Prefácio – SESC
Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com
SESC Nacional e SESC São Paulo
Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com
SESC Nacional e SESC São Paulo
Para viabilizar a pesquisa “Idosos no Brasil”, a Fundação Perseu Abramo e o SESC através de seu Departamento Nacional e do Departamento Regional de São Paulo uniram-se em torno de um objetivo comum: não somente traçar o perfil sociodemográfico e descrever alguns aspectos da condição de vida dos idosos, mas, sobretudo, dar voz aos brasileiros da Terceira Idade, investigando suas percepções em relação ao envelhecimento e ao contexto social em que estão inseridos. Cumprida a tarefa, esperamos agora que a ampla divulgação dos resultados deste levantamento possa colaborar para a reflexão sobre a urgente necessidade de revermos as políticas públicas para o setor. A partir de um debate nacional poderão surgir novas propostas de valorização da pessoa idosa que se concretiza pelo aproveitamento de seu saber, mas que também lhe faça justiça, contemplando a possibilidade de uma vida digna na velhice.
De 01 a 23 de abril de 2006, foram entrevistadas 2.136 pessoas com 60 anos ou mais. Como se pretendeu também investigar a imagem que os mais jovens têm da velhice e do envelhecimento, foram entrevistadas 1.608 pessoas de 16 a 59 anos de idade. A investigação foi realizada em 204 municípios pequenos, médios e grandes de todas as regiões do país.
A seguir, são ressaltados alguns resultados da pesquisa que chamam a atenção por seu caráter inusitado e/ou pelos impactos sobre as futuras gerações de idosos. Como os dados são muito numerosos, trata-se apenas de uma pequena seleção que visa aguçar a curiosidade dos leitores e estimula-los a conhecer mais amplamente o rico material que foi apurado.
Entre a população idosa o analfabetismo funcional totaliza 49%. 23% declaram não saber ler e escrever o próprio nome. Esse fato nos faz pensar sobre a urgência de uma política educacional para esse segmento etário. Afortunadamente, as novas gerações são bem escolarizadas, fato que mudará o perfil dos futuros idosos, nesse aspecto.
No entanto, um outro dado poderá ter um efeito negativo no futuro: um terço da população brasileira (35%) não tem filhos, enquanto que entre os idosos apenas 6% não tiveram filhos. Essa drástica diminuição da fecundidade poderá criar antagonismos entre, de um lado, idosos e seus filhos e de outro, idosos sem filhos, potencialmente vistos como uma sobrecarga ao sistema previdenciário. Cenário que poderá configurar possíveis conflitos intra e intergerações.
A ampliação de aposentadorias, pensões e benefícios permite entender o expressivo índice (92%) de idosos com alguma fonte de renda. Embora, ainda haja muito a fazer por uma valorização social do idoso, certamente sua posição de colaborador financeiro ou até mesmo de provedor principal, incrementa sua importância no núcleo familiar.
A imagem de velhice está principalmente associada a aspectos negativos, tanto para os próprios idosos (88%), com para os não idosos (90%). Dentre esses aspectos as doenças, as debilidades físicas, o desânimo e a dependência física são os principais sinais de que a velhice chegou, numa clara tendência em estereotipar o envelhecimento como período somente de perdas. Contraditoriamente, quando perguntados como se sentem com a idade que têm, a maioria dos idosos responde positivamente (69%), destes 48% se diz satisfeita ou feliz. Uma política de valorização do idoso passa pela argumentação de que algumas perdas inexoráveis do processo de envelhecimento podem ser compensadas ou serem objeto de adaptações, ainda que parcialmente, por outros fatores passíveis de desenvolvimento nessa fase da vida.
Para uma expressiva maioria dos não idosos (85%) e dos idosos (80%) existe preconceito contra a velhice no Brasil. Mas, poucos brasileiros admitem ser preconceituosos em relação à velhice: apenas 4% dos não idosos. Essa gritante contradição, já encontrada em outras pesquisas sociais, nos mostra que o preconceito é geralmente visto como um problema alheio. Mentimos aos outros e principalmente a nós mesmos.
