“Eu incito esta assembléia à rebelião”

Emmeline Pankhurst

Emmeline Goulden Pankhurst 1858-1928) foi líder da militância das sufragistas inglesas de 1903 até o início da Primeira Guerra Mundial. Ela começou a se interessar pelas causas feministas com 14 anos, quando assistiu a uma palestra em sua cidade natal de Manchester proferida por Lydia Becker, pioneira do movimento de mulheres na Inglaterra. Pankhurst participou das fases finais da luta pela aprovação da Lei de Propriedade das Mulheres Casadas (conquistada em 1882). Ela também trabalhou com os primeiros grupos sufragistas.

Finalmente, desencorajada pela inatividade e timidez das organizações sufragistas estabelecidas, Emmeline Pankhurst e algumas companheiras que estavam recrutando operárias em Manchester para a campanha do sufrágio, fundaram a União Social e Política das Mulheres em 1903. No início elas eram relativamente pouco numerosas, tinham pouco dinheiro e influência política. Como poderiam levar a público o seu ardente anseio de conquistar o direito de participação política das mulheres? Até 1905, nenhuma estratégia possível foi delineada.

Neste ano, a filha de Pankhurst, Christabel, e uma companheira, Annie Kenney, compareceram a um comício em Manchester, e da platéia, repetidamente questionaram o orador sobre a política de seu partido sobre o tema do sufrágio. As duas mulheres foram expulsas à força do local. No tumulto que se seguiu, elas foram presas e acusadas de distúrbio. Ambas recusaram-se a pagar as fianças impostas e cumpriram penas.

O incidente causou uma grande comoção na imprensa nacional e deu à causa sufragista sua primeira grande publicidade após muitos anos. Tumultos em comícios políticos nos anos seguintes fizeram crescer a atenção para as demandas das mulheres e trouxe um novo vigor para a causa feminista.

Quando o governo demonstrou não estar propenso a aprovar o sufrágio feminino, as militantes gradualmente radicalizaram suas táticas. O governo respondeu com uma violência crescente. As sufragistas presas recusavam-se a comer; foram forçadas a se alimentar, em um processo doloroso e perigoso. Em 1912, a fúria das mulheres ativistas explodiu em uma onda de quebra-quebras. Vitrines das lojas das ruas mais elegantes de Londres – Bond Street e Regent Street, por exemplo – assim como as vitrines da 10 Downing Street foram estilhaçadas pelos martelos empunhados pelas mulheres. Emmeline Pankhurst e cerca de 150 outras mulheres foram detidas e aprisionadas. Após alguns meses, entretanto, todas tiveram que ser soltas devido ao seu precário estado de saúde, em função das greves de fome e da alimentação forçada.

O discurso a seguir foi feito no Royal Albert Hall em Londres em 17 de outubro de 1912. Foi o primeiro discurso público de Emmeline após ter sido presa, anunciando ainda uma intensificação da ação de suas companheiras.
“Sempre me pareceu quando os membros do Governo anti-sufragista criticam a militância das mulheres que eles se parecem animais brutos reprovando animais pacíficos que assumem uma resistência desesperada quando à beira da morte…Senhoras e senhores, a única negligência que as militantes sufragistas demonstraram diante da vida humana foi em relação às suas próprias vidas e não em relação à vida dos outros. E eu digo aqui e agora que nunca será a política da União Social e Política das Mulheres colocar em risco a vida humana. Deixamos isso para o inimigo. Deixamos isto para os homens em sua guerra a nós. Este não é o método das mulheres…

Há algo que os governos cuidam mais do que a vida humana, e este algo é a segurança da propriedade, e é através da propriedade que devemos golpear o inimigo. De hoje em diante, as mulheres vão concordar comigo e vão dizer: “Nós desprezamos suas leis, senhores, nos colocamos a liberdade e a dignidade e o bem estar das mulheres sobre todas estas considerações, e vamos continuar esta luta como continuamos no passado; e qualquer sacrifício à propriedade ou dano à propriedade não será nossa culpa. Será culpa deste governo que admite a justiça das nossas reivindicações, mas não quer concedê-las…

Seja cada uma militante no seu próprio jeito. Aquelas entre vocês que querem expressar sua militância indo à Câmara dos Comuns e se recusando a deixá-la se não atendidas,como fizemos no passado – façam isto… Aquelas entre vocês que querem expressar sua militância apoiando-nos em nossa campanha política contra o governo – façam isto. Aquelas entre vocês que queiram quebrar vitrines – quebrem-nas. Aquelas entre vocês que querem ainda avançar no ataque ao ídolo secreto da propriedade, para fazer o governo entender que a propriedade está severamente ameaçada pelo voto feminino como foi pelo voto dos Cartistas de antigamente – façam isto.

E a minha última palavra é dirigida ao Governo: Eu incito esta assembléia à rebelião! Detenham-me se tiverem a ousadia, mas eu lhes digo claramente… vocês não vão me manter na prisão.”

(Traduzido do livro “Feminism: The Essential Historical Writings”, Edited by Miriam Schneir, Vintage Books, New York, 1972).