A Cúpula Energética da América do Sul, a suspeita sob o presidente da Colômbia, o difícil cenário para republicanos nsos EUA, a renúncia de Blair e a vitória da direita nas eleições presidenciais francesas são alguns dos temas tratados na edição de maio do Boletim Periscópio Internacional, que aborda ainda as indefinições existenciais da Turquia, os problemas diplomáticos e o futuro de Putin (Rússia), a crise no governo israelense, etc..

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A Cúpula Energética da América do Sul<br p=""

Presidente da Colômbia continua sob suspeita<br p=""

Estados Unidos – um cenário difícil para os republicanos<br p=""

Blair anuncia data da renúncia<br p=""

Direita vence as eleições presidenciais na França<br p=""

As indefinições existenciais da Turquia<br p=""

Rússia – Problemas diplomáticos e o futuro de Putin<br p=""

Crise no governo israelense<br p=""

A aproximação de Japão e China – a visita de Wen Jiabao a Tokyo<br p=""

As eleições no Nepal<br p=""

Eleições presidenciais no Timor Lorosae<br p=""

Eleições na Nigéria<br p=""

Wolfowitz e o escândalo no Banco Mundial<br p=""

Terceiro relatório do IPCC sobre mudanças climáticas – propostas para ação<br p=""

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A Cúpula Energética da América do Sul

No dia 16 de abril realizou-se a I Cúpula Energética da América do Sul na Ilha de Margarita na Venezuela que reuniu 12 presidentes do continente para discutir a política de integração a partir da matriz energética disponível.

Havia grande expectativa sobre a reunião pela importância do tema e pela polêmica levantada por Hugo Chávez e Fidel Castro contra a expansão da produção de etanol de cana de açúcar defendida pelo Brasil e que ganhou muita publicidade com as discussões entre os governos brasileiro e norte-americano sobre a possibilidade de cooperação mútua nesta área.

A declaração, no entanto, foi positiva e menciona a decisão da Comunidade Sul Americana de Nações de explorar uma integração energética a partir da matriz composta por petróleo, gás, indústria petroquímica, usinas hidroelétricas, termoelétricas, bio-combustíveis e hidrovias sempre preservando a compatibilidade entre geração de energia e produção agrícola, preservação do meio ambiente e de adequadas condições e trabalhistas.

Decidiu-se também criar um Conselho Energético da América do Sul composto por um representante de cada um dos 12 países e que terá a responsabilidade de apresentar uma proposta de diretrizes para a política energética integrada para a II Cúpula da Comunidade Sul Americana de Nações a realizar-se em dezembro deste ano na Colômbia. Foi consensual denominar a iniciativa de integração de Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR).

Ao lado deste debate há também a discussão sobre a criação do Banco do Sul que, no entanto, não alcançou ainda o necessário consenso no continente. Haverá uma reunião técnica em Quito no Equador no dia 15 de maio para prosseguir o debate sobre sua viabilidade.

De algumas outras reuniões envolvendo alguns dos países participantes saíram outras propostas como, por exemplo, dos países que integram a Alternativa Bolivariana das Américas (Alba) composta por Venezuela, Cuba, Nicarágua e Bolívia de tentar estender este modelo de relação entre os países para o conjunto do continente também por meio da criação do Banco do Sul, que seria uma espécie de Banco Central da região, além de uma moeda comum, que Evo Morales sugeriu que deveria se chamar “Pacha” (Terra).

Leia mais em: América Sur: Declaración de Margarita: Construyendo la Integración Energética del Sur [2007-04-18], Por una Sudamérica con moneda propia e Nace UNASUR.

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Presidente da Colômbia continua sob suspeita

O dado mais recente sobre as acusações do envolvimento do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, com os paramilitares vem da acusação do senador do Pólo Democrático Alternativo, Gustavo Petro, que quando Uribe foi governador da província de Antioquia, grupos para-militares utilizavam duas fazendas da família do presidente como bases para as incursões que faziam.

Embora o senador não pudesse agregar provas documentais à sua afirmação, os fatos demonstram que foi durante o governo de Uribe em Antioquia que os grupos paramilitares mais cresceram naquela província e é notório que ele promoveu pessoalmente a criação de um grupo de auto-defesa chamado “Convivir” que posteriormente, assim como a maioria destes grupos, se integrou ao paramilitarismo.

Diante da acusação que circula nos Estados Unidos que o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Colômbia, General Mario Montoya estaria envolvido em conluio com os paramilitares com o desaparecimento de militantes de direitos humanos, Uribe resolveu visitar este país para tentar se explicar e desbloquear os recursos do Plano Colômbia que o senado norte-americano está retendo devido a este fato.

Apesar dos eloqüentes elogios feitos a ele pelo presidente Bush, no mais foram somente constrangimentos. O senador democrata Patrick Leahy de Vermont que coordena a sub-comissão do senado responsável por decidir sobre a remessa de US$ 55 milhões de ajuda à Colômbia apesar das declarações de Uribe de que não há provas contra o general, mandou dizer que ele ainda não está convencido da inocência do mesmo e que, portanto, não aprovará a liberação do dinheiro.

Em encontro com deputados democratas para discutir a aprovação do Tratado de Livre Comércio entre Colômbia e EUA, eles disseram que não o aprovarão enquanto não cessarem os assassinatos de dirigentes sindicais e enquanto não forem incluídas provisões sobre a promoção de direitos trabalhistas e ambientais no tratado.

Por última, sem falar das manifestações de rua contra a visita, numa reunião com entidades de direitos humanos, ele perdeu totalmente as estribeiras ao tentar responder aos questionamentos sobre a grave situação colombiana e nesta reunião também havia parlamentares norte-americanos presentes. Leia mais em: Visita de Uribe aos EUA, The plot thickens, again – The “parapolitics” scandal edges closer to President Uribe e Leahy blocks aid to scandal-tainted Colombian military.

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Estados Unidos – um cenário difícil para os republicanos

Apesar da opinião de 57% da população dos Estados Unidos que enviar tropas ao Iraque foi um erro, ainda assim o orçamento militar requisitado pelo presidente George W. Bush ao Congresso foi o maior desde a Segunda Guerra Mundial e apenas uma pequena parte destina-se à segurança interna. Ele solicitou um orçamento de US$ 623 bilhões para gastos militares no ano fiscal de 2008 que se inicia em 1º de outubro próximo. Leia mais sobre a opinião pública em pesquisa de 20 a 24 de abril.

