Um partido de esquerda, um governo de centro-esquerda

1- Ser esquerda significa lutar pela igualdade, simpatizar com as idéias socialistas, ser continuidade delas, ter como perspectiva a superação do sistema capitalista, defender os direitos humanos, o meio-ambiente, estar com o movimento dos sem-terra, dos sem-teto, das mulheres, dos negros, e outros que se movem por idéias de igualdade e inclusão social, ser solidário com povos vítimas da desigualdade e da opressão.

Sob este ponto de vista das convicções (escritas e praticadas), o PT continua claramente como um partido de esquerda.

2- Sob o ponto de vista das práticas de governo, um governo tipicamente de esquerda avança na distribuição de renda, inclui as multidões pobres nos processos de decisão política, confronta com a ordem econômica, com as elites ricas e seus suportes internacionais, mobiliza amplas manifestações populares, estatiza ou socializa empresas e latifúndios, transforma radicalmente as leis e as instituições.

A proposta de governo do PT na década de 80 tinha muito destes ingredientes. A maioria do povo não o quis assim no governo. Apenas entregou ao PT a tarefa de governá-la quando o entendeu como um governo mais moderado em suas medidas, que fizesse mudanças para melhorar o bem-estar geral, desse prioridade aos mais pobres, sem rupturas radicais da ordem econômica, sem choques duros com as leis e as instituições vigentes, pacífico e democrático.

As inflexões da esquerda para o centro, feitas por nós especialmente no processo eleitoral de 2002, as alianças até com partidos de centro-direita, são provas de que aceitamos firmar este pacto histórico.

3- Os ingredientes de esquerda na ação de nosso governo (em especial, as medidas e os recursos públicos injetados para diminuir a pobreza e para avançar na inclusão social), foram os principais responsáveis pela votação majoritária de Lula em 2006. O que torna complexa a análise é o fato de que também contribuíram para a vitória medidas conservadoras que permitiram uma economia estável, harmonia social, e amplas alianças com partidos de centro e de centro-direita.

Diante disso, nosso governo não traz a simplicidade que distingue o preto do branco. Há atitudes de nosso governo que o caracterizam como de esquerda, como há outras que cabem bem em governos de centro.Razões muito fortes e conscientes nos levaram a integrar atitudes conservadoras na essência de nosso governo, em destaque a atualidade de um mundo unipolar capitalista, e o caráter pacífico e democrático na essência de nossa proposta.

Assim, sob o ponto de vista do conjunto de suas práticas, definimos nosso governo como de esquerda flexionado para o centro, de esquerda-centro, ou, conforme a clássica linguagem universal para a política, um governo de centro-esquerda.

4- Diante disso, o PT vive dentro de si um enorme risco: a possibilidade real de se acomodar às posições de governo e deixar ao longo dos anos de ser um partido de esquerda.O grande desafio do PT na atualidade está em preservar a essência de ser esquerda, socialista, inovador, libertário, ser o partido do qual se pode esperar uma transformação profunda da sociedade brasileira, com milhões de novos simpatizantes entre os excluídos, que precisam ser formados nos ideais de longo prazo.

5- Esta é uma versão resumida dentro das regras desta Tribuna de Debates. O texto completo que está disponível na seção Artigos do site do PT.

*Elói Pietá é Prefeito de Guarulhos
*Artigo enviado em 22 de fevereiro de 2007
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