Vinicius Brant: Havia um preconceito da esquerda – o movimento estudantil era constituído por tendências de esquerda – contra essa nova classe operária que estava aparecendo. Muita gente achava que, pelo fato de serem reconhecidos pelo poder, eles seriam cúmplices desse poder. Havia uma desconfiança com o novo e eu me lembro perfeitamente que, em uma dessas reuniões, a esquerda achava que o Lula era pelego porque ele não era da esquerda organizada oficialmente, com todas aquelas coisas leninistas que a gente ficava escrevendo.

O movimento estava ocorrendo apesar das leis, apesar da esquerda, e, de repente, a esquerda achava que era um absurdo que alguém que não fosse membro da sua tendência tivesse um papel de vanguarda.

Eu me lembro de ter dito numa dessas reuniões: “O próprio Marx, quando rompeu com os socialistas oficiais e foi fundar o partido Comunista, foi-se juntar ao movimento real do proletariado, foi por aí que surgiu o Manifesto. Eu não vejo nenhuma dificuldade em me juntar a esse movimento real e não estou aqui como intelectual e muito menos como intelectual orgânico, mas como alguém que está lutando pela mesma causa.”

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