos. Ademais, a combinação entre voto nominal e financiamento privado está introduzindo, no PT, uma forte degeneração política (cada mandato se torna um pequeno partido) e também “ética”.

Não se trata de um problema só do PT. Devido, em parte, aos mesmos motivos, vem crescendo o desgaste da política em geral e dos parlamentares em particular. Se nossa estratégia fosse outra, poderíamos comemorar este desgaste. Mas tendo em conta nossa estratégia, este desgaste pode ajudar as forças de direita e atrapalhar as forças de esquerda.

Para que a conquista de espaços institucionais sirva para mudar a vida do povo, é necessário e urgente mudar a correlação de forças existente nos legislativos, criando assim parte das pré-condições institucionais para mudanças mais profundas.

A correlação de forças existente no Congresso Nacional não é apenas “conjunturalmente” favorável à direita. Ela é estruturalmente favorável a direita, devido (entre outros fatores) a combinação perversa entre financiamento privado e monopólio da comunicação. Por isto precisamos de financiamento público das campanhas eleitorais, por isto precisamos de democratização da comunicação social.

A oposição de alguns setores do PT à reforma política “realmente possível”, em alguns casos utilizando argumentos formalmente “radicais”, na prática pode favorecer o conservadorismo.

Vitoriosa a tática e os argumentos destes setores, corremos o risco de não ter reforma alguma. Com isso, não teremos alteração para melhor da correlação de forças do Congresso Nacional. Com isso, ao menos nos marcos da atual estratégia seguida pelo Partido, fica praticamente inviabilizada qualquer reforma mais ampla.

Ao menos nesta questão, o reformismo maximalista (“ou quase tudo, ou nada presta”) pode servir ao anti-reformismo radical, nos conduzindo para uma armadilha tucana. Se não sair voto em lista pré-ordenada (mesmo que no sistema flexível) e financiamento público, enfrentaremos uma campanha pelo financiamento privado com voto distrital, tal como propõem os tucanos.

Por isso, melhor alguma reforma (que viabilize o financiamento público, que por sua vez supõe alguma modalidade de voto em lista pré-ordenada), do que nenhuma reforma. Ao mesmo tempo, devemos defender uma reforma política abrangente (não apenas do sistema eleitoral), centrada em medidas democratizantes (como a participação popular na propositura de leis e o fim das distorções nas eleições proporcionais). E acumular forças para uma futura Constituinte exclusiva.

*Artigo enviado em 19 de junho de 2007