*Último artigo de Aloysio Biondi para o jornal Diário Popular

"O massacre da agricultura foi tão grande, que a área plantada no Brasil tem caído, ano após ano."

‘‘Ah, assim é demais. Culpar o governo até pela inflação provocada pelas geadas? Tem dó. É muita má vontade…’’ Não é não. Uma grande parte da carestia que o povo brasileiro vai enfrentar nos próximos meses poderia ser evitada, com freios na alta de preços. Como? É muito simples. Antes de o presidente Fernando Henrique e sua equipe chegarem ao poder, o governo tinha estoques reguladores (que levavam esse nome exatamente porque se destinavam a ‘‘regular’’ a oferta e a procura, ‘‘regulando’’, segurando também os preços), que era vendidos quando a produção caía por um motivo qualquer. Hoje, esses estoques não existem. Por que? Antes do governo FHC, o Brasil tinha uma política de agricultura e abastecimento, isto é, preocupada tanto em proteger o produtor como garantir preços razoáveis também para o consumidor. Como essa política funcionava? Quando havia grandes colheitas, e os preços desabavam, provocando prejuízos ao produtor, o governo comprava uma parte da produção (na verdade, milhões de toneladas), pagando um preço mínimo, destinado a cobrir as despesas do agricultor. Se, em algum ano seguinte, houvesse uma reviravolta, isto é, se a produção caísse e provocasse uma disparada de preços, o governo entrava no mercado, vendendo esses estoques para impedir que os preços passassem de determinados limites. Já a partir de 1995, o governo FHC cancelou totalmente essa política, arrasando os agricultores. Por que? A mesma desculpa utilizada para destruir a indústria brasileira: segundo FHC/Malan/FMI, não se devia ‘‘proteger’’ demais o produtor brasileiro, para forçá-lo a produzir de forma mais moderna, com custos mais baixos…

Uma desculpa, como você deve saber, totalmente mentirosa, porque o próprio presidente da República vive fazendo protestos, em discursos (só em discursos) contra a proteção que os países ricos dão a seus agricultores. O massacre da agricultura foi tão grande, que a área plantada no Brasil tem caído, ano após ano. Resultado: a produção tem sido insuficiente para a formação de estoques, mesmo pelos agricultores. Se você duvida, veja o que aconteceu com alguns produtos que estão com os preços disparando e vão subir muito para o consumidor, por falta de estoques:

Feijão — Houve grande produção no começo do ano, na chamada primeira safra (ou ‘‘das águas’’). O preço despencou, chegou a R$ 14,00 a saca de 60 quilo, ou algo como 22 centavos o quilo… Resultado: o produtor reduziu o plantio da chamada segunda safra (‘‘da seca’’). Agora, a geada faz estragos na 3ªsafra (ou ‘‘de inverno’’). Os estoques são insuficientes…

Álcool, açúcar
— No ano passado, o açúcar foi vendido no mercado mundial aos preços mais baixos dos últimos 35 anos, provocando imensa crise e desemprego na lavoura de cana. Em lugar de formar estoques, o governo estimulou ‘‘alguém’’ (quem?) a exportar o açúcar a preço baixo, com avanço de 75% nas vendas ao Exterior. Agora, não há estoques… E a geada queimou a cana.

Café — Também exportado maciçamente a baixo preço em 1999: 22 milhões de sacas contra 16 milhões tradicionais.

Leite — Produção nacional abalada por importações nos últimos anos.

 

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