De acordo com estudos conduzidos pelo grupo Foreign Policy in Focus – projeto conjunto dos think-tanks de centro-esquerda, Institute for Policy Studies e International Relations Centre – os gastos militares compõe mais de 50% da parte do orçamento que é negociada entre o presidente e o Congresso.

O orçamento proposto para 2008, no item segurança nacional, aloca 90% dos fundos para despesas militares enquanto os programas preventivos recebem 4% e o Departamento de Segurança Interna (Homeland Security) recebe 6%. Os gastos militares representam hoje o dobro do que apenas a sete anos atrás, conforme pode ser visto na tabela e se o governo está propondo praticamente o mesmo valor deste ano para o ano que vem, é porque prevê a continuidade da guerra no Afeganistão e Iraque.

Orçamento para defesa nacional (US$ Bilhões)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
304,035 334,732 362,033 456,043 490,580 505,781 617,155 622,446

Fonte: Tabelas em série histórica de 2001 a 2008.

O orçamento submetido em fevereiro ignorou as recomendações do Iraq Study Group de promover uma transição na estratégia da política externa calcada na força militar para a diplomacia e também as últimas pesquisas de opinião que mostram como os norte-americanos acreditam que a política externa unilateral está piorando a imagem dos EUA na esfera internacional e deixando o país mais suscetível a ataques terroristas.

Por exemplo, o programa do caça aéreo F22 receberá um aumento nos fundos de mais de US$ 600 milhões no ano fiscal de 2008. A mesma quantia poderia triplicar os planos dos EUA de cancelamento da dívida externa de países pobres ou ainda poderia aumentar em 50% as contribuições norte-americanas aos programas de promoção da paz.

O uso de parte destes recursos ainda está sendo aprovado pelo Congresso e pelo Senado. No final de abril, ambos, Congresso e Senado, aprovaram a utilização de US$ 124 bilhões extras para as operações militares dos EUA no exterior. Contudo, a utilização destes fundos, segundo o texto da lei aprovada nas duas câmaras, está atrelada a uma data de retirada das tropas do território iraquiano, 1º de outubro, o primeiro dia do novo ano fiscal.

Bush vetou a legislação alegando que não aceitou a proposta de lei porque "fixava uma data para o início da retirada das tropas imposta dentro de condições adversas para os comandantes das forças armadas". Leia mais em: The Bush Veto, Iraq Funding and Permanent Occupation.

Antes de Bush vetar a lei, alguns legisladores democratas já haviam afirmado que neste caso aprovariam uma proposta emergencial sem um cronograma para retirada das tropas. Esta medida, contudo, incluiria alguns critérios para os militares e algumas metas para o governo iraquiano a fim de demonstrar se houve algum progresso na reconciliação entre sunitas e xiitas.

Para ganhar tempo para os 28.000 soldados extras que foram enviados para o Iraque nos primeiros meses do ano mostrarem resultados, Bush pediu a seu comandante no Iraque, General David H. Petraeus, que faça um relatório do progresso das operações para o início de setembro.

Com isto, os republicanos que já estavam cansados de defender as dubiedades de Bush quanto ao desfecho da guerra, ganharam uma data e um fôlego para que o governo apresente indícios mais claros de eventual progresso militar e político no Iraque. Os democratas também contam com essa data como o próximo momento para, a partir do relatório de Petraeus e os seus achados, reiniciarem as tentativas de forçar a retirada das tropas.

A importância da retomada do debate em setembro, tanto para republicanos como para democratas, vem da proximidade da data com o início formal das campanhas para a eleição presidencial de 2008.

Porém, mesmo que fosse possível para o governo Bush apresentar qualquer resultado que lhe seja favorável, a situação política dos republicanos é difícil. Na última pesquisa de opinião, realizada pela Newsweek entre 2 e 3 de maio, não importa qual seja o candidato republicano, mesmo o melhor colocado, ele seria derrotado por qualquer candidato democrata. Além disso, na mesma consulta a popularidade do presidente Bush apresentou-se como a mais baixa de qualquer mandatário norte-americano ao se situar na casa dos 28%. Leia mais.

No partido republicano, o candidato melhor colocado, Mitt Romney, vem sendo comparado a John Kerry numa série de piadas que dizem que o partido agora apresenta um “flip flop”(1) de Massachusetts, que é como os republicanos o definiam nas eleições em que perdeu para George W. Bush. Romney vem sendo questionado por ter mudado de opinião em entrevistas recentes sobre a defesa da liberdade de escolha para as mulheres na questão do aborto quando foi eleito governador em 2002 por conta de pressões do partido para torná-lo mais palatável à ala cristã conservadora.

Com a diminuição do tom de disputa entre Hillary Clinton, Barack Obama e John Edwards no interior do partido Democrata, e os novos escândalos ligados ao GOP (Grand Old Party, como o Partido Republicano é conhecido), também reforçam a expectativa por notícias vindas do Iraque em setembro.

Em abril, além do testemunho de Alberto Gonzalez ao Senado, no qual o procurador-geral da república passou a maior parte do tempo declarando que não se lembrava das circunstâncias ligadas à demissão de oito procuradores por questões políticas, foi descoberto um sistema de e-mails privado do partido republicano que funcionava dentro dos escritórios na Casa Branca. Algumas das mensagens deste sistema podem provar que a demissão dos procuradores foi por motivação política e não por baixo rendimento, como alega o governo.

Este sistema duplo, segundo os democratas, também pode ter sido usado para esconder os contatos realizados com o lobbista Jack Abramoff, que foi condenado por chantagem e está cumprindo pena por fraude. De acordo com eles, existem evidências de que o sistema foi utilizado para tratar de questões políticas e de temas do governo violando a legislação de proteção dos arquivos federais.

Mais ainda, após as evidências de participação de Gonzalez na demissão dos procuradores, os democratas querem acesso ao sistema de comunicação dos republicanos na Casa Branca, que não era utilizado somente pelo escritório do assessor especial de Bush, Karl Rove, mas também outros funcionários do alto escalão. Alguns republicanos acreditam que grande parte desses e-mails, muitos escritos com pressa e sem a preocupação de que poderiam se tornar públicos, podem conter informações internas com mais detalhes do que o esperado sobre as atividades políticas do governo Bush.

1- “Flip flop” significa porta de vai e vem ou “pisca-pisca”. Sentido figurado para pessoa que está sempre mudando de opinião

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Blair anuncia data da renúncia

Cessou a resistência do primeiro ministro trabalhista inglês Toni Blair às pressões do seu partido, o “Labor” para que ele renunciasse à presidência do partido e ao cargo no governo. Ele finalmente anunciou que o fará no dia 27 de junho próximo. Quem deverá assumir seu lugar em ambas as funções é o atual ministro de finanças, Gordon Brown, pois teria atualmente os votos da maioria da bancada trabalhista no parlamento.

