Durante o século XX, a catástrofe bateu várias vezes às nossas portas: nas guerras mundiais, na ameaça de extermínio atômico, nas catástrofes ambientais, nos genocídios racistas. Foi a luta ideológica, política e social desenvolvida pela esquerda socialista, democrática e nacionalista que conseguiu impor limites à força destrutiva do capitalismo e evitar o pior.

A partir dos anos 1980, o capitalismo infligiu duras derrotas aos países em desenvolvimento, ao Estado de bem-estar social e aos países do chamado socialismo real. Liberto dos freios impostos pela esquerda, o capitalismo inaugurou um novo período histórico.

Nestes 25 anos de esmagadora hegemonia capitalista, o mundo teve menos paz, menos desenvolvimento, menos prosperidade, menos solidariedade, menos qualidade de vida, menos respeito ao meio-ambiente.

É claro que há vários países, movimentos sociais e partidos que seguem travando uma batalha contra as três principais características deste capitalismo: a truculência do imperialismo norte-americano, a predominância do capital financeiro e a ideologia neoliberal. Esta batalha é particularmente forte na América Latina. Mas o que predomina ainda é uma luta defensiva.

Não temos como saber por quais caminhos e em quanto tempo o capitalismo será derrotado. Mas é preciso definir, com clareza, a partir de que trincheira e com qual objetivo final nós travamos a luta contra ele.

O PT deve reafirmar que trava sua luta a partir de uma trincheira socialista, ou seja, faz uma crítica ao conjunto do status quo capitalista; e oferece uma alternativa de conjunto a este modo de produção baseado na exploração, na opressão e na desigualdade.

Há no PT quem não considere possível derrotar o capitalismo. Quem não consegue mais defender o projeto socialista, após o desmanche da URSS. Quem confunde socialismo com social-democracia.
Não se trata, é verdade, de um debate novo. A respeito dele, nosso Partido aprovou muitas resoluções, entre as quais se destaca um documento intitulado “O socialismo petista”, aprovado pelo 7º Encontro Nacional do Partido, em 1990. Este documento constitui um ponto de partida para a necessária reafirmação do PT como partido socialista, que busca aprender com as diferentes tradições da esquerda mundial e brasileira, mas sempre com o propósito de reafirmar seu compromisso anticapitalista.

Segundo “O socialismo petista”, esta “convicção anticapitalista, fruto da amarga experiência social brasileira, nos fez também críticos das propostas social-democratas. As correntes social-democratas não apresentam, hoje, nenhuma perspectiva real de superação histórica do capitalismo. Elas já acreditaram, equivocadamente, que a partir dos governos e instituições do Estado, sobretudo o Parlamento, sem a mobilização das massas pela base, seria possível chegar ao socialismo. Confiaram na neutralidade da máquina do Estado e na compatibilidade da eficiência capitalista com uma transição tranqüila para outra lógica econômica e social. Com o tempo, deixaram de acreditar, inclusive, na possibilidade de uma transição parlamentar ao socialismo e abandonaram, não a via parlamentar, mas o próprio socialismo. O diálogo crítico com tais correntes de massa é, com certeza, útil à luta dos trabalhadores em escala mundial. Todavia o seu projeto ideológico não corresponde à convicção anticapitalista  nem aos objetivos emancipatórios do PT”.

Esse é um bom ponto de partida, para a reflexão que faremos no III Congresso do PT.

*Valter Pomar é Secretário de relações internacionais do PT
*Artigo enviado em 6 de fevereiro de 2007

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