A versão de Grammont sobre a criação da bandeira e da estrela do PT
“Levei a idéia ao Lula, mas a surpresa maior ficou para o dia do ato, uma passeata de mulheres com mais bandeiras, lembrando cenas do filme Red.”
A bandeira e o Domec*
Você acredita que a estrela e a bandeira do PT nasceram de uma brincadeira, na mesa de um bar, em São Bernardo? Em 1980, no final de uma cansativa reunião do PT, para organizar um ato contra a LSN (na Vila Euclides), Mário Serapicos, Augusto Portugal e eu, entre goles de Domec (naquela época só o grupo do ABCD Jornal bebia Domec), avaliando os detalhes do evento, sentimos a falta de algo diferente, aquele toque a mais. Uma bandeira! É isso. Um guardanapo, uma caneta e alguns rabiscos.
– Tem de ser vermelha, claro!
– Peraí. Tem de ser vermelha, branca e preta.
– Por quê? Questionou Marinho Proposta (chamado assim porque sempre tinha proposta pra tudo). Dos três, eu e Augusto éramos torcedores do São Paulo. Mário perdeu, mas em compensação, queria que ao centro da bandeira aparecessem a foice e o martelo. Bateu o pé.
– Uma estrela branca, no centro da bandeira, propus.
– Coisa de viado, alguém disse.
Quando expliquei que tinha lido num daqueles livros sebosos que circulavam no presídio Tiradentes, em 1971, que a estrela era o símbolo da juventude comunista da Albânia (vejam só!), todos toparam.
Como secretário-geral do PT, falei ao Expedito Soares, então presidente, e ele também topou. Decidimos que cada um dos 47 núcleos do partido (bons tempos), levaria uma bandeira e uma outra, de 15 metros quadrados, seria colocada nas arquibancadas do Vila Euclides.
Levei a idéia ao Lula, mas a surpresa maior ficou para o dia do ato, uma passeata de mulheres com mais bandeiras, lembrando cenas do filme Red.
Sabemos, porém, que esta história tem outras versões. Uma delas virou manchete de jornais, quando Lula, tentando explicar o vermelho, teria feito uma analogia com o sangue de Cristo. Pode ser.
Ou então, que a estrela nasceu, quando um operário olhou para o céu do ABC e viu uma estrela com um brilho diferente, como que indicando um caminho. Pode ser também. O Zé acha que viu o Perseu fazendo seus primeiros contornos. Quem sabe?
Hoje a bandeira não é mais tricolor. Por sugestão do Frei Betto, tiramos a cor preta (lembrava a bandeira sandinista) e, como ele mesmo enfatizou, “o vermelho representa a luta e o branco, a paz”. Perfeito, o PT luta pela paz.
Hélio Vargas (falecido e um dos pais do João Ferrador e do Sombra), ilustrador do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, fez os primeiros desenhos da estrela, que na época ainda tinha contornos retos, me perguntou: Por que ela tem cinco pontas e não quatro?
– Se tivesse três pontas, lembraria a Mercedes Benz. Se tivesse quatro, lembraria os brinquedos Estrela. Se tivesse seis, lembraria os judeus. Mas com cinco, lembra Lampião, Che Guevara, Juventude…, disse (a primeira) estrela do PT está na chácara Tara, perto de Peruíbe).
* Artigo publicado no boletim Linha Direta nº 258, em março de 1996