Homenagem de Eugênio Bucci aos 10 anos da Fundação Perseu Abramo

Brasília, 14 de dezembro de 2006

Queridos Hamilton, Ricardo, Zilah e todos os companheiros da Fundação Perseu Abramo,

Eu queria muito estar com vocês neste aniversário da nossa Fundação. Lá se vão 10 anos! Esta semana mesmo, vendo a nova “Teoria & Debate”, li no alto da capa que já é o vigésimo ano da revista. Pelo amor de Deus, como eu estou velho! Mesmo assim, mais velho, e mais chato, eu queria ir brindar com cada um de vocês as vitórias da jornada, mas não será possível. Para me substituir, mando esta carta. Ela fará melhor figura que eu: fala menos, não vai querer beber nem vai pedir carona no final.

Gente, o trabalho que vocês desenvolvem é de um valor difícil de aquilatar. Simplesmente, se não fosse esse trabalho, pesquisas fundamentais não teriam existido, alguns livros essenciais sequer teriam sido pensados, seminários memoráveis jamais teriam acontecido. A Fundação não pode faltar e precisa crescer. Aliás, na festa de sábado, celebrem o que foi o passado e também o que será o futuro. A Fundação precisa ser, e será, maior e melhor do que já é.

Os êxitos alcançados só foram possíveis porque vocês souberam ter a consciência de que a Fundação Perseu Abramo não é um apêndice, um acessório, uma ferramenta a serviço do Partido dos Trabalhadores. No plano do pensamento, que é o que nos interessa, ela é maior, mais larga, mais ampla que o partido, por mais democráticas que sejam as instâncias do partido. Vocês souberam ter essa consciência e souberam honrá-la. Por isso, o sucesso no passado. Por isso, o futuro promissor que se abre.

O papel do pensamento é duvidar da prática. E também das teorias. Ele não faz propagandas, mas abre a perigosa válvula da dúvida. Ele acende suas luzinhas onde há dissenso, diferença, diálogo. Ele fenece onde impera a ordem, o nivelamento, o monólogo. Pela mesma razão, o papel da Fundação nunca foi o de bancar o alto-falante, ou o de montar palanques para uns poucos caciques recitarem as ordens do dia. Também por isso ela funciona melhor quando funciona com autonomia, mais que financeira, intelectual. Ela brilha quando surpreende, e só surpreende quando pisa fora do trilho. Mesmo quando escorrega um pouquinho.

O ambiente da Fundação evolui na direção devida quando os convidados que a freqüentam saem dela com uma pergunta novinha em folha dentro da cabeça. Em lugar de reverberar as certezas e as plataformas, ela se faz vital quando questiona, quando faz o que já é conhecido respirar um ar desconhecido. E se transformar. Desse modo, ela vai se tornando uma instituição cercada de afeto por todas as correntes, gera vínculos de grande carga emocional, vínculos impregnados de identificação e, ao mesmo tempo, de emancipação.

Sei que o que escrevo agora pode soar, a leitores neófitos nesses assuntos, como uma profissão de fé um tanto delirante. Mas vocês sabem que o que escrevo é a mais pura verdade. Já passamos muito tempo juntos para sabermos, um olhando para a cara do outro, que isso é a mais pura verdade. Continuem assim. Imaginem as coisas fora da caixa. Apostem na liberdade. A liberdade será, ainda, um tema muito mais central do que pensamos que ele é. Vigiem a liberdade. Zelem por ela. Contem comigo para continuar e será preciso continuar. O tema da Liberdade será grato à Fundação Perseu Abramo. Podem escrever.

Com a solidariedade amorosa do

Eugênio Bucci

 
 

 

 

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