No dia 14 de abril, começaram os debates oficiais do 3º Congresso do PT. E começaram longe: na capital do Acre, Rio Branco. Ao todo, foram 5 horas contínuas de discurso, feitos pelos representantes de 12 teses.

Todos vincularam a convocatória do Congresso à crise que se abateu sobre o PT, especialmente em 2005. Mas qual a natureza desta crise?

A esse respeito, apareceram basicamente três posições. A primeira delas tratou a crise como um fato da natureza, um acidente de percurso, uma crise de crescimento: ela aconteceu, nós a superamos, bola para frente. Numa versão mais amena, esta posição (exposta pela tese “Construindo um novo Brasil”) tenta exorcizar retoricamente a crise, evitando tanto a análise quanto a (inevitável, neste caso) autocrítica sobre suas causas.

A segunda posição tratou a crise de 2005 como sub-produto da “degeneração partidária”, materializada no distanciamento entre base e direção e/ou entre o partido e suas bases sociais. Gilney Amorin Viana, da tese “Redemocratizar o PT, democratizar o Estado e a sociedade”, foi quem introduziu este ponto de vista no debate. Para ele, a responsabilidade fundamental pela crise é do “campo majoritário”. Já Wellington Ribeiro, da tese “Socialismo é luta”, sustentou que a esquerda também é culpada, pois foi maioria de 1993 a 1995 e não teria feito nada para alterar o modus operandi do PT.

A terceira posição considera que a crise de 2005 revelou o esgotamento da linha política adotada pelo PT a partir, principalmente, de 1995. Para esta posição, a crise partidária é um subproduto daquela linha política, que foi introduzida e defendida pelo “Campo majoritário”. Portanto, para dar conta dos problemas evidenciados na crise de 2005, o 3º Congresso precisa aprovar uma nova linha política.

Esta terceira posição foi apresentada, com diferentes abordagens, pelas teses: “Mensagem ao Partido”, “A esperança é vermelha” e “ Por um PT militante e socialista”.

Embora haja fortes pontos de contato entre os que destacam a crise de 2005 e apontam, em maior ou menor medida, as responsabilidades do campo agora ex-majoritário, ficou também evidente um importante ponto de divergência.

Ao apresentar sua tese, Gilney Amorin Viana foi extremamente duro nos adjetivos contra o “campo majoritário”, acusando-o de “arrogância” e “prepotência”. Mas, ao mesmo tempo, Gilney foi extremamente suave nos substantivos, pois sua fala não criticou a política de centro-esquerda implementada desde pelo menos 1995.

A abordagem feita por Gilney provou reações duras por parte de militantes vinculados ao campo agora ex-majoritário. As reações foram na linha de exigir reciprocidade: “se a principal culpa é nossa, então os principais acertos também são nossos”.

A única maneira de responder a este questionamento é levando o debate para o terreno da política. A rigor, a política do “campo majoritário” foi um “sucesso” tático. Acontece que a política do PT não tinha como objetivo final eleger o Lula. A eleição do presidente é parte de uma política geral de acúmulo de forças, na qual o governo federal deveria ser um ponto de apoio para transformações estruturais no país.

Deste ponto de vista, a política do “campo majoritário” foi um “sucesso” tático, mas um fracasso estratégico. Obstaculizou as reformas estruturais, preparou o terreno para o ataque da direita em 2005, quase produziu a destruição do PT. Para vencer as eleições de 2006, tivemos que adotar outra política. E para vencer em 2010, também precisaremos de outra política.

*Artigo enviado em 17 de abril de 2007
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