Na segunda quinzena do mês de julho, a revista Carta Capital publicou reportagem especial sobre as pequenas editoras brasileiras (“Gente que faz”*), dentre elas a Editora Fundação Perseu Abramo.

Reportagem da revista Carta Capital traz Editora da FPA

Leia a seguir trecho da reportagem realizada por Daniel Japiassu e Fernando Paiva que fala sobre a nossa editora e o “best seller” O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi.

  À esquerda: Com inteligência, tudo o que vale a pena fazer vale a pena refazer. Esse parece ser o lema da Editora Fundação Perseu Abramo. Ou, nas palavras de seu coordenador editorial, Flamarion Maués: “Nossos objetivos são resgatar a memória dos movimentos sociais no Brasil e das esquerdas, contribuir para o debate político e publicar
livros com cunho popular, no que diz respeito a preço, formato e linguagem”. Maués aprendeu as artes do ofício ao trabalhar como editor-assistente da editora Scritta.

Fundada em 1996, a Perseu Abramo conta com apoio financeiro do Partido dos Trabalhadores, que destina 20% de seus recursos anuais – cifra mantida sob sigilo – à fundação. “Apesar disso, o PT não intervém”, informa Maués, 33 anos, à frente da editora desde a sua formação, em fevereiro de 1997. Com 17 livros no catálogo, ela quer ser independente economicamente dentro de, no máximo, cinco anos. E já conseguiu um best seller para equilibrar o orçamento. É o ensaio O Brasil Privatizado (R$ 5), de Aloysio Biondi, que já vendeu até agora 105 mil exemplares – principalmente para sindicatos de empresas privatizáveis. A maioria dos livros editados, entretanto, tem caráter meramente institucional, como Orçamento Participativo: a Experiência de Porto Alegre, sobre o governo do então prefeito Tarso Genro, obra que já ganhou uma edição argentina e outra francesa.


Maués, da Editora Fundação Perseu Abramo.

Maues

Sediada em uma ampla casa de dois andares – próxima à Nova Alexandria -, a Fundação Perseu Abramo publica um livro por mês. É pouco, se compararmos à vizinha (cerca de cinco mensais), e quase nada quando pensamos nos mais de 30 editados pelas grandes, como Record, Objetiva ou Cia. das Letras. “Os números não são importantes” , garante Maués, amapaense de Macapá, historiador formado pela USP e ex-assessor de imprensa do atual presidente do PT (e deputado federal) José Dirceu. “Temos um público que se identifica com o trabalho que realizamos.”

A primeira publicação da fundação foi Um Trabalhador da Notícia: Textos de Perseu Abramo (R$ 27), que vendeu até agora cerca de 1.500 cópias – mesma marca de Rememória (R$ 34), reunião de entrevistas editadas nos últimos dez anos pela revista Teoria e Debate sobre os movimentos sociais no Brasil. Para este mês está planejado o lançamento de Com Palmos Medida: Terra e Trabalho na Literatura Brasileira, uma co-edição com a Boitempo Editorial. Em agosto, será a vez de Dos Filhos Deste Solo: Mortos e Desaparecidos Durante o Regime Militar. Ambos dificilmente chegarão às livrarias por menos de R$ 30. O grande trunfo da editora é mesmo a coleção popular, cujo próximo lançamento será assinado por Marta Suplicy, Televisão e Democracia no Brasil. “Mais importante do que inventar best sellers é não trair os nossos ideais”, define Maués.

O grande desafio do mercado editorial na última década parece residir no fato de que, a cada temporada, torna-se necessário publicar mais livros para garantir a mesma vendagem. Atualmente, existem mais editoras do que livrarias no País, o que tem transformado as prateleiras das lojas em cenários para uma verdadeira guerra entre as distribuidoras. Batalha que a Fundação Perseu Abramo, pelo menos por enquanto, quer evitar.

* Gente que faz – Quem são os responsáveis pela nova geração editorial brasileira, reportagem especial da revista Carta Capital, ano IV, nº 102, de 21 de julho de 1999, p.20-5.

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