Centro de Documentação abrirá suas portas ao público no dia 1º
Centro sérgio Buarque de Holanda será aberto ao público a partir de 1º de outubro.
Centro de Documentação da FPA preserva a história do PT
Por Michelle Rusche
A inauguração do Centro Sérgio Buarque de Holanda – Documentação e Memória Política – significa um passo importante na concretização do Projeto Memória&História da Fundação Perseu Abramo que há quatro anos trabalha pela recuperação e preservação da memória do PT e pela história dos movimentos sociais do Brasil nos últimos trinta anos.
“Ao inaugurar o Centro, a Fundação Perseu Abramo contribui com o papel civilizatório da esquerda num país como o Brasil. Um país onde as classes trabalhadoras não encontram espaços onde fixar a memória de suas lutas”, afirma Hamilton Pereira, diretor da FPA.
Centro Sérgio Buarque
Foto: Sergio Mekler
O Centro Sérgio Buarque é composto pela documentação histórica PT Nacional (num primeiro momento das origens até 1987) organizada e catalogada para pesquisa, e conta com uma biblioteca de referência sobre o partido e assuntos correlatos (história dos movimentos sociais e da esquerda brasileiros, políticas públicas, etc.). Possui também coleções de objetos (como camisetas e buttons) e documentação audiovisual (fotos, vídeos, cartazes etc.). Ele produzirá também instrumentos de orientação à pesquisa da documentação, como catálogos e inventários.
“Ele não é propriamente um centro de pesquisa, mas uma instituição de referência para pesquisadores que desejam localizar informações sobre a história do PT e sobre o contexto social e político em que ela se desenvolveu, sejam eles profissionais (historiadores, sociólogos, cientistas políticos etc.) ou não (estudantes do ensino médio, jornalistas, militantes etc.). Acima de tudo, irá subsidiar a ação do partido sempre que esta dependa de informação histórica, como por exemplo para a localização de documentos relevantes, a produção de publicações comemorativas, o resgate da experiência acumulada em processos como as campanhas eleitorais”, explica Alexandre Fortes, coordenador do Projeto Memória.
A singularidade do Centro
A originalidade do Centro Sérgio Buarque de Holanda em relação a outros importantes centros de documentação do país é ser responsável pela recuperação do conjunto documental do PT. “Nós tratamos de uma instituição, o PT, viva, nova e estamos pensando nela como um todo. Estamos impedindo, desta forma, que a documentação do partido se transforme em uma coleção fragmentada, o que exigiria um trabalho de pesquisa muito mais árduo com resultados menos satisfatórios. O Centro estruturou-se pensando neste conjunto: como tornar acessíveis, além da documentação nacional, os acervos estaduais; como indicar possibilidades de pesquisa; como recuperar o que está perdido”, explica Maria Alice Vieira, coordenadora técnica do Projeto Memória.
Pela primeira vez na história dos partidos políticos do país observa-se esta iniciativa. “O Centro é a primeira instituição do gênero criada por um partido no país”, observa Alexandre Fortes. “Ele representa o compromisso do PT com a preservação da documentação histórica e com a garantia de acesso a ela por parte dos cidadãos. Longe de construir uma história oficialista e auto celebratória, como muitas vezes ocorreu com organizações de esquerda no passado, o PT pretende estimular a investigação aberta, crítica e plural da sua trajetória, como parte das lutas sociais e políticas do nosso país nas últimas décadas”, acrescenta ele.
Quando o pesquisador vem ao Centro ele tem acesso às informações básicas sobre o PT (cronologia, bibliografia, informações sobre Encontros Nacionais – quem participou, quais as teses apresentadas, quais resoluções aprovadas etc.). Isto é um importante ponto de partida para que se possa mergulhar no acervo sem ter que realizar inúmeros levantamentos para chegar a essas informações.
Além disso, o pesquisador poderá utilizar a Internet como “porta de entrada” ao acervo. De qualquer parte do mundo será possível pesquisar o banco de dados, saber o que existe sobre um determinado assunto antes mesmo de visitar o Centro pessoalmente.
“Oferecer esse acervo aos pesquisadores e estudiosos das diferentes disciplinas no ambiente acadêmico é importante para a reflexão, o debate, a análise e a socialização dessa experiência que sem dúvida é parte inseparável da lenta e contraditória construção de uma sociedade democrática no nosso país”, completa Hamilton Pereira.
A informatização
O Centro de Documentação vai funcionar em um andar do pequeno prédio construído em anexo à sede da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. As visitas devem ser agendadas com antecedência. Nele o pesquisador contará com profissionais para orientá-lo para a consulta ao arquivo e à biblioteca.
Haverá aparelhos de videocassete e som para a pesquisa audiovisual (filmes, programas, documentários, músicas, palestras etc). Mas o pesquisador deve vir portando caneta e muito papel, pois para garantir a “vida útil” do acervo, concessões para cópias de fitas e xerox de documentos somente serão feitas mediante autorização prévia.
Concebido informatizado, o Centro busca outro resultado importante: “Esta estrutura nos permite centralizar num banco de dados as referências de vários acervos, o que pretendemos fazer conforme sejam organizados nos estados”, afirma Maria Alice.