A saída de Blair estava negociada desde a última eleição parlamentar em 2004 quando o número de cadeiras dos trabalhistas se reduziu significativamente. As causas do declínio do “Labor” foram várias.

Entre elas, a participação inglesa na guerra do Iraque foi uma delas, pois Blair enviou cerca de 45.000 soldados para o Oriente Médio contra a opinião da maioria da população e o ataque terrorista em Londres que provocou a morte de mais de 50 pessoas, foi encarado como sendo uma conseqüência do apoio do governo inglês à guerra de Bush.

Embora a economia tenha crescido em números superiores à média européia nos últimos anos, a dívida social inglesa é grave. O ajuste neoliberal de Thacher provocou uma grande queda na renda da maioria da população por meio da flexibilização da legislação trabalhista, cortes em benefícios sociais e aumento dos preços dos serviços públicos.

Esta redução do bem estar social não foi elevada por Blair, apesar de algumas políticas compensatórias. O próprio crescimento econômico dos últimos anos está muito relacionado ao desenvolvimento de um forte boom imobiliário, porém, avalia-se que a população que investiu na casa própria possua hoje uma dívida de um trilhão de libras esterlinas.

O acordo para dar lugar a Brown havia sido discutido entre eles desde quando disputaram a presidência do “Labor” em 1994 e depois quando os trabalhistas reassumiram o poder em 1997 com Blair na liderança. Porém, apesar da sua relutância a pressão do partido para sua saída aumentou depois das últimas eleições distritais e municipais que representaram uma derrota para o “Labor” e um avanço político importante para o Partido Conservador (Tories).

A expectativa é que a retirada gradual das tropas inglesas do Iraque, que já foi anunciada, e a nova liderança governamental e partidária de Brown que deverá explorar o seu papel para a melhoria da economia possa evitar uma derrota nas eleições do próximo ano. No entanto, as pesquisas de hoje dão o menor índice da história para os trabalhistas, 27% e apontam para a vitória dos Tories liderados pelo deputado David Cameron.

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Direita vence as eleições presidenciais na França

O primeiro turno das eleições presidenciais francesas, realizadas dia 22 de abril, apresentou o seguinte resultado, uma vez apurados 100% dos votos:

Candidato(a) Partido (*) Votos (%)
Nicolas Sarkozy UMP 31,11
Ségolène Royal PS 25,84
François Bayrou UpD 18,55
Jean-Marie Le Pen FN 10,51
Olivier Besancenot LCR 4,11
Philippe de Villiers MpF 2,24
Marie-George Buffet PCF 1,94
Dominique Voynet Verdes 1,57
Arlete Laguiller LdT 1,34
José Bové Frente Antiliberal 1,32
Frédéric Nihous PdCONeT 1,15
Gerard Schivardi PT 0,34

(*) Ver Periscópio nº 13 para identificação das siglas.

Em termos da ordem dos mais votados, o resultado confirmou a previsão das pesquisas eleitorais, com exceção de Le Pen da Frente Nacional que confirmou o quarto lugar, porém obtendo o menor percentual de votos desde a eleição presidencial que disputou em 1988. Para quem chegou ao segundo turno em 2002, a eleição de 2007, que marcou sua despedida das disputas eleitorais devido à idade de 78 anos, ocorreu em clima de derrota política. Aparentemente o discurso anti-imigração de Sarkozy lhe tirou votos. O comparecimento dos eleitores (85%) foi alto.

O resultado do segundo turno realizado no dia 6 de maio deu a vitória definitiva para Sarkozy por 53% dos votos contra 47% para Ségolène, uma diferença de 6%. Apesar da derrota, foi o melhor resultado para os socialistas desde a segunda eleição de François Mitterrand em 1988, ainda mais considerando que na eleição presidencial passada, nem participaram do segundo turno.

Apesar dos esforços, o resultado do primeiro turno já mostrava que não seria uma tarefa fácil para os socialistas derrotar a direita e retomar a presidência do país. Se somarmos os votos alcançados por Sarkozy e os candidatos à sua direita como Le Pen, Villiers e Nihous, estes representaram 45,01% contra um total de 36,46%, somando os 25,84% de Ségolène e os 10,62% dos candidatos à sua esquerda.

Supondo que houvesse uma transferência total de votos da direita para Sarkozy e da esquerda para Ségolène, ela teria que conquistar pelo menos 2/3 dos votos do candidato de centro direita François Bayrou, o que seria muito difícil.

Embora ela tenha se saído bem e sido mais incisiva no debate ocorrido às vésperas da eleição, na prática quem levou vantagem foi Sarkozy que adotou o estilo mais suave, que não é sua característica natural, mas o ajudou a avançar no eleitorado do centro. Para isto, contou também com o apoio da maioria dos deputados da UpD embora não tivesse conquistado o apoio de Bayrou. Este debateu com Ségolène pela televisão, disse que não votaria no candidato da direita, mas tampouco declarou apoiou à socialista.

Os países europeus encontram-se hoje majoritariamente governados pela direita, com exceção da Itália, Espanha, Noruega e Inglaterra. Porém, o equilíbrio do governo Prodi na Itália é delicado e as pesquisas na Inglaterra apontam para a vitória dos conservadores nas eleições parlamentares de 2008. O governo finlandês que acabou de ser composto é uma coalizão do centro com a direita, ao contrário dos últimos anos quando era do centro com o partido social democrata. Leia mais no Periscópio 13.

A eleição presidencial francesa poderia ter alterado este quadro, mas não foi possível e agora não há apenas uma sucessão de um presidente de direita como Chirac por outro chamado Sarkozy, mas a substituição de Chirac por um novo presidente muito mais próximo dos ideais defendidos por George Bush. Isto sem dúvida é um retrocesso.

Nos dias 10 e 17 de junho ocorrerão eleições parlamentares, pois as eleições legislativas na França também ocorrem em dois turnos. A expectativa é de manutenção da maioria parlamentar de direita. Bayrou que se apresentou como candidato de centro, embora na verdade fosse o Plano B da direita, aproveitou sua campanha eleitoral e o resultado obtido para alavancar um projeto político de mais longo prazo e seu partido acabou de mudar o nome de União pela Democracia Francesa para União pela Democracia e pretende formar uma ampla bancada de centro.

