O investimento do governo municipal na formação de agentes culturais, que exerçam o papel de gestores de processos culturais, favorece o desenvolvimento local e ajuda a criar espaços de sociabilidade.O investimento do governo municipal na formação de agentes culturais, que exerçam o papel de gestores de processos culturais, favorece o desenvolvimento local e ajuda a criar espaços de sociabilidade.

Autores:
Valmir de Souza, Hamilton Faria e José Carlos Vazz

O investimento do governo municipal na formação de agentes culturais, que exerçam o papel de gestores de processos culturais, favorece o desenvolvimento local e ajuda a criar espaços de sociabilidade.O investimento do governo municipal na formação de agentes culturais, que exerçam o papel de gestores de processos culturais, favorece o desenvolvimento local e ajuda a criar espaços de sociabilidade.

Autores:
Valmir de Souza, Hamilton Faria e José Carlos Vazz

A cultura é um dos campos mais propícios para o fortalecimento do diálogo democrático, para articulação social e também para praticar o desenvolvimento local em sua dimensão cultural. O trabalho do agente cultural impulsiona as potencialidades econômicas, sociais, turísticas e ajuda a formar espaços de sociabilidade na cidade.

Atualmente, a cultura tem mostrado sua importância como agregadora das relações na cidade sendo esta um espaço essencialmente cultural. Cada vez mais entende-se que os conflitos sociais estão relacionados às práticas culturais, isto é, o desentendimento cultural leva a ações de incompreensão entre os diversos segmentos sociais. O desenvolvimento hoje passa também pelas ações culturais locais e o desenvolvimento cultural se impõe como cenário catalisador das relações sociais e econômicas; é possível desenvolver o aspecto cultural do município, trabalhando com a diversidade e as características das culturas locais. O trabalho do agente cultural é de fundamental importância nesse contexto e muitas prefeituras estão investindo na formação destes trabalhadores da cultura, tanto do poder público como das comunidades.

QUEM É O AGENTE CULTURAL?

O agente cultural é um cidadão tanto do poder público (Agentes Culturais Públicos) como da sociedade civil (Agentes Culturais Comunitários), que se relaciona com as práticas e ações culturais no município. O agente cultural não é um mero "administrador" de atividades culturais, mas deve ter uma sensibilidade voltada para o sócio-cultural, exercendo ativamente sua função de elo de ligação entre o poder público e as comunidades. Deverá exercer o papel de gestor de processos culturais da cidade, com capacidade inventiva e formadora de massa crítica

Assim, o agente cultural pode ser:

a) O dirigente cultural: é o servidor público investido de poder decisório na formulação e na gestão da política cultural do governo municipal ou de atividades que a compreendam (secretário de cultura, diretor de cultura etc.). As atividades de formação de dirigentes culturais devem incluir, além dos conteúdos gerais de interesse para a formação de qualquer agente cultural, conteúdos destinados a ampliar sua capacitação para a gestão pública.

b) O servidor envolvido em ações culturais: nesta categoria enquadram-se aqueles servidores que ocupam funções fundamentais para a implantação de ações e operação de programas culturais no município. É o caso dos animadores culturais, bibliotecários, atendentes de biblioteca, coordenadores de oficinas etc. Estes profissionais requerem um trabalho de formação básica (comum aos demais agentes culturais) e atividades de formação específica para as funções profissionais que desempenham.

c) O produtor cultural da comunidade:
são os membros da comunidade que possuem uma atuação profissional, semi-profissional ou amadora no campo cultural (artistas, artesãos, "agitadores" culturais etc.)

O papel do agente cultural estende-se para além da simples realização de atividades. Ele deve ser, antes de mais nada, um dinamizador das potencialidades culturais da comunidade onde atua. Isto significa atuar como incentivador, socializador e mobilizador das experiências dos grupos culturais locais. Deve agir como portador e organizador da memória coletiva, a partir de uma percepção do tempo cultural, e sua função é impulsionar as práticas culturais democráticas, abrindo os espaços públicos para as comunidades, informando e prestando contas das ações da política cultural do governo municipal.

POR QUE INVESTIR EM FORMAÇÃO?

A formação de agentes culturais públicos e comunitários coloca-se num contexto de novos requerimentos para o trabalho. associados a novas habilidades que não se restringem a aprender um ofício ou uma profissão, mas a desenvolver atividades de relação entre grupos e pessoas, colocando a necessidade de o trabalhador da cultura entender não só sobre a produção cultural, mas saber lidar com processos culturais das cidades e das comunidades.

Há muita necessidade de formação nesta área e o poder público exerce um papel importante ao investir na formação de agentes que implementem uma política cultural articulada a uma política de cultura mais ampla para o município, principalmente devido à carência de informação sobre as possibilidades de se trabalhar com atividades e programas culturais nas pequenas e médias localidades.

