artigo de Cândido Grzybowski*

Depois de sete grandes edições – a última em Nairóbi, no Quênia, em janeiro deste ano – o FSM vai de vento em popa. Multiplicam-se iniciativas inspiradas no que já vem sendo considerado o método do fórum. Os fóruns locais, nacionais, regionais e temáticos são tantos e tão espraiados pelo mundo que já se faz necessária uma espécie de mapa mundi do que a emergente cidadania planetária é capaz. Mas é claro que ainda há muito por fazer.

Regiões inteiras – Leste Europeu, Ásia profunda, China, Sudeste Asiático, Oriente Médio e mundo árabe – ainda precisam ser incluídas na onda cidadã que afirma outros mundos possíveis. E, pior, a globalização a serviço das grandes corporações parece ter sete vidas. Estamos cada vez vendo mais concentração de riquezas, com mais exclusão social e desigualdade, baseadas em uma lógica de violência, guerra e destruição ambiental. A resposta do FSM, sobretudo o seu clamor, precisa ser mais alto e forte.

De 29 a 31 de maio – enquanto os governos membros do G-8, considerando-se os gestores do mundo, preparavam-se para mais uma reunião semestral, naqueles lugares distantes, murados e protegidos por milhares de policiais – o Conselho Internacional do FSM se reuniu em Berlim. Na agenda, estiveram em destaque o processo para as Jornadas de Mobilização para janeiro de 2008 e o evento central do FSM 2009. Além disto, temas como a avaliação do processo e definição de orientações básicas para os eventos do Fórum, bem como a questão da sua facilitação e o próprio funcionamento do Conselho Internacional, exigiram muito esforço. Reunião bastante densa e tensa, mas de resultados muito animadores.

A discussão sobre as Jornadas de Mobilização iniciou com a reafirmação da sua importância estratégica. Presente em tantos lugares e países, com dinâmicas muito diversas, o FSM precisa mostar o seu profundo enraizamento local. Por este motivo, ocorreu a decisão de fazer um fórum totalmente descentralizado, que assuma as cores e a vibração dos(as) participantes a partir do local onde vivem e de seu engajamento na construção de outros mundos.

A idéia é ter em janeiro de 2008, em torno às datas do Fórum de Davos, um FSM em todo lugar onde ativistas locais tomem a iniciativa. Podem ser fóruns locais, nacionais, temáticos, conferências, seminários, demonstrações de rua, passeatas, eventos culturais e shows. Ao mesmo tempo, é fundamental fazer isto de forma que iniciativas tão diferentes e autônomas formem uma teia, uma verdadeira rede articulada. Daí a escolha de um dia de convergência das várias iniciativas pelo mundo – 26 de janeiro de 2008. O fundamental é construir uma referência de comunicação comum, que conecte tudo e mostre ao vivo o que ocorre pelo mundo, criando o sentido de pertencimento a este fantástico movimento da cidadania.

Já estão sendo preparadas as mobilizações. Há processo animador ocorrendo em toda a África após o ânimo gerado pelo FSM de Nairóbi. Na Itália, muitas entidades e movimentos se articulam para uma grande manifestação. Na França, a partir da variedade de fóruns locais, está em curso uma mobilização especial para janeiro de 2008. Na América Latina, os Encontros Hemisféricos Contra a Alca, a Aliança Social Continental e o Conselho Hemisférico do FS das Américas já se articulam no sentido de garantir ampla mobilização. Na Colômbia está sendo montado um grande evento para o dia 26 de janeiro, em Bogotá. O próximo Fórum Social dos EUA, em Atlanta, de 27 de junho a 1 de julho deste ano, representará uma oportunidade de definir estratégias para os movimentos e organizações norte-americanas. Já está em curso a preparação de uma conferência do FSM em Nova Iorque em torno do tipo de democracia no plano mundial que a nascente cidadania planetária precisa.

No Rio de Janeiro, já estamos nos mobilizando para um grande show no Parque do Flamengo, na noite de 26 de janeiro, com um dia inteiro de atividades culturais, expressando a diversidade viva desta cidade. Será o Rio com(n)vida para que outro mundo seja possível. Mas precisamos mais, muito mais. Queremos algo que fortifique os processos locais, enraíze ainda mais o FSM e gere um grande impacto no espaço público. Por isto, o Conselho decidiu fazer um grande chamado para a mobilização de janeiro de 2008 do FSM. Em anexo, o chamado na sua íntegra, aberto à adesão de todos os movimentos, as entidades e as redes. Demonstre a sua adesão já, assinando também o chamado! Clique aqui.

Quanto a 2009 e o processo futuro do FSM, foram tomadas duas importantes decisões. A primeira reafirma a realização de um evento centralizado em janeiro de 2009. Como lugar, por tudo o que significa diante do impacto da mudança climática, foi escolhida a Região Amazônica, que abarca quase todos os países da América do Sul. A provável sede será Belém, no Brasil, a ser confirmada na próxima reunião do Conselho na própria cidade em fins de outubro e início de novembro deste ano. A segunda decisão foi no sentido de realizar no começo de 2008, logo após as Jornadas de Mobilização, uma reunião do CI em forma de seminário para um debate aberto e profundo sobre a situação política global e o papel do FSM, seus eventos e as necessidades do processo. Esta reunião será na África.

Como participante desta aventura, desde as primeiras discussões durante o ano de 2000 e o primeiro FSM em janeiro de 2001, em Porto Alegre, sinto-me inspirado pela sua dinâmica diante de uma realidade que cada vez apresenta novos e perturbadores desafios. Estamos demonstrando capacidade de não se render diante dos desafios e de se renovar sempre, com mais amplas e contundentes respostas. Vale a pena acreditar na cidadania ativa.

*Grzybowski é sociólogo, diretor do Ibase
Artigo publicado no Ibase em 15/6/2007
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