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As indefinições existenciais da Turquia

A Turquia no passado foi uma grande potência, o Império Otomano, que chegou a dominar todo o Oriente Médio, as Bálcãs e parte do norte da África. Ele foi sendo debilitado aos poucos pelo Império Russo e pelas potências ocidentais, notadamente, França e Inglaterra. Reduziu-se ao que é hoje territorialmente quando foi derrotada na Primeira Guerra Mundial junto com a Alemanha e a Áustria-Hungria.

A resistência que um setor do exército, liderado por Kemal Ataturk, implementou contra as potências vencedoras entre 1920 e 1923, levou-o ao governo e possibilitou a renegociação do humilhante tratado de paz imposto por meio do Tratado de Sévres, que o Sultão Mohamed VI havia assinado, evitando assim o desmantelamento total do território e as pesadas indenizações de guerra.

Ataturk instaurou a república e governou autoritariamente até 1938, quando morreu. Porém, instituiu a separação entre Estado e religião (Islamismo), proibiu o funcionamento das escolas islâmicas (madrassas), introduziu o alfabeto latino e estimulou o abandono de uma série de costumes como o uso do véu pelas mulheres e a proibição do consumo de bebidas alcoólicas, tudo com o intuito de “ocidentalizar” o país. Esta política representa o que se denomina hoje de “secularismo” turco.

O exército continua influente na política até hoje, tendo decretado três golpes de Estado desde 1960, embora tenha mudado de uma postura de “direita nacionalista” para a adoção da doutrina militar norte-americana de segurança nacional. Foi um dos maiores aliados do Ocidente durante a guerra fria, tendo agido duramente para reprimir os grupos de esquerda influenciados pela vizinha União Soviética.

Durante o último golpe em 1980, cerca de 650.000 pessoas foram presas e milhares delas foram torturadas, banidas e executadas, isto sem falar do conflito com a população curda que luta pela sua independência que perdura há muito tempo. Este momento de forte repressão e o militarismo sempre presente, explicam a atual debilidade da esquerda neste país, embora existam pelo menos dois partidos considerados social democratas e o partido comunista que foi legalizado somente em 2002.

Além da relação com os EUA, a Turquia construiu laços institucionais com a Europa, tornando-se membro da OTAN em 1952 e membro do Mercado Comum Europeu em 1963. Porém, não conseguiu ir além e seu ingresso na União Européia ainda é muito incerto.

Este é o pano de fundo da atual crise política que se expressou pela tentativa do parlamento Turco, onde o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) tem maioria, de eleger um presidente considerado islâmico, o atual chanceler Abdullah Gul. Posto nestes termos, o presidente, cujo mandato expirou, Ahmet Necdet Sezer, seria um político laico e assim haveria uma disputa entre a introdução dos valores islâmicos no país em detrimento do secularismo.

A primeira votação no Parlamento para eleger Gul foi boicotada pela oposição e ele não obteve os 2/3 de votos necessários. A votação seguinte, onde bastaria a maioria simples foi anulada pela suprema corte sob alegação de falta de quorum e o exército emitiu uma advertência contra o risco de extinção do secularismo.

O movimento do primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan do AKP, foi a de propor novas eleições legislativas para o mês de junho e a possibilidade de convocar um plebiscito para aprovar a introdução da eleição direta para presidente da república.

O partido de Erdogan já havia vencido as eleições em 1996, mas a ameaça de um golpe militar colocou-o na ilegalidade e ele renunciou ao cargo de primeiro ministro. Os partidos laicos de centro elegeram Sezer como presidente, mas seu governo foi desmoralizado pela grave crise econômica de 2001, muito semelhante à brasileira e russa pouco tempo antes.

Em 2002, foram convocadas novas eleições e o AKP que voltou à legalidade elegeu em torno de 60% dos deputados, compôs o governo e saiu-se bem no tocante à economia e aumentou sua popularidade ao recusar apoio aos EUA para invadir o Iraque. Se as eleições forem antecipadas para junho próximo, a previsão é que o AKP atinja a maioria absoluta dos votos.

A diferença ideológica entre o AKP e os partidos que tradicionalmente governaram este país de 62 milhões de habitantes não é grande. O que está em disputa, é a hegemonia da elite ligada ao Ocidente como os industriais, os altos oficiais do exército e a burocracia do Estado e a elite composta pelos comerciantes, autoridades religiosas e setores da burguesia nacional que detém o apoio da maioria da população que por sua vez é muçulmana.

Apesar das advertências que partiram da UE, não se descarta a possibilidade de nova intervenção do exército turco sob a alegação da preservação do secularismo, como ocorreu em 1991 na Algéria quando a “Frente Islâmica de Salvação” venceu as eleições e houve um golpe de Estado que a colocou na ilegalidade até hoje, embora o tom das diferenças entre secularistas e islâmicos na Turquia seja muito mais moderado. Leia mais em: EU has warned Turkey’s military to stay out of politics, as weekend clashes threatened the country’s most serious political crisis in a decade, Council of Europe Urges Turkish Army to Stay Out of Elections, Crisis pinches Turkey’s pocket, Turkish Constitutional Court must act in ‘full independence’ e Tension mounts in Turkey amid pressures for snap general elections.

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Rússia – Problemas diplomáticos e o futuro de Putin

O governo russo está exigindo que o Reino Unido extradite o milionário Boris Berezovsky para que ele seja julgado em seu país de origem por ter declarado ao jornal britânico The Guardian que planeja uma revolução para destituir o presidente Putin do poder.

Embora Putin tenha declarado que ao final de seu segundo mandato, no final de 2008, deixará a presidência russa, Berezovsky afirma que "será necessário usar força para mudar este regime".

Ele recebeu asilo no Reino Unido em 2003, com status de refugiado, escapando do julgamento pelas acusações de fraude e lavagem de dinheiro. Seu asilo foi concedido mediante informações repassadas ao governo inglês pelo ex-agente russo Alexander Litvinenko, de que havia planos para que Berezovsky fosse assassinado.

As suas declarações estremeceram ainda mais as relações entre Reino Unido e Rússia, já prejudicadas pelas acusações de dissidentes baseados em Londres, de que o Kremlin estava por trás da morte por envenenamento do ex-agente Litvinenko em 2006.

Diante da saia justa criada pelo milionário refugiado, o governo britânico está sendo pressionado não só permitir a extradição, como também a rever seu status jurídico. A lei britânica diz que é prerrogativa dos tribunais decidirem se Berezovsky deve ou não ser extraditado, mas um porta-voz do governo afirmou que estão todos analisando detalhadamente as declarações do russo "para que sua residência no Reino Unido não sirva de plataforma para que um governo soberano seja derrubado de forma violenta".

