Esta questão foi recentemente discutida por dois dos mais importantes pensadores que se dedicam ao tema: o francês Roger Chartier e o italiano Umberto Eco.Chartier esteve em outubro no Brasil para lançar o livro História da leitura no mundo Ocidental (Editora Ática, 2 volumes, R$ 27,20 cada), organizado em conjunto com Gugliemo Cavallo. Eco, que esteve recentemente na Argentina, é autor, entre outros, dos livros A obra aberta e O nome da Rosa.

Veja abaixo o que eles disseram sobre o assunto.

Esta questão foi recentemente discutida por dois dos mais importantes pensadores que se dedicam ao tema: o francês Roger Chartier e o italiano Umberto Eco.Chartier esteve em outubro no Brasil para lançar o livro História da leitura no mundo Ocidental (Editora Ática, 2 volumes, R$ 27,20 cada), organizado em conjunto com Gugliemo Cavallo. Eco, que esteve recentemente na Argentina, é autor, entre outros, dos livros A obra aberta e O nome da Rosa.

Veja abaixo o que eles disseram sobre o assunto.

Roger Chartier: "Existe uma coisa que está ficando cada mais vez mais clara a respeito do computador: ele não representa a morte do livro. A tela é apenas uma espécie de novo suporte para os textos, assim como o foram os códices [o livro montado em cadernos]. Por isso eu a considero uma nova revolução. O que está sendo distribuído pelas redes eletrônicas são textos. Nunca o livro e a leitura estiveram tão vivos. Há apenas uma transformação frente aos meios clássicos de transmissão de textos. Enfim, a forma de leitura está mudando mais uma vez. E a revolução é profunda.

[…] Estamos dando um verdadeiro salto. Tivemos a tábua, o rolo, o códice, que durou séculos, e agora as telas. O sonho da biblioteca universal está perto de ser concretizado. Todos os textos escritos podem ser digitalizados. Não existe uma razão teórica que impeça essa biblioteca universal. E enquanto isso não acontece, temos bancos de dados eletrônicos, fragmentos, porções do conhecimento. Além disso, outro aspecto totalmente novo é a possibilidade de o leitor entrar dentro da escritura. Nem no rolo nem no códice o leitor podia participar do texto de um autor, no máximo ele podia escrever nas margens de uma folha. Agora ele pode se inserir na escritura, interagir, imprimir. Pode copiar um texto, fazer um novo texto, tirar dele um fragmento. É uma escritura em colaboração. E pode ter sua própria página. Por isso, estão discutindo novamente a questão dos direitos autorais. É preciso redefinir as regras.

[…] O que há é uma nova modalidade de apropriação do texto. Se antes o leitor era escravo e criador, agora esta escravidão está acabando por completo. A tela o libera. O leitor é um produtor. A imperfeição é que existem empresas multinacionais controlando a difusão dos textos. A liberdade textual é mais ampla, mas há monopólios, poderes.

[…] Temos essa tensão da liberação do texto e do leitor versus os monopólios. E temos a tensão da possibilidade de criação de um novo tipo de analfabetismo. É um desafio para todas as sociedades evitar essa perversão: o novo analfabeto, sem acesso aos meios eletrônicos e ao intercâmbio universal."

Entrevista a Cecilia Costa, do jornal O Globo, publicada no suplemento "Verso&Prosa" de 26/10/98



Umberto Eco:
"Os livros são como o martelo e a colher: depois de criados, não houve mais forma de melhorá-los. O mesmo ocorre com o espremedor de limão. Os objetos de leitura formam parte desses maravilhosos utensílios que a humanidade inventou e ainda nos vão acompanhar por muito tempo, para sempre. Foi dessa forma, com fina ironia, que o escritor e semiólogo italiano Umberto Eco falou em Buenos Aires, na quinta-feira, sobre o futuro do livro no próximo milênio. Eco defendeu a existência dos livros e afirmou que não há perigos suficientes para ameaçar a permanência deles no próximo século."

Umberto Eco faz ode à palavra impressa. O Estado de S. Paulo, 2 nov. 1998, p. D3.

Ainda Eco: "Eco explicou com clareza e exemplos cômicos o que pensa sobre o tal ‘fim do livro’. Para ele, os ‘livros de leitura’, aqueles que pegamos e lemos do início ao fim, vão permanecer para sempre, porque ‘ainda não inventaram nada melhor’. Já os ‘livros de consulta’ serão substituídos pelos hipertextos, mais eficientes, econômicos e – fundamental – menos espaçosos.
Então, ‘longa vida ao livro no próximo milênio’, disse entusiasmado Umberto Eco no encerramento da aula."

Eco nega o fim do livro. Folha de S. Paulo, 31 out. 1998, p. 4-3.

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