Texto extraído da exposição feita na sessão de abertura do Seminário “Reorganizacao do Movimento Estudantil – 20 anos”, realizado pela Fundação Perseu Abramo na PUC-SP de 22 a 25 de setembro de 1997.

por Antônio Ronca*

Com muita esperança, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo recebe neste 22 de setembro o Partido dos Trabalhadores e a Fundação Perseu Abramo. Entre o PT e a PUC existe uma identidade, no anseio, na luta pela construção de uma sociedade mais justa e mais solidária. Neste momento, saúdo o Marco Aurélio Garcia, a Zilah Abramo, e especialmente a Cristina Raduan, cuja luta tive oportunidade de acompanhar, pelo menos nos últimos dois anos, até este mês, quando ela finalmente conseguiu receber uma indenização do Estado, por conta daquilo que ela passou e sofreu naquele 22 de setembro de 1977. Fez-se justiça, mas não se reparou com certeza a dor e a humilhação a que a Cristina esteve exposta durante 20 anos, para tentar obter o que já era direito seu, reconhecido pela justiça – a indenização. Esse dia, 22 de setembro, para nós da PUC de São Paulo, é uma data trágica, quando recordamos que estudantes nossos tiveram seus corpos marcados pelas bombas da ditadura e que esse templo da liberdade, que a PUC sempre quis ser, teve o seu campus invadido. Mas isso não tirou o ânimo de professores, estudantes e funcionários. Eu acho que é importante ressaltar, que, além da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) que acolhemos em 1977, além do encontro dos estudantes, também acolhemos todos, ou pelo menos um bom número de professores cassados das universidades estatais, que estavam sendo impedidos de voltar a lecionar nas universidades públicas. A PUC foi a primeira universidade do Brasil a ter o seu reitor escolhido por eleição direta, com a participação de professores, funcionários e alunos. E além disso, é importante salientar, tivemos dois incêndios criminosos no teatro da universidade, marca da repressão, dois incêndios em que se via claramente que a tentativa era de calar a boca e impedir que esta universidade continuasse a ser este espaço que sempre quis ser.

Neste momento, como reitor da instituição, mas também, com certeza, em nome de professores, funcionários e alunos, acho que é importante reafirmar o compromisso de continuar construindo uma universidade democrática, em que as pessoas possam efetivamente se manifestar livremente, e um país onde esta universidade tenha uma inserção social na construção de um Brasil diferente. Com certeza este é também o sonho do PT. Foi por isso que fizemos questão de receber vocês, Marco Aurélio, nesta sala, neste ambiente, para que a recordação, a memória do que significou aquele dia para esta universidade, seja para nós uma tomada de consciência de que aquele ato não pode se repetir no nosso país. Espero que efetivamente este seminário consiga mostrar, ainda mais, que caminhos devemos trilhar para que a democracia seja instalada de fato e não apenas de direito. A democracia não significa apenas eleger um presidente, significa dar condições de vida digna a um povo, para que ele efetivamente possa ter condições de exercer a sua liberdade e todos os seus direitos humanos. Eleição é condição necessária, mas não suficiente. A massa de excluídos, a massa de desempregados aponta para o fato de que ainda não somos uma democracia. E que precisamos continuar lutando. Acredito que este momento, este seminário, com certeza contribuirá para mostrar caminhos para a continuidade dessa luta e a PUC não se furtará a estar nesta caminhada junto com o PT, para que possamos ter uma sociedade na qual um coronel Erasmo Dias não tenha mais condições de fazer o que fez naquela noite fatídica na nossa universidade. Com muito afeto, com muita esperança, a PUC os recebe aqui, certos de que a luta continua. Muito obrigado!


*Antônio Ronca
, na ocasião, era reitor da PUC-SP, onde é professor atualmente.