Wagner de Melo Romão
A maior demonstração de força do PT, em meio à crise de 2005/06 foi a maciça presença de militantes eleitores no PED. O partido, naquilo que expressa um de seus mais importantes diferenciais na história político-partidária brasileira, a participação de base, mostrava que não iria deixar cair a bandeira vermelha.
Porém, sabemos que a participação efetiva da base militante petista tem sido, ano após ano, menosprezada e diminuída pelas lideranças partidárias. Um dos maiores desafios deste III Congresso é reconstruir a dimensão participativa, democrática e conscientemente socialista do PT. É estratégico para isso recuperarmos a instância do Diretório Zonal (DZ), sobretudo reformando a divisão do orçamento do partido.
Os DZs pretendem ser a instância partidária mais próxima do filiado. Foram criados, nas grandes cidades, das reuniões de base na época da formação do PT. Na cidade de São Paulo, no começo dos anos 80, existiam 55 DZs em atividade. Hoje existem 35 zonais na cidade, sendo que a maioria deles não possui sede própria e, com honrosas exceções, funcionam apenas como precários comitês eleitorais na época das eleições.
A dificuldade de sobrevivência dos DZs tem tudo a ver com o que parece ser a renúncia da idéia original petista, de ser um partido diferente dos outros, vivo, criativo, próximo das bases, comprometido com a construção do socialismo, e não apenas uma máquina eleitoral. É só com zonais fortalecidos que esse partido militante pode ser (re)construído. O zonal deve constituir-se como um espaço de vivência partidária cotidiana, de festa, de formação política, de encontro e solidariedade entre companheiros. Espaço de pensar as estratégias locais de engrandecimento do PT e da luta por transformar a sociedade brasileira. Mas o zonal tende a se esvaziar quando os militantes de base percebem que suas opiniões não fazem mais diferença em seus rumos. Quando o partido se centraliza, como vimos nos últimos anos, o DZ não tem mais por que existir.
É na divisão do orçamento do partido que esse centralismo se expressa melhor. O PT sobrevive financeiramente hoje, para além do fundo partidário, da contribuição compulsória dos parlamentares, dos filiados com cargo comissionado nos governos e vinculados aos gabinetes no Legislativo. Poucos são os filiados que contribuem. Na divisão do orçamento, o Diretório Nacional fica com o que é relativo ao governo federal e ao Congresso, repetindo-se essa divisão nos âmbitos estadual e municipal, com os Diretórios Estaduais e Municipais. Os Zonais têm que ficar de pires na mão junto aos parlamentares e dirigentes mais graduados para pagar a conta de luz da sede, isso quando ela existe.
Os DZs, mesmo aqueles que têm muitos de seus filiados em cargos comissionados, não recebem sequer 1% da contribuição compulsória. Isso contribui para um distanciamento ainda maior dos filiados com cargos em relação à sua base partidária, o que também enfraquece o zonal como espaço de reflexão sobre a participação do PT nos Executivos e nos Parlamentos. A informação não circula e passa a haver um grande fosso entre os militantes de base e os militantes “do alto”.
Para acabar com o centralismo exacerbado e fortalecer a democracia interna no PT é crucial que a gestão do orçamento do partido sofra uma profunda reforma. O PT precisa rever suas prioridades, de modo a não abandonar sua luta por transformações profundas na sociedade brasileira. É importante ganharmos eleições, mas não é verdade que queremos ir muito mais além?
*Artigo enviado em 8 de maio de 2007