O economicismo revisitado, por Luiz Antonio Correia de Carvalho
Os donos do poder, aí inclusos alguns “donos do PT”, atropelam-se na ocupação dos espaços que a mídia brasileira abre seletivamente. Poucos parecem interessados em saber onde vão dar as portas abertas maliciosamente pela mídia, afoitos em alcançar as salas do poder. Assim, ao invés de deixar o homem trabalhar, corremos o risco não de superar, mas de revisitar a Era Palocci.
Em 2002, a grande maioria dos brasileiros disse sim a dois compromissos assumidos pelo candidato Lula: “terei cumprido minha missão se todo brasileiro puder fazer ao menos três refeições por dia” e “o farei sem quebrar contratos assumidos e mantendo a estabilidade econômica”. Compromissos honrados e, agora demonstra o preço do arroz, do cimento; o valor do salário mínimo ou a queda na pobreza, complementares. E isso com a turma da cobertura tendo, na primeira fase do governo, feito de tudo para não deixar o homem cumprir o primeiro compromisso e reservar a firmeza e eventual criatividade do Palloci apenas para o segundo compromisso – a estabilidade. Perderam.
Cizânia. Queimaram o nome do Fome Zero, mas “que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luiz do Maranhão…”, diria o bom poeta, hoje envenenado pelo trânsfugas do Roberto Freire. Naquela Era, agora revisitada, a turma da cobertura lançava chumbo no Bolsa Família, defendido pelos desprestigiados economistas “ingênuos” do Renda Mínima, e recrutava no playground barulhentos economicistas para espalhar a cizânia nos andares de baixo e intermediários. A política do BC tem de ser institucionalizada, era uma das cantigas. Já a renda mínima…
Mas um bom goleiro, sempre se soube, tem de ter sorte. Acertaram no “núcleo duro” ao abrirem a Caixa de Pandora do ilícito na política nacional? Tanto melhor. Os Jeffersons e seus partidos de aluguel arrastaram consigo os que no PT aceitaram pagá-los, guardando sempre um pouco para controlar o PT. Enfraqueceram o governo? Feitiço ruim, feitiço velho. O governo, a quem recusavam ISO 45, agiganta Dilma e avança, com a Justiça, no terreno mais temido pelas oligarquias brasileiras: a constitucionalização do país. Mais. Aberta a Caixa de Pandora, acaba por arrastar o…Palocci. E o maior partido da raça a ser extinta, a esquerda brasileira? Com seus aliados, preparava-se para a vitória, com a força do povo.
Pauta. Reeleito, Lula parece querer estabelecer uma tradição na política brasileira: o galo se mata na noite mesma do casamento. Clareza maior, difícil. Os adversários? “A injustiça social, a desigualdade e as várias formas de atraso que atravancam a vida nacional”. As prioridades? Desenvolvimento com distribuição de renda e educação de qualidade.
Mas e a Reforma política? Dentro e fora do PT. Aberta a Caixa de Pandora, não se trata de desvalorizar o bem que pode fazer o financiamento público, a fidelidade partidária ou o voto distrital. Algum bem devem mesmo fazer, dado que são lembrados a cada crise, mas nunca implantados pelos donos do poder.
Mas e o ministro da economia? E a diminuição dos gastos correntes? Quando e quanto caem os juros? Heterodoxia ou ortodoxia? E a autonomia do BC? Manda o Copom ou o governo? Insistem em pôr no centro da pauta a turma da cobertura e os economicistas do playground. E o crescimento, vai ficar igual ao do Haiti? Ecos da pauta do candidato perdedor. Deixa o homem trabalhar! Na pauta vitoriosa nas urnas, não na repetitiva pauta das grandes redações, desde a Era Palocci..
*Luiz Antonio Correia de Carvalho é membro do Núcleo Eder Sader do PT do Rio de Janeiro