CONTEÚDO

Pela própria natureza da ação do agente cultural, o trabalho de formação deve se preocupar em oferecer não somente conteúdos específicos voltados para a sua participação na ação cultural, mas também uma formação mais ampla, que lhe permita compreender e atuar face à complexidade da vida social e da dinâmica urbana. Essa formação básica deve compreender:

1. Entendimento dos processos urbanísticos culturais na cidade:
o conhecimento da dinâmica e das intervenções urbanas; necessidade de colocar a cultura como uma preocupação no Plano Diretor da cidade.
2. Entendimento da inserção das cidade num processo global: a cidade não pode ser considerada isoladamente, mas num quadro de mundialização e a ação local deve ser tratada como impulsionadora de transformações globais; o agente cultural deve estar apto a unir o global e o local (‘glocal’)
3. Compreensão dos registros das várias culturas: na cidade circulam várias práticas (populares, de massa, "culta" etc) e discursos que precisam ser entendidos para se poder trabalhar com políticas culturais.
4. Entendimento das diversas artes: cada linguagem artística tem seu próprio modo de operação (teatro, música, literatura, artes plásticas etc.) e sem a compreensão das linguagens específicas o trabalho do agente cultural pode ficar incompleto.
5. Entendimento da multiplicidade cultural das comunidades: compreender os trabalhos culturais voltados para a dinâmica própria de cada comunidade.
6. Entendimento do papel político e social da cultura: a ação cultural e a política cultural devem ser dirigidas para a mudança de valores culturais e sociais.
7. Visão democrática da ação cultural: perceber a interligação do trabalho de democratização da cultura e da democracia cultural; considerar que é no campo que emergem direitos .

EXPERIÊNCIAS

A Fundação Cultural "Cassiano Ricardo" de São José dos Campos-SP (470 mil hab.) investiu fortemente na formação de seu quadro de trabalhadores, realizando, em 1996, o "Curso de Capacitação de Agentes Culturais", coordenado pelo Instituto Pólis, direcionado a 40 funcionários e servidores da área (supervisores, diretores e agentes culturais).

Entre os objetivos do Curso destacam-se: capacitar agentes públicos e comunitários para o trabalho cultural para a população, voltado para uma intervenção cultural na cidade e nos bairros; oferecer aos agentes e gestores municipais de cultura elementos de reflexão sobre seu papel de reorganização das instituições, práticas e valores associados ao universo da cultura; fornecer visão das cidades entendidas como espaços culturais; desenvolver as possibilidades de um trabalho cultural voltado para a comunidade e para a cultura local.

A Coordenadoria de Cultura da cidade de Ouro Fino-MG (32 mil hab.), coordenou e realizou, em 1997, com o apoio do Instituto Pólis, um "Curso de Formação de Agentes Culturais", abrangendo participantes de várias cidades da Região do Sul de Minas Gerais (Pouso Alegre, Monte Sião, Inconfidentes, Jacutinga, Bueno Brandão e Andradas). Foi constatada uma insuficiência de agentes culturais para o desenvolvimento da cultura nos municípios. Ao todo foram 40 participantes entre artistas, dirigentes de secretarias de cultura e de associações culturais. Este curso integra o Programa "Oficina de Cultura" da Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais, com o financiamento do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que se destina à formação de recursos humanos na área de cultura na modalidade de qualificação profissional visando gerar emprego e renda e a melhorar a qualidade de vida das comunidades locais. Dentre os objetivos do curso destacam-se: entender o conceito de Cultura e de Política Cultural; apreender métodos de trabalho e elaborar projeto cultural; aprender a manejar instrumentos de captação de recursos para projetos culturais; possibilitar a realização de um trabalho com novas parcerias na produção e gestão cultural.

RESULTADOS

O trabalho de formação de agentes culturais deve produzir resultados de curto, médio e longo prazo. Na verdade, esses resultados são cumulativos: complementam-se e criam possibilidades para novos resultados futuros. É importante ter em mente essa variedade de prazos de maturação das atividades, para evitar ineficiência dos projetos ou frustrações.

A formação de agentes culturais, quando leva em consideração as necessidades e potencialidades específicas dos envolvidos, amplia sua aptidão para:

1. operar conceitualmente a temática cultural;
2. entender processos culturais do poder público e da sociedade civil (comunidades);
3. elaborar projetos culturais;
4. trabalhar com atividades culturais relacionadas às comunidades; e
5. entender questões relacionadas à Gestão Pública da Cultura

O desenvolvimento dessas habilidades melhora o desempenho dos agentes culturais e, portanto, torna-se mais eficaz e eficiente a ação cultural local. Entretanto, esses resultados não são únicos. A formação de agentes produz um impacto positivo no desenvolvimento da cidadania e é, também, elemento de valorização do ser humano, oferecendo aos cidadãos envolvidos a possibilidade de ampliar seu horizonte cultural e de intervenção na sociedade.

Os resultados dos trabalhos e atividades desenvolvidos na área de cultura nem sempre alcançam visibilidade imediata, mas transparecem na melhoria do atendimento ao público que usufrui dos bens e dos equipamentos culturais da cidade e do município.
 


* Publicado originalmente como DICAS nº 95 em 1997.
Dicas é um boletim voltado para dirigentes municipais (prefeitos, secretários, vereadores) e lideranças sociais. Atualmente, seu acervo está publicado no site do Instituto Pólis.

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