A maioria dos eleitores russos apóia Putin e não tem muito interesse em revoluções, mas os comentários de Berezovsky tentam fortalecer os discursos da oposição para as eleições parlamentares de dezembro de 2007 e a eleição presidencial de 2008. O empresário russo tem oferecido sua "experiência e ideologias" aos seus contatos na elite política russa, adicionando que "existem passos práticos a serem tomados, principalmente, financeiros".

Apesar deste empenho, as oposições que existem ao governo russo estão na extrema direita nacionalista e no Partido Comunista Russo de Guennady Ziúganov, embora relativamente fracos eleitoralmente. Por bem ou por mal, Putin já está recomposto com o novo empresariado russo.

No discurso anual de Putin diante do Congresso russo, no final de abril ele repetiu os ataques feitos ao Ocidente, apontou para a interferência nos assuntos russos como sendo parte de um tratamento de "estilo colonial" e ameaçou suspender o cumprimento do Tratado sobre Forças Convencionais na Europa (CFE na sigla em inglês).

Assinado em 1990 para limitar e realocar as armas pesadas convencionais na Europa, o CFE sofreu uma revisão em 1999 para refletir as mudanças causadas pela desintegração da União Soviética. A nova versão foi ratificada pela Rússia, mas EUA e outros membros da Otan se recusaram a fazer o mesmo até que Moscou retirasse suas tropas da Geórgia e de Moldova.

Ao anunciar que pretende decretar uma moratória no acordo de armas, Putin acentuou a crescente irritação da Rússia com o escudo antimíssil que os Estados Unidos pretendem instalar nas suas vizinhanças com bases de lançamento na Polônia e radares na República Tcheca.

A questão de fundo para a Rússia é o avanço dos EUA e da União Européia para o leste que ameaça a política de alianças e influência que os russos têm sobre a maioria dos países que pertenciam à ex-União Soviética. Por exemplo, hoje a Ucrânia e a Geórgia preferem se articular com o ocidente do que com a Rússia.

A pressão russa e a elevação do tom dos discursos têm gerado certa preocupação na esfera diplomática internacional, particularmente, de alguns países da União Européia, como a Alemanha, altamente dependente do fornecimento russo de gás. É aguardar para ver os desdobramentos.

A ameaça foi o destaque do último discurso anual de Putin, no qual descartou um terceiro mandato, mas frustrou expectativas de que apontaria um sucessor para a votação de janeiro de 2008. Segundo analistas, embora a constituição não permita um terceiro mandato, o presidente ainda não desistiu completamente da idéia de emendar a legislação para permanecer mais quatro anos no posto.

A emenda foi inclusive sugerida pelo presidente do senado russo a Putin em março passado e de acordo com o jornal Moscow News, 60% dos russos querem que ele permaneça no cargo, entre outras coisas, em função de sua política externa muito mais assertiva e dura do que no passado, particularmente, em comparação com o governo de seu antecessor, Boris Yeltsin que faleceu agora no mês de abril aos 75 anos de idade. Leia mais em: Agência Russa Ria Novosti sobre o discurso anual de Putin. E na série especial de reportagens do The Guardian sobre a Rússia: 1)Back to the future with Putin – the president’s return to the era of authoritarianism. 2) Russia’s power play in Europe – Gazprom, its biggest company, and to many in the west a tool of the Kremlin’s expansionist ambitions. 3) From Russia, with love for the more exclusive side of London life – the influx of the super-rich into Britain and how they are making an impression on the capital.

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Crise no governo israelense

Quando o parlamento israelense debateu o fiasco militar da invasão do sul do Líbano ocorrido em julho de 2006, uma das deliberações foi compor uma comissão parlamentar para fazer uma investigação sobre os fatos para posterior apresentação.

Esta comissão acabou de apresentar um relatório chamado “Relatório Winograd” que com todas as letras responsabilizou o primeiro ministro Ehud Olmert, o Ministro da Defesa Amir Peretz e o Chefe das Forças Armadas Dan Halutz pela derrota, principalmente, por terem determinado o ataque sem que o exército israelense estivesse preparado para isto.

A popularidade de Olmert caiu para um nível extremamente baixo desde a retirada israelense e hoje beira os 2%. O relatório gerou uma crise maior ainda, multiplicando-se os pedidos para que renuncie ao cargo. No entanto, ele tem resistido, pois sua coalizão tem maioria no parlamento e conseguiu derrotar três moções diferentes de desconfiança apresentadas pelos partidos de oposição. A aprovação de qualquer uma delas significaria a convocação antecipada das eleições e a vitória do Likud, partido da direita e a perda de muitas cadeiras para a coalizão Kadima – Partido Trabalhista.

A sua renúncia não implicaria em novas eleições e tão somente sua substituição como presidente do partido e primeiro ministro pela atual ministra de relações exteriores, Tzipi Livni, que é vice-presidente do Kadima e ela, que preservou sua popularidade, já declarou que Olmert deveria renunciar e da mesma forma há movimentos no interior do Partido Trabalhista para retirar Amir Peretz da presidência, pois as perspectivas eleitorais dos trabalhistas são ainda piores após o desastroso desempenho de Peretz como Ministro da Defesa.

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A aproximação de Japão e China – a visita de Wen Jiabao a Tokyo

Em uma rara visita de um líder chinês ao parlamento do Japão, a primeira em 22 anos, o primeiro ministro Wen Jiabao ressaltou a amizade entre os dois países, mas fez questão de solicitar que Tokyo peça desculpas pelas agressões de guerra com ações concretas.

O Japão nunca admitiu sua responsabilidade pela guerra do Pacífico e embora o premiê socialista Tomiichi Murayama tenha feito um pedido oficial de desculpas à China pela guerra em 1995. O Japão nunca promoveu um debate interno sobre seu grau de responsabilidade e nunca fez um esforço resoluto para propagar uma narrativa alternativa a Yushukan, o museu militar instalado ao lado do templo de Yasukuni.

O templo e o museu, que glorificam o passado militarista do Japão, simbolizam o centro da discórdia e das dificuldades das relações do país com os países do entorno, notadamente China e Coréia do Sul. O ex-primeiro ministro Junichi Koizumi visitou o templo anualmente durante sua permanência no cargo.

A fim de recuperar as relações com a China, em outubro de 2006, o recém alçado ao posto de primeiro ministro do Japão Shinzo Abe, visitou Beijing. O passo foi retribuído por Wen Jiabao entre 11 e 13 de abril, a primeira visita de um líder chinês ao território japonês em sete anos.

