Emmeline Pankhurst
Finalmente, desencorajada pela inatividade e timidez das organizações sufragistas estabelecidas, Emmeline Pankhurst e algumas companheiras que estavam recrutando operárias em Manchester para a campanha do sufrágio, fundaram a União Social e Política das Mulheres em 1903. No início elas eram relativamente pouco numerosas, tinham pouco dinheiro e influência política. Como poderiam levar a público o seu ardente anseio de conquistar o direito de participação política das mulheres? Até 1905, nenhuma estratégia possível foi delineada.
Neste ano, a filha de Pankhurst, Christabel, e uma companheira, Annie Kenney, compareceram a um comício em Manchester, e da platéia, repetidamente questionaram o orador sobre a política de seu partido sobre o tema do sufrágio. As duas mulheres foram expulsas à força do local. No tumulto que se seguiu, elas foram presas e acusadas de distúrbio. Ambas recusaram-se a pagar as fianças impostas e cumpriram penas.
O incidente causou uma grande comoção na imprensa nacional e deu à causa sufragista sua primeira grande publicidade após muitos anos. Tumultos em comícios políticos nos anos seguintes fizeram crescer a atenção para as demandas das mulheres e trouxe um novo vigor para a causa feminista.
Quando o governo demonstrou não estar propenso a aprovar o sufrágio feminino, as militantes gradualmente radicalizaram suas táticas. O governo respondeu com uma violência crescente. As sufragistas presas recusavam-se a comer; foram forçadas a se alimentar, em um processo doloroso e perigoso. Em 1912, a fúria das mulheres ativistas explodiu em uma onda de quebra-quebras. Vitrines das lojas das ruas mais elegantes de Londres – Bond Street e Regent Street, por exemplo – assim como as vitrines da 10 Downing Street foram estilhaçadas pelos martelos empunhados pelas mulheres. Emmeline Pankhurst e cerca de 150 outras mulheres foram detidas e aprisionadas. Após alguns meses, entretanto, todas tiveram que ser soltas devido ao seu precário estado de saúde, em função das greves de fome e da alimentação forçada.
O discurso a seguir foi feito no Royal Albert Hall em Londres em 17 de outubro de 1912. Foi o primeiro discurso público de Emmeline após ter sido presa, anunciando ainda uma intensificação da ação de suas companheiras.
“Sempre me pareceu quando os membros do Governo anti-sufragista criticam a militância das mulheres que eles se parecem animais brutos reprovando animais pacíficos que assumem uma resistência desesperada quando à beira da morte…Senhoras e senhores, a única negligência que as militantes sufragistas demonstraram diante da vida humana foi em relação às suas próprias vidas e não em relação à vida dos outros. E eu digo aqui e agora que nunca será a política da União Social e Política das Mulheres colocar em risco a vida humana. Deixamos isso para o inimigo. Deixamos isto para os homens em sua guerra a nós. Este não é o método das mulheres…
Há algo que os governos cuidam mais do que a vida humana, e este algo é a segurança da propriedade, e é através da propriedade que devemos golpear o inimigo. De hoje em diante, as mulheres vão concordar comigo e vão dizer: “Nós desprezamos suas leis, senhores, nos colocamos a liberdade e a dignidade e o bem estar das mulheres sobre todas estas considerações, e vamos continuar esta luta como continuamos no passado; e qualquer sacrifício à propriedade ou dano à propriedade não será nossa culpa. Será culpa deste governo que admite a justiça das nossas reivindicações, mas não quer concedê-las…
Seja cada uma militante no seu próprio jeito. Aquelas entre vocês que querem expressar sua militância indo à Câmara dos Comuns e se recusando a deixá-la se não atendidas,como fizemos no passado – façam isto… Aquelas entre vocês que querem expressar sua militância apoiando-nos em nossa campanha política contra o governo – façam isto. Aquelas entre vocês que queiram quebrar vitrines – quebrem-nas. Aquelas entre vocês que querem ainda avançar no ataque ao ídolo secreto da propriedade, para fazer o governo entender que a propriedade está severamente ameaçada pelo voto feminino como foi pelo voto dos Cartistas de antigamente – façam isto.
E a minha última palavra é dirigida ao Governo: Eu incito esta assembléia à rebelião! Detenham-me se tiverem a ousadia, mas eu lhes digo claramente… vocês não vão me manter na prisão.”
(Traduzido do livro “Feminism: The Essential Historical Writings”, Edited by Miriam Schneir, Vintage Books, New York, 1972).