Depoimento – PT: 20 anos de cidadania
e Lula (Foto: Juca Martins/ Pulsar)
Toda vez em que penso na minha vida política, penso no Partido dos Trabalhadores, que foi a minha primeira e única experiência de vida partidária.
e Lula (Foto: Juca Martins/ Pulsar)
Toda vez em que penso na minha vida política, penso no Partido dos Trabalhadores, que foi a minha primeira e única experiência de vida partidária.
Ajudei a fundar o PT com o objetivo de criar uma alternativa concreta de cidadania para milhões de trabalhadores brasileiros. E para mudar o Brasil. Fiz isso juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, lideranças rurais e religiosas.
Lembro do nosso trabalho há vinte anos, fazendo às vezes em um só domingo oito comícios em bairros diferentes. Reunindo o pessoal nas praças, nas portas de fábrica, e explicando porque era importante criar um partido nosso, de trabalhadores. Parecia uma coisa distante. Muita gente do povo pensava que partido era coisa de bacana, de quem tem dinheiro, dos donos do poder. Pensava que só podia participar como "massa de manobra". Não acreditava que tinha condições de criar um partido próprio. Isso mudou no Brasil com o PT.
Milhões de trabalhadores passaram a fazer política com autonomia no nosso país. Fazem trabalho de base, participam dos movimentos populares, lutam pelos interesses do povo. São candidatos, vencem eleições e exercem cargos legislativos e executivos. Governam centenas de cidades e alguns Estados brasileiros. Ganharam cidadania.
Mudaram as suas vidas pessoais também.
Quando eu era operário, e não tinha consciência política, chegava em casa, por exemplo, às duas horas da madrugada e achava que Marisa, minha mulher, tinha de levantar para esquentar o jantar para mim. Aquela coisa machista, autoritária. Depois do PT, isso acabou. Marisa também participa politicamente, faz trabalhos, organiza reuniões. Se eu chegasse de madrugada com aquela conversa de antes, ela certamente diria: "vá pro fogão esquentar sua comida…".
Com participação política consciente, a pessoa dá um salto de qualidade na vida. A relação entre as pessoas muda, dá um salto também. É um crescimento humano. E foi isso que aconteceu comigo, com Marisa, e aconteceu também com milhões de trabalhadores, com milhões de pessoas neste país. Tenho orgulho de o PT ter contribuído muito nesse processo.
Outra coisa muito boa no PT é que o partido quebrou a lógica dos partidos tradicionais. Superou aquela idéia de "vanguarda", de formar politicamente quadros de fora da classe trabalhadora para colocá-los na produção. O PT, desde o seu surgimento, faz o contrário: leva os trabalhadores a participar conscientemente da política. E participar com democracia, com discussões, debates, com vida política interna.
Lembro também de uma conversa de dois deputados conservadores que eu ouvi uma vez em Brasília, quando também era deputado. Eles falavam baixinho sobre uma mudança, que lhes parecia desagradável, provocada pela existência do PT. Diziam que depois do surgimento do nosso partido tinha ficado mais difícil e mais caro disputar eleição. Agora, tinham que gastar muito mais dinheiro para fazer propaganda e enfrentar as campanhas petistas. Ficara mais difícil enganar o povo.
O PT é hoje a mais importante alternativa de poder no Brasil. Um partido que tem e sempre teve compromissos sociais. Que desde a sua origem surpreendeu historicamente – e continua surpreendendo. Nasceu das lutas sindicais e trouxe – e continua trazendo – trabalhadores para a vida política do Brasil. E é na luta política que se decide o poder e o destino da sociedade.
Muitas vezes me pergunto o que seria deste país se o PT não existisse.
Certamente grande parte das elites seria ainda mais cruel em sua dominação. E certamente o povo teria menos esperança de transformar radicalmente as condições de vida no Brasil.
Nestes 20 anos de luta, o PT amadureceu muito. Precisa agora aprimorar suas políticas e reforçar suas organizações de base. Oferecer inclusive alternativas para os excluídos da sociedade, que muitas vezes buscam saídas fáceis diante do aumento da miséria e do desgoverno. Trabalhar a própria imagem junto aos setores sociais que estão se desiludindo cada vez mais com os governos das elites, mas ainda têm preconceito contra as alternativas dos trabalhadores para o nosso país. Desenvolver políticas de alianças que fortaleçam o campo popular, sem cair na promiscuidade política.
Se o PT fizer isso, mobilizando e organizando nossos milhões de apoiadores, o Século XXI começará com o nosso partido governando as principais cidades brasileiras – e o próprio Brasil.
* Luiz Inácio Lula da Silva, na época da fundação do PT era Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema; hoje, Presidente de Honra do Partido dos Trabalhadores e membro do Conselho Consultivo do Instituto Cidadania.