O Estatuto do idoso, importante ferramenta de defesa de direitos sociais, é mais conhecido entre os mais jovens. Enquanto 18% dos não idosos desconhecem essa lei, 27% dos idosos revelaram desconhecimento total a respeito. Esse fato coloca à sociedade brasileira um importante desafio se pensarmos que a inclusão social depende não somente do acesso à informação, como também da capacidade de processá-la. Cabe aqui lembrar o alto índice de analfabetismo funcional dos idosos, que já mencionamos, e a urgência no estabelecimento de uma política educacional.
A violência contra o idoso é preocupante. 35% dos idosos declararam já ter sofrido algum tipo de maus tratos (ofensas, tratamento com ironia, humilhação devido à idade, recusa de emprego, falta de acesso a remédios, apropriação indevida de bens, lesão corporal, etc). Essa questão ressalta a importância do desenvolvimento de mecanismos sociais de vigilância, mas também da conscientização por parte do idoso de outras formas de violência em seu cotidiano (p.ex. precariedade de serviços) sobretudo quando envolve idosos em condições vulneráveis de saúde e financeiras.
E por falar em saúde, 26% das mulheres da Terceira Idade nunca fizeram exames ginecológicos e 42% dos homens idosos nunca fizeram o exame de próstata. Considerando a virulência desse tipo de câncer, pode-se concluir o quanto deve ainda ser feito em campanhas nessa área.
Campanhas televisivas, por exemplo, podem produzir bons resultados, já que dois terços dos idosos (65%) têm a TV com principal meio de informação. Também o rádio (26%) e sobretudo a conversa com outras pessoas (39%) são fontes significativas de obtenção de conhecimento e por isso, devem ser consideradas em campanhas de esclarecimento.
Sabemos que hoje a inclusão social passa também pela chamada inclusão digital e nesse campo há muito a realizar pois apenas 10% dos idosos afirmam usar o computador e destes apenas 3% declaram usá-lo sempre, enquanto que 7% o fazem ocasionalmente. Em relação à internet ocorre algo semelhante: apenas 4% a utilizam, sendo que destes somente 1% o fazem constantemente. Atento a essa necessidade, o SESC São Paulo há alguns anos desenvolve cursos e oficinas de informática em seu programa Trabalho Social com Idosos.
Para encerrar esse “flash” de resultados, mais uma boa notícia: metade dos idosos brasileiros costuma fazer caminhadas. Mas há ainda aqueles que se dedicam à ginástica, passeio de bicicleta, entre outras atividades físicas. Se pensarmos nos prejuízos que o sedentarismo impõe à saúde, constatamos uma evolução positiva nos hábitos de vida da Terceira Idade.
Por fim, como dissemos, a investigação foi realizada não somente junto aos idosos. Também os mais jovens foram inquiridos sobre como percebem a velhice e o fenômeno do envelhecimento em seus mais diversos aspectos e circunstâncias. Num tempo que tem se caracterizado pelo distanciamento entre as gerações, conhecer opiniões e estereótipos relativos à condição etária pode ser uma boa oportunidade para pensarmos políticas de aproximação entre jovens e velhos na perspectiva de formação de uma cultura solidária. Como respostas concretas a tais demandas, o SESC, através de seu Departamento Nacional desenvolve o projeto “Era Uma Vez… Atividades Intergeracionais” enquanto que o SESC São Paulo está implantando o programa SESC Gerações, cujo objetivo é o fomento de processos de trocas afetivas e de co-educação.
Ao estabelecer a parceria com a Fundação Perseu Abramo na realização dessa pesquisa, o SESC procura se manter coerente com sua política em favor dos cidadãos idosos de nosso país. Há 44 anos iniciamos o Trabalho Social com Idosos, programa pioneiro e prosseguimos nesta jornada porque acreditamos que a emergência do Brasil ao chamado Primeiro Mundo passa também pela dignificação de seus velhos.