O PT e os 27 anos de democracia petista
Artigo de Ricardo Berzoini
Por Ricardo Berzoini*
HÁ 27 anos, quando crescia a luta pelo fim da ditadura, sindicalistas, militantes de organizações de esquerda, estudantes, intelectuais e religiosos se uniram no colégio Sion, em São Paulo, para fundar uma nova alternativa partidária para o Brasil.
Nascia assim o Partido dos Trabalhadores, em 10 de fevereiro de 1980. A idéia era oferecer uma opção política aos novos tempos, opção que tivesse por princípio básico a luta por uma sociedade justa e democrática, “sem exploradores e sem explorados”.
Os participantes desse histórico encontro estavam plantando as sementes do que viria a se transformar no maior e mais representativo partido de esquerda da história do Brasil.
As greves nas fábricas do ABC e a prisão do então líder sindical Lula serviram de estopim para que o Partido dos Trabalhadores ganhasse projeção, fosse às ruas e se tornasse um dos principais porta-vozes das liberdades no Brasil. Pode-se dizer que o PT ajudou a aglutinar insatisfações populares, traduzindo uma pauta trabalhista e de direitos civis para o fim da ditadura. Durante duas décadas, o PT construiu lideranças que passaram a disputar não só os movimentos sociais, mas também os espaços políticos do Legislativo e do Executivo.
O partido tem hoje cerca de 1 milhão de filiados espalhados em todas as regiões, cresceu, amadureceu, se organizou em todos os Estados brasileiros. Mais que isso, multiplicou sua representatividade nas diferentes esferas de poder. No último pleito eleitoral, por exemplo, além de ajudar a reeleger o presidente Lula, o PT elegeu cinco governadores de Estado, participou de alianças vitoriosas em vários Estados e garantiu a eleição da segunda maior bancada de deputados na Câmara. Não é pouca coisa.
É sempre bom lembrar que o PT colheu esses resultados enfrentando um enorme e beligerante cerco político. Mas a dinâmica de um partido plural e democrático – o único no Brasil, aliás, que escolhe sua direção por meio de eleições diretas entre seus filiados – ajudou a superar as dificuldades. Isso explica parte da decepção de alguns setores conservadores que não se cansam de sonhar com o fim do PT.
Enfrentar crises sempre foi um duro desafio para o partido, que utiliza o debate democrático como regra. Do operário ao professor, do militante de base ao presidente da legenda, todos discutem e opinam, assim como todos estão submetidos às regras e às penalidades de um mesmo estatuto.
É esse modelo de democracia petista que, após 27 anos, continua dando voz e vez para muita gente, incluindo grupos sub-representados na política tradicional: negros, mulheres, deficientes, homossexuais, índios, remanescentes de quilombos e outros que sempre tiveram no PT um canal de luta para a defesa de seus direitos. Sabemos que há muito por fazer.
Da ideologia à prática. Os próprios conceitos de socialismo democrático, que inspiraram a criação do partido, exigem aprofundamento nesse momento de desafios políticos, econômicos, culturais, sociais e ambientais.
No próximo período, o PT tem o desafio de realizar um balanço de sua atuação, atualizar seu programa político e traçar metas e estratégias de crescimento. O terceiro congresso será o espaço que pode consolidar nosso projeto, especialmente no que tange ao seu funcionamento democrático.
Um partido como o PT não pode se burocratizar e se distanciar dos movimentos sociais ao galgar novos espaços políticos da estrutura do país.
O PT defende uma reforma política que amplie o controle social do povo sobre seus instrumentos de representação política. E queremos apoiar e aperfeiçoar as iniciativas do governo Lula. A começar pelo pacote de medidas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Por meio dele, governo e iniciativa privada, em parceria, poderão somar esforços e colocar o Brasil no rumo do crescimento sustentável e socialmente justo.
Os avanços do primeiro mandato bem comprovam o acerto político. A estabilização da moeda, a redução da taxa de juros, a queda vertiginosa do risco-país e o aumento progressivo dos investimentos e da balança comercial mostram que o país está pronto e pode crescer até mais de 5% ao ano. A ampliação dos programas sociais e a recuperação do emprego e do salário mínimo provaram, por outro lado, que é possível crescer distribuindo renda e garantindo direitos.
Esse processo proporciona geração de mais emprego e renda, desenvolvimento sustentável da economia e melhoria das condições para que o Brasil seja uma nação justa e soberana, como defende a nossa militância.
*Ricardo Berzoini é deputado federal e presidente nacional do PT