O governo do PT deve continuar investindo na alteração radical das matrizes e modelos dominantes de áreas estratégicas. Substituir o transporte com caminhões em distâncias superiores a 300 km, por trens, barcos, dutos e navios. Complementar com a navegação costeira o intenso fluxo de cargas e passageiros das BR-101 e 116. Investir em ferrovia onde há limitações ambientais graves para o transporte fluvial, como na região do Pantanal. Concluir a ligação rodoviária do Centro-Oeste com o Pacífico, e construir também ferrovia. Os estados do Sul, com a maior parte da sua produção agrícola na região Oeste, precisam muito de ferrovias para ligar os portos marítimos do seu litoral à fronteira com a Argentina e Paraguai, e desenvolver o interior.

Ao desenvolver a ampliação da malha ferroviária e dos transportes fluvial e marítimo costeiro, o governo contribuirá de maneira decisiva para a redução das mortes e acidentes graves nas rodovias todos os anos, e ao mesmo tempo, para a redução geral dos custos da economia nacional, aumentar a competitividade dos produtos para exportação, e obter sensível economia de diesel e gasolina. Essa redução do consumo de energia pode ser ampliada, com campanhas de propaganda, de maior impacto e permanentes. É possível assim adiar a construção de novas hidrelétricas.

Nas cidades, alterar a lógica do transporte individual em carros, reduzindo a área de circulação nas áreas centrais e criando espaços para a utilização de bicicletas, o que inclui locais próprios para estacioná-las. Dessa forma, iniciar a substituição da cultura dominante dos carros por uma nova – das bicicletas, metrô, ônibus, etc –, o que inclui reduzir a alta velocidade dentro das cidades de maneira definitiva.

Incentivar o transporte de massas, através de novas opções de horários e roteiros, e de campanha permanente de propaganda, para ganhar os usuários de carros. Construir a ligação ferroviária de alta velocidade entre aeroportos de grandes cidades, como Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro.

Os preços pagos por minérios (cassiterita, ferro, bauxita, ouro…) e madeiras da região amazônica precisam ser rediscutidos, em lógica distinta da atual, de “mercado”. Em breve, o País ficará sem essas matérias-primas. O aumento da oferta de transportes nas regiões Oeste e Norte, e a respectiva redução de custos, favorecerá a ampliação geométrica da extração dessas (e de outras) riquezas naturais. A extração ilegal pode ser controlada com maior rigor, dotando as polícias (federal, rodoviária federal e ambiental) da estrutura e materiais necessários.

Há necessidade de plantio em larga escala de espécies do Cerrado e da Amazônia, como o mogno e outras madeiras de alto valor para indústrias de móveis. Uma política que combine incentivos, controle e punição, poderá preservar o pouco que resta do Cerrado, e os 75% da Amazônia (aproximadamente) ainda não desmatados.

*Milton Pomar é geógrafo e jornalista especializado na área rural.

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