Quanto ao templo de Yasukuni que tem em Abe um visitante, até mais freqüente do que Koizumi, os chineses acreditam no acordo tácito de que ele não visitará o local enquanto estiver no cargo de primeiro ministro. Se este requisito mínimo for preenchido, o governo chinês parece determinado a construir uma nova parceria estratégica com o Japão, um movimento que poderá ser recíproco pelo governo japonês. O problema dos políticos japoneses é o nacionalismo vigente e as repercussões eleitorais caso coloquem este aspecto em segundo plano.

De todo modo, foi levantado um amplo leque de temas entre os dois países durante a visita, tais como, a cooperação econômica e ambiental, mecanismos para diminuir as disputas territoriais no leste do Mar da China (complicadas pela presença de gás e petróleo) e medidas para que haja o aumento da confiança entre as respectivas Forças Armadas.

A visita de Wen Jiabao formalizou um novo acordo de diálogo dos gabinetes para questões econômicas. Além disso, as empresas japonesas terão a chance de participar de concorrências para projetos de energia nuclear e também de partes de um projeto de construção de linhas de trem rápido ligando Beijing e Xangai, Beinjing e Wuhan e Dalian e Harbin na Manchúria. Seus investimentos e expertise poderão ser utilizados em projetos ambientais incluindo eficiência energética.

A disputa com relação ao leste do Mar da China é potencialmente mais perigosa. Apesar de haver uma linha de fronteira entre os dois países, a China não a reconhece e já iniciou o trabalho de extração do gás de um campo localizado sobre a linha fronteiriça.

Já foram realizadas sete rodadas bilaterais para a discussão do tema e os poucos avanços são no sentido de que a China aceitou que a solução do conflito não recaia sobre a disputa territorial e sim sobre como desenvolver os campos em disputa de forma conjunta.

A abertura das relações entre os dois países, no entanto, envolve alguns riscos. No Japão haverá eleições para o Senado dentro de alguns meses e o período a seguir será todo repleto de aniversários sensíveis relacionados a ações japonesas levadas a cabo durante a Guerra contra a China. Qualquer um deles pode reavivar os sentimentos anti-nipônicos que levaram manifestantes às ruas chinesas em 2005.

A mídia chinesa enfatiza que 2007 é a celebração de 35 anos da normalização das relações com o Japão. Contudo, as pessoas devem lembrar-se do ano porque em 7 de julho a invasão japonesa à China completa 70 anos e em 13 de dezembro será lembrado o massacre de Nanjing, considerado a maior atrocidade japonesa em território chinês.

Apesar de toda a turbulência, o sucesso da visita de Wen Jiabao poderá ser capitalizado por Abe, já que a dissipação das tensões com a China foi o único sucesso dos seus seis meses frente ao gabinete, que conta com baixa aprovação entre os eleitores japoneses por conta de diversos escândalos em seu governo e pela percepção da população de que ele seria um líder fraco. Leia mais em: O nó do nacionalismo japonês. E reportagem especial da Agência chinesa Xinhua sobre a Visita de Web Jiabao ao Japão.

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As eleições no Nepal

Um total de 41 partidos políticos do Nepal se registrou para participar das eleições para a Assembléia Constituinte inicialmente propostas para 20 de junho e posteriormente desmarcadas. O prazo dado pela Comissão Eleitoral para os registros foi de 31 de março a 27 de abril.

Embora a nova data para o pleito não tenha sido escolhida, os maiores partidos políticos nepaleses realizaram sua inscrição a fim de garantir a participação no processo, entre eles, o Congresso Nepalês, o Partido Comunista Nepal-Unificado Marxista Leninista e o Partido Comunista do Nepal Maoísta (CPN-M).

Os oito principais partidos do país, incluindo o CPN-M, integram o parlamento interino e o governo, desde a derrubada do antigo regime em abril de 2006. Na ocasião, o rei Gyanendra foi obrigado a devolver o poder a um parlamento eleito diante dos enormes protestos da população. Um tratado de paz entre o governo e os maoístas foi assinado, finalizando um conflito armado de mais de 10 anos de duração.

Essa foi a primeira vez que o CPN-M registrou-se para uma votação desde 1996, quando abandonou a via política institucional e iniciou a luta armada no país. Contudo, em meio às incertezas sobre a definição de uma nova data para a realização das eleições para a Assembléia Constituinte, os maoístas estão oferecendo um ultimato a seus companheiros da coalizão do governo para que o país seja declarado uma república a partir de maio de 2007.

Sem citar quais, Dr. Baburam Bhattarai, um dos principais líderes do CPN-M, acusou governos estrangeiros de tentarem sabotar as eleições. Declarou também que o parlamento interino falhou em dissolver a monarquia no Nepal e que, caso isso não ocorra até a primeira semana do mês nepalês do Jeth, em 21 de maio, seu partido iniciará um novo movimento nas ruas, embora desarmado.

Quando os maoístas assinaram o acordo de paz em 2006, ambos os lados concordaram em realizar eleições a fim de decidir se o país manteria a monarquia ou seria transformado numa república. Entretanto, com a indefinição da nova data de votação pela Comissão Eleitoral, os ex-guerrilheiros estão pressionando seus aliados da coalizão para que transformem o sistema político do país através do parlamento.

Uma nova cláusula afirma que a monarquia nepalesa, com seus 238 anos de existência, pode ser abolida se dois terços do parlamento aprovar a medida. Mas o plano conta com a oposição do primeiro ministro Girija Prasad Koirala e seu partido Congresso Nepalês, o maior da aliança, que defende que a escolha deve ser feita através do pleito.

Enquanto os maoístas acusam Koirala de defender os interesses do rei, o Congresso Nepalês acusa os ex-guerrilheiros de violarem o acordo de paz, extorquindo e intimidando a população. Além dos conflitos internos na coalizão, os territórios localizados no sul do Nepal, na planície de Terai, tem sido alvo de ações violentas e desde janeiro já contabiliza 70 mortes. Diversos grupos étnicos têm realizado protestos na região demandando Estados autônomos para as distintas comunidades.

Dois representantes do governo declararam recentemente que as eleições poderão ser realizadas em novembro próximo. Mas nada foi confirmado, apesar das grandes pressões internas e da pressão das Nações Unidas que teme que medidas anti-democráticas sejam tomadas neste período pré-eleitoral.

