Entrevista com Denise Paraná sobre o filme dedicado a biografia de Lula.

Entrevista com Denise Paraná

Quando surgiu a idéia de realizar a adaptação do livro para cinema e TV?

Surgiu em 1992, quando realizei as primeiras entrevistas com a família Silva, a família de Lula. Fiquei impressionadíssima com o que ouvia: tudo era muito “cinematográfico”. A vida dos Silva é o retrato mais bem acabado do Brasil.

Você pode explicar melhor?

Eu sempre brincava que a vida deles parecia um roteiro mal redigido, pois tudo estava tão bem encaixado que nem parecia existir na vida real. Silva, por exemplo, é o nome mais brasileiro que há. Quando, na década de 40, milhares de nordestinos migraram para a região Sudeste, lá estava a família Silva, cruzando o Brasil num pau-de-arara. Ao chegarem aqui, assumiram o destino e as profissões de milhares de outros nordestinos: morando na periferia da Grande São Paulo, os filhos tornaram-se operários, as filhas empregadas domésticas. Quando houve um golpe militar, lá estava o irmão de Lula, conhecido como Frei Chico, preso e torturado por pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. Eu poderia dar mais centenas de exemplos de como as questões nacionais têm eco na família de Lula.

Vai ser um filme político?
Não, absolutamente, não vai ser um filme nitidamente político. Nosso recorte cronológico é o seguinte: começa em 1945, a data do nascimento de Lula e termina em 1980. Ou seja, começa no nascimento físico de Lula e termina no seu nascimento como personagem histórico. Queremos mostrar a formação do Lula, suas experiências humanas. As questões políticas partidárias ficam de fora. Nosso objetivo é tratar das questões essenciais da vida sobre as quais nós nos debatemos. Vamos falar sobre sentimentos que são universais, que independem de classe social. Acredito que muita gente vai se identificar com os personagens do filme, ainda que não seja brasileira e pertença a uma classe social mais elevada.

Por que você falou “ainda que não seja brasileira”? O filme vai ser exibido no exterior? Será um projeto internacional?

Sim, a idéia é exibir também no exterior. Nosso projeto é realizar um longa-metragem para cinema, mas que também será veiculado no formato de TV em até cinco capítulos nas TVs de países europeus como a França, por exemplo.

Você já havia recebido propostas anteriores para adaptar o livro para o cinema? Por que somente agora decidiu aceitar e quem vai produzir o filme?

Quem vai produzir o filme é Luiz Carlos Barreto, o maior produtor nacional de cinema. É verdade que eu já havia recebido propostas anteriores, inclusive de produtores estrangeiros. Mas acredito que agora é a hora certa para realizar esse filme. E realizar o filme aqui no Brasil, com o Luiz Carlos e a Lucy Barreto, é garantia de que o trabalho será muito bem realizado. Estou muito feliz, acredito que não poderia ser melhor.

Qual vai ser sua participação no filme?

Estou escrevendo o roteiro e acompanharei toda a realização do projeto como assistente de direção.

Você sabe o orçamento do filme e da onde virão os recursos para realizá-lo?

O orçamento está estimado em mais de três milhões de reais. E os recursos serão captados apenas através de empresas privadas, não serão utilizadas leis de incentivos fiscais, já que o personagem em questão é o Presidente do Brasil. Sei que Luiz Carlos Barreto está negociando também recursos no exterior.

Já foram escolhidos o diretor e os atores?Você pode citar alguns nomes?

Barreto quer fazer um filme de produtor, para evitar desvios e manter a concepção original. O diretor ainda não foi escolhido. Para a trilha sonora devem ser convidados Chico Buarque ou Adriana Calcanhotto. Quanto aos atores, Fernanda Montenegro deve ser convidada por Barreto para atuar no papel da mãe do Lula, Dona Lindu. Será um papel essencial. A história toda, esta saga familiar, será contada do ponto de vista de Dona Lindu

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