Flávio Murilo da Silva Loureiro
A dimensão estratégica da ação política
O fundamental do debate sobre o socialismo no III Congresso do PT é a retomada da dimensão estratégica da ação política no interior do partido.
Para ser mais preciso, é a reafirmação do impulso, mesmo difuso, anticapitalista que animou o processo de construção do PT, no final dos anos setenta, e que não pode esmaecer e nem perder o lastro na cultura partidária, sob pena de por em cheque o futuro do próprio partido.
O desfecho de várias experiências históricas de construção socialista e a adoção cada vez maior de práticas mercantis na China, aliados a força com que se afirmou a vaga neoliberal, abalaram sobremaneira convicções transformadoras da ordem econômica e social no Brasil e no Mundo.
O PT, como parte integrante dessa tradição socialista, não poderia ser indiferente e nem imune a tais influências. Basta assistir no que se transformaram os antigos partidos socialistas e comunistas europeus e o isolamento ao qual amargaram nas últimas décadas os movimentos e partidos populares e socialistas na América Latina.
Uns foram corrompidos pela vaga neoliberal, no governo adotaram o receituário, perderam a sua identidade e foram derrotados ideológica, política e eleitoralmente pelos neoliberais autênticos, outros foram derrotados pelo populismo neoliberal de direita, incensado pela política externa norte-americana,.
Um cenário desalentador, a despeito da cada vez maior afirmação do caráter excludente e perverso do modo de produção capitalista, que só viceja a partir do aprofundamento da desigualdade e da acumulação desenfreada de riquezas por grupos sociais e corporações empresariais, já que é produto teórico da tradição liberal, onde a desigualdade é um valor positivo que serve ao “progresso”.
Resgatar o sentido anticapitalista no debate sobre socialismo é fundamental, já que contribui para desfazer uma certa confusão, contida em duas visões que o tangenciam: uma delas é aquela que busca introduzir valores liberais no socialismo, travestidos de valores democratas que só se tornam estratégicos dentro de uma perspectiva emancipadora, a outra é a que pretende imprimir políticas publicas de caráter social no capitalismo, e dotá-lo de um perfil mais popular.
Ambas tem nome que eu prefiro não declinar para não servir a caricaturas e guardam um viés bastante reducionista e particularista, se cotejadas a um projeto universalista e emancipatório, e não respondem aos dilemas materiais e espirituais que permanecem postos para a humanidade, onde um sem número de povos e seres humanos são devastados pela miséria e pela pobreza.
Essa é a indagação que deve ser feita em relação àquelas experiências produzidas no início e em meados do século XX, que buscaram através de atalhos/recuos teóricos e políticos “civilizar” o capitalismo, as quais destaco em detrimento de outras, porque exercem forte influência não só interior no PT, mas no conjunto da esquerda partidária e social no Brasil e no mundo.
Resgatar a idéia de que o socialismo pode ser uma forma superior de organizar a sociedade e emancipar a humanidade, não só de torná-la mais solidária a partir da disseminação de valores socialistas – o que eu não considero menos relevante já que faz parte da luta ideológica -, para conferir um sentido estratégico a nossa ação política, se constitui uma tarefa decisiva para o conjunto da militância petista nesse III Congresso.
*artigo enviado em 01 de março de 2007