Para novo presidente da Fundação Perseu Abramo o principal desafio será sintonizar a agenda da instituição com a agenda política do PT e do país.

Reunido no último fim de semana, dias 15 e 16 de março, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores aprovou, por unanimidade, a nova composição dos órgãos constitutivos da Fundação Perseu Abramo. Hamilton Pereira, que já integrava a Diretoria, assume a presidência no lugar de Luiz Dulci, nomeado secretário-geral da República; Ricardo de Azevedo assume a vice-presidência. Passam também a compor a Diretoria Flávio Jorge e Selma Rocha, que integravam o Conselho Curador, organismo que recebe agora como novos membros Luiz Dulci e Zilah Abramo, vice-presidente desde a criação da Fundação.

Para Hamilton Pereira, "a grande expectativa que o PT e o novo governo representam para diferentes movimentos e partidos em todo o mundo reflete-se obrigatoriamente nas novas tarefas da Fundação Perseu Abramo".

Confira a entrevista:

Qual o papel da Fundação Perseu Abramo no novo cenário político que se estabelece após a eleição de Lula para presidente?

Pensar o Brasil. Contribuir como um dos centros de elaboração, debate e difusão de propostas para o novo Projeto Nacional. As esquerdas brasileiras, no último quarto de século, focaram o debate em torno da questão social e da questão democrática. Hoje, quando assumimos a condução do governo federal a questão nacional nos cobra uma elaboração muito mais exigente, mais profunda. Impõe-se, portanto, para o PT e para a sua Fundação um esforço teórico e político para responder de maneira satisfatória esse grande desafio. Em termos práticos, esse esforço significa sintonizar a agenda da Fundação com a agenda política do PT e do país, guardando a necessária autonomia que lhe permita, sem deixar de ser solidária, exercer seu papel analítico com relação ao nosso governo.

Como cada projeto da FPA deve enfrentar esse novo momento? Pensa-se na criação de novos projetos?

O Planejamento Estratégico da Fundação para o próximo ano e meio deverá responder à necessidade de redimensionar e, em alguns casos, redefinir os nossos projetos. O Projeto Reflexão Ideológica reorganizando sua temática, como disse antes, sintonizando-a com a agenda do PT e do país. Sem se limitar, naturalmente às questões conjunturais; sem se afastar de sua perspectiva do debate político-cultural e da marca de pluralidade que nos orientou desde que nascemos. A Editora, que já ultrapassou os setenta títulos publicados, debatendo o novo projeto editorial sugerido pelo companheiro Eugênio Bucci. O NOP iniciando o planejamento da pesquisa sobre Preconceito e Discriminação Racial no Brasil, prevista para este ano. O Centro Sérgio Buarque de Holanda prosseguindo com a Coleção História do Povo Brasileiro, já no sexto volume, assessorando o PT na organização do sistema de documentação e acervos do partido e abrindo a coleção da História do PT nos estados. O Projeto de Educação a Distância, oferecendo aos militantes do país e movimentos sociais novos cursos sobre a realidade brasileira, o partido e sua ação transformadora. Por fim, lembrando que a revista Teoria e Debate completou quinze anos, fato raro na esquerda brasileira, está na agenda da Fundação a discussão sobre as perspectivas da nossa publicação, o seu projeto e o seu alcance nas novas circunstâncias. Um fato concreto resultante da vitória do Lula e das novas condições do PT e da Fundação é o aumento da demanda nas nossas relações internacionais. A grande expectativa que o PT e o novo governo representam para diferentes movimentos e partidos em todo o mundo reflete-se obrigatoriamente nas novas tarefas da Fundação Perseu Abramo.

Você tem transmitido a preocupação da Fundação em ampliar sua atuação nacional. Quais são as dificuldades e como superá-las?

A presença nacional da Fundação se expressou, desde o início do nosso trabalho, por meio de iniciativas como os seminários em torno do que o professor Antonio Candido batizou de “Pensamento Radical”, estudos da obra de importantes estudiosos do Brasil, como Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Mário Pedrosa, Josué de Castro, cada um deles realizado em uma capital do país. As conferências da Amazônia, duas já realizadas em Belém e Macapá e a terceira prevista para este ano, em Rio Branco. Essas atividades sempre foram realizadas em parceria com universidades, movimentos sociais, partidos e governos estaduais. Consolidar essa presença nacional é um objetivo importante da Fundação nesse novo quadro em que nossas relações com diferentes organismos da sociedade e setores amplos da intelectualidade, em diferentes regiões do país, torna-se indispensável na nova etapa do debate político-cultural do Brasil.

A realização do seminário “Novos Espaços Democráticos”, com a participação de autoridades espanholas, a ser realizado em abril, em Brasília, inaugura uma nova fase de intercâmbios internacionais?

Desejo que sim. O seminário será realizado pela Fundação e pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social coordenado pelo ministro Tarso Genro. Busca abrir um espaço de diálogo entre a experiência espanhola de Moncloa e a experiência que iniciamos com o nosso governo. Estarão conosco três personalidades da Espanha Jaime Montalvo Correa, presidente do Conselho Econômico e Social, Antonio Gutierrez Vegara, ex-secretário das Comissiones Obreras e Francisco Fernández Marugán, deputado ao Parlamento, que participaram ativamente da transição lá, e com a presença do embaixador José Coderch. Entre os brasileiros, contaremos com a participação do ministro Tarso Genro, do presidente do PT José Genoíno, do líder do governo Aldo Rebelo, do prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas e da professora Maria Victoria Benevides A expectativa da Fundação é que ofereçamos com este debate uma importante contribuição à sociedade brasileira e ao nosso governo no sentido de explorarmos alternativas geradoras de direitos novos e, sobretudo, de novas possibilidades de participação política que recuperem a capacidade de coesão dos laços da sociedade brasileira em torno de um novo projeto de país.

 

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