O PT entra em seus 20 anos sob um misto de desafios, ameaças e esperanças. Após um longo período de isolamento político e hesitações entre mudanças democráticas maduras e viáveis – e relativamente distantes objetivos finais, as forças de oposição olham, no entanto, com uma confiança nova e bem fundada; sob a necessária visão de um modelo de desenvolvimento diferente e soberano; e a busca de alternativas de superação das crises profundas – social, política e moral – que ensombrecem a vida de nosso povo.

E há razões para isso. O ano findo abalou a arrogância aberrante do Governo central com o fracasso do Plano Real – a bandeira-chave de toda a sua gestão anterior. E com a flagrante evidência da alienação obsessiva do patrimônio nacional, acumulado em todo um século de lutas populares; da privatização do Estado e entrega do comando da economia a grandes bancos e capitais externos; da sucessão de atentados ao Estado de Direito; e da redução crescente do modelo mutilado de democracia tradicionalmente vigente em nosso país.

Seu preço são a multiplicação da dívida pública – hoje cinco vezes maior que há cinco anos atrás; a estagnação da economia nas duas décadas perdidas do fim do século; o agravamento das seqüelas do autoritarismo oficial, sob um aparente regime de transição. Em síntese, a ampliação constante da exclusão social. Somos, segundo a ONU, o quarto país do mundo quanto ao desemprego urbano e o campeão do planeta quanto à desigualdade social. Em jogo, pois, neste aniversário, apesar da retórica falsa oficial, o direito de viver e trabalhar do nosso povo, a afirmação da cidadania e da democracia em nosso país.

Abrem-se, assim, possibilidades e responsabilidades novas para os partidos políticos, instituições da sociedade civil e comunidades sociais que anseiam por uma sociedade melhor.

Estão elas – e o PT entre elas – à altura dessas responsabilidades?

A meu ver, ainda não. Começamos, sim, a abrir espaços para a superação de velhos tabus imediatistas e paralisantes que – por purismo ideológico ou pragmatismo concorrencial – abrem fossos nas relações nos vários níveis do Poder do Estado; entre o nacionalismo impregnado de sentimento pátrio e a democracia; entre o estímulo às divisões e confrontos internos em nossas instituições e a luta aberta de opiniões soldadas ao respeito sincero e à validade (como leis que são) das decisões coletivas majoritárias. Como mostram Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Acre e Amapá. E como procura lembrar o recente 2º Congresso Nacional do PT.

É, ainda, entretanto, apenas um esboço de viragem. Como fonte de inspiração, ainda e sempre, as velhas utopias seculares, com suas sugestões inovadoras. E entre elas – e já que a ciência nada mais trouxe de melhor à visão harmônica do mundo e da História; e uma vez superados os vícios e as ausências nascidos da carência de cultura teórica, humanismo e visão fiel das realidades, e, sobretudo a recusa à presença criadora do povo na cena política – por que não o Socialismo, que, entre suas conquistas e tropeços iniciais, alenta, há já 150 anos, o sonho da criação e felicidade das novas gerações ?

*Apolonio de Carvalho, militante político, participou da Guerra Civil Espanhola e da Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial; no PT desempenhou vários cargos em instâncias diversas e continua sendo ardoroso militante.

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