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Eleições presidenciais no Timor Lorosae

Concluído o segundo turno das eleições presidências no Timor Lorosae, o vencedor foi o candidato independente José Ramos Horta que obteve 69% dos votos contra o candidato da Fretilin, Francisco Guterres “Lu Olo” que alcançou apenas 31% dos votos, apesar de ter saído em vantagem no primeiro turno. Ramos Horta conseguiu o apoio de quase todos os demais concorrentes do primeiro pleito, além de ter a preferência dos governos dos países que ainda têm grande presença e influência no país como a Austrália e os EUA, pela sua postura política e herança dos tempos em que advogava a causa da independência do Timor Leste junto à ONU e outras organizações.

O importante foi que o processo se realizou sem a violência que tem caracterizado as disputas políticas no país nos últimos tempos. Em 30 de junho ocorrerão as eleições parlamentares. Entre os candidatos de 14 partidos e coligações partidárias, um dos principais será o atual presidente e ex-líder do movimento armado de libertação e atual presidente, Xanana Gusmão que tentará se eleger primeiro ministro.

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Eleições na Nigéria

No dia 21 de abril realizou-se a eleição presidencial na Nigéria. É a terceira vez após o término da última seqüência de ditaduras militares que durou de 1984 a 1999. A Comissão Eleitoral anunciou a vitória de Umaru Yar’Adua que era apoiado pelo atual presidente Olusegun Obasanjo e que teria obtido 70% dos votos. Na semana anterior também houve eleições nos 36 estados, vencidas majoritariamente pelo partido do presidente, o Partido Democrático Popular (PDP), apesar das acusações de fraude feitas pela oposição.

Obasanjo, um general da reserva, havia governado o país no início dos anos 1970 com viés nacionalista. Além desta imagem que deixou, ele é cristão de origem Iorubá, uma das etnias mais numerosas do país, o que lhe permitiu retornar ao poder pela via eleitoral em 1999 e ser reeleito em 2003. No ano passado, tentou aprovar uma mudança na Constituição para disputar um terceiro mandato, mas a manobra não prosperou.

O segundo colocado com 18% dos votos, teria sido o general Muhammadu Buhari, também um ex-ditador e que governou entre 1984 e 1985, ficando conhecido como o responsável pela expulsão de 600 mil estrangeiros da Nigéria naquela época.

O terceiro colocado com 7% dos votos foi Atiku Abubakar, o atual vice-presidente, rompido com Obasanjo e que somente conseguiu o direito de participar da disputa, por meio de decisão judicial, uma semana antes da eleição. Até então, um decreto governamental impedia os acusados de corrupção de concorrer. Os demais candidatos teriam alcançado 5% dos votos.

Os observadores internacionais que acompanharam o processo eleitoral declararam que a lisura foi comprometida por uma série de irregularidades, desde o desaparecimento de cédulas e urnas, até a intimidação de eleitores pelos mesários nos postos de votação.

A Nigéria é o país mais populoso da África com aproximadamente 140 milhões de habitantes compostos por, aproximadamente, 250 etnias entre as quais os Haussas e Felanis do norte do país, os Iorubas do sudoeste e os Ibos do sudeste são os mais numerosos.

Tornou-se independente da Inglaterra em 1960, mas conviveu com poucos anos de democracia ao longo de sua história e um dos fatos marcantes foi a guerra da Biafra entre 1967 e 1970 quando os Ibos tentaram separar o seu território do restante do país. Estima-se que morreram entre 500 mil e dois milhões de Ibos nesta guerra, devido aos bombardeios, doenças e desnutrição.

O país é rico em petróleo e o oitavo produtor mundial, sendo que sua produção advém majoritariamente da região do Delta do Rio Níger. No entanto, não possui refinarias e tampouco indústrias, sendo extremamente dependente de importações. É considerado pela organização Transparência Internacional, um dos Estados mais corruptos do mundo e 80% de sua população vivem na pobreza.

A principal organização social é a central sindical NLC (Nigerian labor Congress), mas os sucessivos governos militares conseguiram alijar os partidos políticos progressistas e de esquerda da vida política do país. Em 1993, o governo do general Sani Abacha executou nove militantes de uma organização chamada “Movimento pela Libertação do Povo Ogoni” (MOSOP), entre eles o jornalista, dramaturgo e ambientalista, Ken Saro-Wiwa, conhecido internacionalmente.

A exploração de petróleo e gás no Delta por empresas multinacionais com a Shell, Exxon, Agip, entre outras, tem provocado grandes danos ambientais, sem que elas ofereçam qualquer compensação por isto. Além disto, a lei determina que apenas 13% do arrecadado sobre os rendimentos do petróleo fique com os governos estaduais da região, o que é insuficiente para maiores investimentos sociais, mesmo se quisessem realizá-los.

Em substituição a movimentos como o MOSOP que buscavam alterar esta situação politicamente, surgiram grupos armados na região do Delta que vêm seqüestrando técnicos estrangeiros das empresas petrolíferas e sabotando suas instalações. Apesar dos nomes pomposos que ostentam, como “Movimento pela Emancipação do Delta do Níger” (MEND) e “Forças Voluntárias do Povo do Delta do Níger” (NDPVF), são na verdade gangues que extorquem as empresas por estes meios para fins privados.

Diante deste quadro, a disputa eleitoral somente representou a tradicional disputa entre as elites nigerianas e não um processo de transformação, pelo menos rumo a uma economia menos dependente de um único insumo. Leia mais em: NIGERIA: Watershed Elections – For Men, That Is de Sam Olukoya.

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Wolfowitz e o escândalo no Banco Mundial

Ironicamente, o arquiteto da Guerra do Iraque, alçado a presidente do Banco Mundial por indicação de seu amigo presidente George W. Bush, Paul Wolfowitz, gostaria que sua marca na instituição fosse o apoio às ações anti-corrupção do banco. Contudo, após semanas de especulação, alguns proeminentes funcionários do Banco Mundial estão pedindo que Wolfowitz renuncie ao seu cargo, alegando que a credibilidade da instituição está em jogo com a quebra das regras éticas da organização perpetradas por ele.

Wolfowitz concedeu um generoso aumento de salário à sua namorada, a funcionária do Departamento de Oriente Médio do Banco, Shaha Ali Riza, antes que ela fosse cedida para trabalhar no governo norte-americano..

No início das repercussões do escandâlo, Wolfowitz declarou: "Cometi um erro e peço desculpas". Após duas semanas, ele já reajustou sua retórica e diz que "as acusações de falta de ética são falsas e enganosas".