Onde tudo começou
A documentação institucional do Partido dos Trabalhadores encontrava-se até quatro anos atrás guardada em um porão e em duas pequenas salas, todos em condições insalubres, na antiga sede do Diretório Nacional do PT, à rua Conselheiro Nébias, em São Paulo. Isto não deixava de preocupar o partido, pois ali estava sendo perdida a memória de muitos anos de lutas, conquistas e fatos marcantes de sua história, porém o DN não tinha condições de organizar adequadamente aquela documentação.
Foi então que a Fundação Perseu Abramo, criada em 1997, definiu como uma de suas linhas prioritárias o Projeto Memória&História, responsável por resgatar a memória do PT. A missão conferida ao projeto consistia em organizar os documentos do partido, gerar depoimentos de pessoas que tiveram um papel importante nesta história e promover eventos para a reflexão sobre o papel do PT.
Até que a documentação fosse organizada e deixada em boas condições, como será vista no Centro de Documentação, levou tempo. “A primeira etapa do processo de recuperação da documentação consistia em retirar as caixas do porão, levá-las para a antiga sede da FPA, na avenida Dr. Arnaldo, em São Paulo; identificar o que era de cada secretaria, dossiês e documentos dos Encontros Nacionais; separar publicações, ou seja, foi realizado um trabalho de avaliação”, conta Maria Alice.
O trabalho foi executado por uma equipe orientada pelos coordenadores do projeto e treinada para fazer a triagem do material. “Não havia classificação e nenhum grau de organização. Os diretórios e as secretarias tiravam o material da gaveta e os guardavam dentro de caixas no porão”, conta Maurício Fornasiari, um dos pesquisadores do centro que, juntamente com mais cinco pessoas, é responsável pela recuperação, classificação e higienização da documentação.
tratando a documentação na FPA;
“Num segundo momento – continua a coordenadora técnica -, separadas as publicações do restante do material, tivemos que analisar a documentação internamente e resgatar o que estava faltando: materiais que permaneciam nas secretarias e documentos que intuíamos estar em mãos de antigos dirigentes. Então, nossa próxima etapa será localizar os dirigentes do período que estamos tratando inicialmente, de 1980 a 1987. Após fazer este resgate, organizaremos um inventário, ou seja, uma descrição do conjunto desse acervo”.
Tatiana Carlotti e Maurício
Fotos: Sergio Mekler
Organizados, os mais de 100 mil documentos, passaram por um processo de higienização. A técnica consiste em utilizar uma trincha, espécie de escova grande, para tirar, com muito cuidado, a poeira do material. Os técnicos utilizam máscaras de proteção e luvas, o que garante a preservação da saúde do trabalhador e também ajuda a conservar os objetos.
Limpos, papéis de diversos tipos, livros, fotos, vídeos etc, são acondicionados cada um de forma específica. Por exemplo, as fotos são guardadas em “pastas neutras” transparentes e dispostas em pastas suspensas separadas por assunto dentro de uma sala climatizada; os livros estão organizados nas prateleiras do armário deslizante; e assim por diante. Todo material precisa ser organizado de forma adequada tanto para o armazenamento como para a consulta.
O projeto Memória&História vem trabalhando paralelamente na catalogação desse material no banco de dados. Isto para tornar suas referências disponíveis para a consulta.
O Trabalho do Centro
O Projeto Memória estará envolvido, após a inauguração do Centro de Documentação, em outras atividades, priorizando ainda a continuação do trabalho. “A preservação e criação de condições de acesso à documentação institucional do PT nacional se constitui apenas no primeiro passo. O mesmo precisa ainda ser realizado em relação à documentação dos diretórios estaduais e, posteriormente, municipais (que, salvo raras exceções, se encontra abandonada ou dispersa)”, conta Alexandre Fortes.
Dentro deste trabalho, o projeto esforça-se para recuperar outros documentos, principalmente audiovisuais, ainda dispersos, em decorrência da ausência de política de preservação. “Resgatar este material é muito importante porque recupera a linguagem com a qual o partido se comunicou desde o início”, explica Maria Alice.
Paralelamente a este trabalho, pretende-se localizar acervos pessoais constituídos pela documentação mantida em casa por muitos militantes históricos do partido, e trabalhar no sentido de assegurar a sua preservação e o acesso a ela, tanto no local em que foi gerada, quanto no plano nacional, por meio de sua integração ao sistema de referência e/ou de microfilmagem. Além disso, há o projeto de história oral do partido e sua base social, em âmbito nacional.
“Com o Centro Sérgio Buarque de Holanda desejamos abrir um processo de recuperação e acompanhamento do processo político do país e da ação do PT. O objetivo é recuperar um sem-número de experiências significativas dessa aventura que foi construir ao longo das duas últimas décadas do século XX um partido de massas e socialista no Brasil”, conclui Hamilton Pereira.
“Assim como ocorre com a documentação já organizada, todas as informações sobre os documentos localizados ou gerados (como as entrevistas), após serem lançadas num banco de dados, poderão ser acessadas pela internet, por meio da página da Fundação Perseu Abramo, na qual estarão integrados a um banco de imagens e a uma biblioteca virtual”, afirma Alexandre Fortes.
O Projeto Memória trabalhará em parceria com um amplo leque de instituições afins, de acordo com as particularidades de cada projeto ou de cada estado, tendo como referência fundamental o convênio estabelecido pelo projeto desde a sua criação com o Arquivo Edgar Leuenroth, da Unicamp.
Atendimento
Segunda à sexta-feira, das 10 às 17 horas
Informações: (011) 5571-4299 ramal 52 e 54
e-mail: [email protected]