Temos a convicção de que precisamos recuperar a utopia socialista e a certeza de que não pode haver socialismo sem democracia. Mas o que é, afinal, o chamado socialismo petista? Quais são seus pressupostos? Qual o papel do estado socialista? Como se articulam as formas de democracia direta e participativa com a democracia representativa? Qual é a nossa visão sobre a economia socialista? O que pensamos da estatização dos meios de produção? Como se complementam os conceitos de republicanismo, democracia e socialismo?

Responder a essas perguntas exige, dentre outras atitudes, dialogar com a social-democracia européia, principalmente com os latinos PSO da Espanha e PDS italiano. Com todas as relativizações necessárias, o PT, na condição de maior partido de esquerda do mundo, responsável por um intenso avanço civilizatório na política brasileira, conquistou esse espaço de diálogo. Temos o que ensinar, mas muito a apreender. Principalmente com a bela tradição reflexiva de quem teve, como os italianos, um Gramsci a iluminá-los. Ou com os espanhóis, que após conquistarem o poder com Felipe Gonzalez e pavimentar a modernização da Espanha depois das trevas do franquismo, burocratizaram-se e reeditaram a tragédia do poder pelo poder, lambuzando-se na corrupção até serem vergonhosamente derrotados, para em seguida se reerguer, reencontrar o caminho para enfrentar suas mazelas, e alcançar novamente a vitória: da saída do Iraque até o enfrentamento do conservadorismo católico nas questões comportamentais, passando por uma visão e uma prática muito mais avançada em relação aos imigrantes.

Mas, há pouco para trocar no âmbito partidário. Nos vizinhos onde candidatos mais à esquerda foram vitoriosos, o foram os candidatos, não os partidos. Por mais que o governo Kirchner seja positivo para a Argentina, e tenha dado um banho na negociação da dívida, há pouco a aprender com o peronismo. No Equador o presidente eleito, Rafael Correa, não tem um deputado sequer. Seu partido não disputou o Congresso. Há o Chile, essa sim uma experiência já madura, onde os socialistas têm liderado um processo interessante de coalizão. Lá a aliança é programática, e essa aliança é que garantiu maioria parlamentar. Mas, lembremo-nos, o Chile é o país de economia mais liberal da América do Sul. A presidente Michelle Bachelet comanda um modelo que causa arrepios a vários de nós.

As observações sobre nossos hermanos dizem respeito à questão institucional. Há, é certo, um riquíssimo processo em curso, em que predomina a preocupação mais marcadamente social, resultado do fracasso do receituário neoliberal, mas que não passa por formulações ou concepções partidárias nem desenvolvimentos teóricos mais acurados orientando a maioria desses movimentos.

Tal constatação, longe de descartar as experiências do nosso subcontinente, tampouco significa menosprezar a história de organização popular da América Latina, sobretudo quanto ao fato de que os principais movimentos rebeldes, civilizatórios, de transformação e luta social aqui passam e passaram, na essência, ao largo dos partidos. Isso recomenda ao PT que capriche em sua permeabilidade com os movimentos sociais e que abandone qualquer visão messiânica do papel do partido. Carecemos, sim, de repensar conceitos e formas de organização e mobilização social à luz dessas experiências.

Seja como for, joga o Brasil papel decisivo na afirmação de uma via solidária, pacífica, socialmente justa e democrática nas relações internacionais.

Assinam
André Quintão – 106571;
Arnaldo Augusto Godoy – 106824;
Antônio Carlos Ramos Pereira – 106951;
Ana Paschoal – 188609;
Célio Celso Cruz Júnior – 105759;
Paulo Roberto Barcala Peixoto – 1091807;
Ilca Morais – 446209;
Eugênio Pasqualine – 106955.
Todos de Belo Horizonte – MG

*Artigo enviado em 3 de abril de 2007
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