No dia 4 de maio, o comitê de diretores do Banco trabalhava em seu relatório sobre o caso envolvendo Wolfowitz e ponderava se devia repreendê-lo ou até mesmo removê-lo do cargo. Contudo, independente das deliberações oficiais – que certamente serão afetadas por uma série de manobras internas e interesses individuais dos estados membros – o caso de Wolfowitz e Riza mostra mais uma vez o modus operandi do grupo de George Bush.

Diante de um "conflito de interesses" por ser o chefe de sua namorada, Wolfowitz negociou um acordo para que Riza permanecesse funcionária da instituição, mas fosse cedida para trabalhar no Departamento de Estado do governo norte-americano. Isso não seria um problema caso ele não tivesse ignorado as políticas salariais do Banco e não tivesse garantido à sua companheira um aumento de 36%, de US$ 136.660 para US$ 180.000 ao ano e garantido reajustes anuais de 8% que elevaram seu salário para US$ 193.000 em 2007.

O argumento do presidente do banco é que sua namorada estava prestes a receber uma promoção quando ela foi transferida para o governo dos EUA, fato negado pelo Departamento de Recursos Humanos do BIRD. Além disso, o Departamento também alega que o aumento dela foi duas vezes o permitido pelas políticas internas.

De acordo com o trato realizado, caso Wolfowitz permanecesse no cargo por 10 anos, faria com que ela tivesse um salário acima de US$ 400.000 em 2015, o que a levaria a uma aposentadoria alta ao redor de US$ 110.000 anuais. As regras do Banco Mundial estabelecem o valor da aposentadoria por meio da média do salário dos últimos três anos de serviço. Antes do acordo, ela receberia em torno de US$ 50.000 a cada ano.

As negociações para a transferência de Riza foram finalizadas em setembro de 2005. Em outubro de 2006, Anwar Ibrahim, presidente da Fundação do Futuro, uma instituição privada, entrou em contato com Robin Cleveland, do alto escalão de assessores de Wolfowitz no Banco e solicitou a transferência de Riza do Departamento de Estado para a Fundação. Em dezembro, Cleveland fez o requerimento para que o diretor de Recursos Humanos da instituição aprovasse a transferência.

Ela recebeu a tarefa de desenvolver o plano de trabalho cujo foco seria a reforma do Oriente Médio e do Norte da África. A carta de Anwar e os outros documentos do Banco relacionados ao caso não mencionam que ele é um amigo muito próximo de Wolfowitz, desde a década de 80, quando Anwar era Vice-primeiro ministro da Malásia e Wolfowitz era Embaixador dos EUA na Indonésia.

Anwar e Riza selecionaram o conselho diretor da fundação e definiram a missão de "avançar e fortalecer a liberdade e as práticas democráticas nas nações do Oriente Médio e do Norte da África" através do apoio a reformas, mídia e grupos de direitos humanos nestes países. Apesar de não ser parte do governo americano, a fundação recebeu US$ 35 milhões em fundos norte-americanos e outros US$ 20 milhões de outras fontes. Apesar disso, ainda não distribuíram uma única bolsa ou financiamento de projetos.

Embora haja suspeitas sobre o papel desta fundação, o problema continua sendo a quebra das regras de ética do banco na relação entre Riza e Wolfowitz. Após admitir que cometeu um erro, agora Wolfowitz tem se defendido arduamente usando argumentos de que foi seu papel na guerra do Iraque que trouxe à tona a campanha de difamação. Mesmo assim, o conselho diretor do Banco considerou que houve um conflito de interesses e que ele é culpado de ter administrado de forma errônea a questão.

Numa reunião realizada em 17 de maio o Conselho aprovou seu afastamento do cargo e ele anunciou que o deixará no dia 30 de junho. Leia mais em: Site oficial do Banco Mundial, Top Wolfowitz Postings Went to Iraq War Backers e Wolfowitz: corrupción en la cima.

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Terceiro relatório do IPCC sobre mudanças climáticas – propostas para ação

A terceira e última parte do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), considerado o mais importante documento sobre as mudanças climáticas, foi divulgado na Tailândia em 4 de maio passado. A importância de seu conteúdo é porque este segmento dos estudos trata justamente das ações que podem minimizar os efeitos do aquecimento global.

O grupo formado por 190 cientistas e pesquisadores de todo o mundo preparou o documento apresentado em Bangkok a diplomatas que compuseram delegações de mais de 100 países a fim de negociar o teor do documento final.

O relatório pede mudanças bruscas no padrão de uso da energia, sem as quais o crescimento das emissões crescerá ao menos 40% entre 2000 e 2020. As propostas passam pela mudança para combustíveis menos poluentes, diminuição das emissões na agricultura (provenientes do uso de defensivos químicos) e esforços no sentido de atingir maior eficiência energética, com edificações e iluminação de menor consumo de eletricidade. Além disso, o grupo também sugere a captura de carbono em usinas de carvão e uso de energias renováveis.

De acordo com os estudos, o custo das adaptações não seria grande, ficando entre 0,2% e 3% do Produto Interno Bruto Mundial.

O grande desafio é como adequar a industrialização dos países em desenvolvimento para minimizar a poluição produzida pela geração de energia e pelos esforços de construção. Por enquanto, os países nesta categoria estão isentos de compromissos relacionados à diminuição das emissões e nas negociações, tentam manter as regalias adquiridas no protocolo de Kyoto, que deve ser renegociado em 2012 e deve modificar este status.

A fim de evitar as grandes críticas que tem recebido, na discussão desta parte do relatório do IPCC, a China teve um papel crucial apresentando a maioria das 1.500 propostas de modificação do rascunho. Ainda em 2007, a China deve ultrapassar os Estados Unidos como o maior emissor mundial de gases de efeito estufa já que grande parte de sua energia é gerada pela queima de carvão. Ambos os países estão alarmados com a possibilidade de estabelecer um teto para as emissões, o que poderia requerer limitações à atividade industrial desses países.

Contudo, China e outros países em desenvolvimento defendem que seja incluída nos documentos a menção de que os países desenvolvidos foram responsáveis por 75% da emissão de poluentes, já que o crescimento e consolidação das suas economias se deram com base na utilização de energias sujas.

O primeiro relatório do IPCC tratou de atribuir à ação humana a responsabilidade pelas mudanças climáticas, no segundo descreveram as conseqüências das mudanças e neste terceiro, apresentam as recomendações.

As conclusões desta rodada de análises do IPCC serão discutidas na próxima reunião do G8, que se realiza em junho na Alemanha, atual presidência do grupo. Leia mais em: Relatório "Climate Change 2007 – Mitigation of Climate Change".

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